Enquanto governo comemora engordas no Litoral, estradas seguem interditadas

Rodovias estão em obras desde novembro do ano passado; na engorda, problema é que areia parece fora do padrão adequado

As obras de contenção nas encostas das rodovias que levam ao Litoral paranaense seguem a passos lentos. Desde novembro, as BRs 376 e 277 enfrentam uma série de deslizamentos de terra que prejudicaram a condição das estradas e o tráfego no local. 

Apesar disso, o governo do Paraná comemora as obras de engorda das orlas de Matinhos e Guaratuba, que, no entanto, têm seus projetos contestados por ambientalistas, pesquisadores e pelo Ministério Público do Paraná (MPPR). 

Estradas interditadas

Faz três meses que as rodovias 277 e 376 têm trechos interditados devido aos deslizamentos de terra na região. Desde então, obras de contenção e recuperação das pistas vêm sendo realizadas, mas com morosidade. 

Na BR-277, as obras tiveram início no dia 19 de dezembro. Atualmente, o Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná (DER/PR) é responsável pelos quilômetros 39 e 41, enquanto o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) repara o trecho do quilômetro 42. 

Na segunda-feira (9), o DER/PR começou as obras de contenção de forma emergencial. A previsão da pasta, conforme informou ao Plural, é concluir essa etapa até 25 de fevereiro, permitindo a liberação de todas as faixas entre os quilômetros 39 e 41. Após isso, o DER/PR pretende iniciar as obras de contenção definitiva, com instalação de grampos e telas nos taludes, sem os bloqueios de tráfego.

Já em relação ao km 42, as obras tiveram início em 29 de novembro. Conforme o DNIT, agora estão sendo feitas a perfuração do talude, a instalação de telas e colocação de concreto. A previsão de liberação de uma faixa no sentido litoral é até 16 de fevereiro, enquanto a liberação total da via (duas faixas) é até 31 de março.

Segundo a Polícia Rodoviária Federal do Paraná (PRF-PR), às 18h desta segunda-feira (16), a BR-277 registrava cinco quilômetros de congestionamento sentido litoral (do km 47 ao 42) e 12 quilômetros de fila sentido Curitiba (do km 30 ao 42).

De acordo com a Arteris Litoral Sul, a BR-376 permanece interditada parcialmente no km 668. A concessionária disse ao Plural que as principais obras vão ocorrer até o final de janeiro com a liberação de mais uma faixa para o tráfego de veículos. Atualmente, há três faixas liberadas, uma no sentido Florianópolis e outra em direção a Curitiba. A previsão da Arteris é que a liberação total da rodovia seja feita no segundo semestre de 2023.

Às 18h20 desta segunda, eram dez quilômetros de fila sentido Curitiba (do km 678 ao 668) e dois no sentido Santa Catarina (do km 666 ao 668).

Desde o dia 28 de novembro, quando ocorreu o desabamento que matou duas pessoas e soterrou 16 veículos na BR-376, Ratinho Jr. visitou o local apenas uma vez. Segundo a agenda oficial do governador, em 1º de dezembro ele visitou a operação de resgate na BR-376 durante 1 hora e meia. 

Ratinho Jr. voltou à Matinhos em outras duas ocasiões: em 17 de dezembro e 6 de janeiro para dar início à Operação Verão e checar o programa Verão Maior Paraná (que levou atrações ao Litoral durante o feriado de fim de ano), respectivamente.

Na agenda do governador, no entanto, não consta o meio de transporte utilizado por Ratinho para ir até o local.

Obras de engorda da praia

Obras de engorda da praia de Matinhos. Foto: Ari Dias/AEN

A engorda da praia, que na prática é o alargamento da faixa de areia com obras de aterramento e colocação de areia dragada de outro local, é uma das etapas do projeto do governo do estado de “recuperar a orla de Matinhos”. A obra, que foi finalizada em 19 de outubro, resultou no alargamento em até 100 metros da praia em uma extensão de 6,3 quilômetros (do Canal da Avenida Paraná até o Balneário Flórida) e custou R$ 314,9 milhões.

Porém, a areia colocada pelo governo do Paraná no trabalho da engorda da praia de Caiobá durou apenas 12 dias. Com a primeira ressaca após a finalização das obras, o mar revolto levou boa parte da areia.

Na última quarta-feira (11), Ratinho Jr. disse nas redes sociais que “agora é a vez da Praia de Guaratuba ter a sua faixa de areia ampliada”. “Este é o novo litoral do Paraná!”, comemorou o governador.

Desde que foi anunciada, a engorda é questionada por ambientalistas e pelo Ministério Público do Paraná (MPPR) pelo grande impacto ambiental, social e paisagístico que as intervenções causarão, além de não contar com uma licença ambiental. O governo utiliza uma licença de 2009, quando a obra prevista na época era completamente diferente. 

O governo do Paraná também ignorou recomendações do Guia de Diretrizes de Prevenção e Proteção à Erosão Costeira, planejado para dar subsídios à tomada de decisões dos responsáveis pelas obras costeiras. O documento sugere que intervenções em linhas de costa com colocação de “próteses”, ou obras rígidas, como o caso de engordas, devem ser evitadas, pois resultam em problemas futuros.

O Ministério Público entrou com um pedido para que a engorda fosse interrompida, mas o juiz Flávio Antônio da Cruz, da 11ª Vara Federal de Curitiba, que levou onze meses para analisar o caso, decidiu que no momento de seu despacho já era tarde demais para interromper os trabalhos sem danos maiores para os recursos financeiros do estado.

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