Estratégia de Greca é desastre humanitário e financeiro

Leitos extras criados com fechamento das UPAs devem se esgotar antes do fim de março

Nesta terça-feira, dia 9 de março, a Secretaria Municipal de Saúde apresentou o plano para enfrentar o momento mais grave da pandemia em Curitiba: continuar a abrir novos leitos. É o mesmo que a prefeitura tem feito desde o início da pandemia, mas dados mostram que é uma aposta desastrosa tanto para a população quanto para a saúde financeira da cidade.

Desde o início de fevereiro Curitiba abriu 94 novos leitos Covid-19 enquanto a fila de pessoas com a doença que estão internadas ou aguardam leitos ganhou 547 pessoas a mais. Com a transformação das UPAs em hospitais, Curitiba deve abrir em torno de 350 leitos extras, dos quais 120 de UTI. Isso representa um aumento de quase 30% no total disponível.

Essas novas vagas, porém atendem pouco mais que o déficit de leitos atual e devem se esgotar em menos de 15 dias se o número de casos e internações não parar de subir. Os leitos novos, porém, não devem segurar o aumento no número de óbitos.

Uma projeção simples feita pelo Plural aponta que o número de mortes a cada sete dias, que hoje está 115, pode dobrar em 15 dias. Ou seja, seriam 300 mortes a mais do que tivemos nos últimos 15 dias.

Trata-se também de uma estratégia cara. Segundo dados do Ministério da Saúde, o custo médio por internação no SUS desde o início da pandemia aumentou drasticamente. Foi de R$ 2.039,00 em 2019 para R$ 2.734,00 em 2020.

Se considerarmos o custo médio por internação só de março a dezembro de 2020, quando já tínhamos vítimas da doença entre os curitibanos, o aumento foi ainda maior, para R$ 2.932,00. Os dados do SUS também mostram que o valor das internações aumentou durante todo o ano de 2020 e terminou dezembro em R$ 3.273.

Ainda segundo o Datasus, Curitiba teve o valor paciente/dia em UTI entre as capitais em 2020 comparado com 2019. Dados de dezembro de 2020 mostram na cidade o custo por paciente, por dia nas UTIs SUS em 2020 ficou em R$ 1.099, 98% maior que os R$ 569 registrados em dezembro de 2019. Foi também a capital com o segundo maior aumento no valor paciente/dia em UTI no período.

Ao mesmo tempo, a cidade teve um aumento de 10 pontos percentuais na mortalidade de pacientes internados em UTIs SUS.

Profissionais da saúde ouvidos pelo Plural avaliaram que as novas medidas são inadequadas e não representam um real enfrentamento da doença, uma vez que pouco contribuem para redução de casos. Abrir leitos, um epidemiologista explicou, é um paliativo que prolonga o colapso, desgasta ainda mais as equipes de saúde e não reduz o número de mortes que o vírus irá causar nas próximas semanas.

Dados da própria Secretaria Municipal da Saúde (SMS) mostram os momentos em que houve aumento no número de leitos de UTI não foram seguidos por reduções no número de internação. Os dados sistematizados pelo Plural podem ser vistos aqui.

A mudança de bandeira, no entanto, teve sim impacto nos números da pandemia. Os dados mostram que período de manutenção do alerta laranja foram seguidos por reduções nas mortes e nas internações em hospitais por Covid-19.

Essa redução, no entanto, foi discreta demais para desafogar os hospitais. Só a imposição de restrições mais amplas a circulação de pessoas poderiam efetivamente efetivamente reduzir drasticamente os casos graves de Covid-19. Da forma como estão, as limitações impostas atualmente apenas adiam a escalada nas internações e óbitos.

Resta saber até onde poderemos ir nesse movimento até que todos os recursos disponíveis se esgotem.

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