Em meio às ruínas, Café Mafalda já começa a se reerguer

Incendiado, bistrô tem 22 anos de história; amigos se mobilizam e fazem vaquinhas pela reconstrução

Passa um pouco das três da tarde quando a repórter fotográfica Tami Taketani chega ao número 75 da Tibagi. Um dia antes, o lugar abrigava um bistrô charmoso; agora são só cinzas e escombros. Na noite de segunda-feira, sem que ninguém estivesse lá para defender a casa, o Café Mafalda pegou fogo. Um incêndio que durou horas e que destruiu quase tudo que existia ali dentro – quase toda a parte física do Mafalda, diz Ieda Godoy, uma das sócias, que recebe Tami na entrada.

Ieda deixa Tami à vontade para fazer as fotos e registrar o tamanho do estrago: as grades de ferro que formavam um escrito foram carbonizadas; o vaso sobre a mesa resistiu mesmo com as flores secas e mortas pela fumaça; o chão está todo coberto de destroços e de uma camada de cinzas. Difícil que alguém vá se manter otimista nesse cenário, mas Ieda não para. Ela diz a Tami que agora vai fazer uma entrevista. Outra repórter? Não, uma entrevista com uma candidata a emprego.

Fotos: Tami Taketani/Plural

A cena parece surreal, mas a garota chega e conversa com Ieda em meio ao caos. Depois de algumas perguntas, as duas se acertam e a menina está contratada. Para algum dos outros restaurantes de Ieda? Não, para o próprio Mafalda. Afinal, como diz ela, o que foi destruído pelo fogo é apenas a parte física do lugar – o espírito permanece vivo, e ela garante que o lugar vai renascer. (Certo que a entrevistada ter perguntado, naquelas circunstâncias, se o Mafalda estava com o wifi funcionando parece um otimismo um pouco excessivo.)

Enquanto Ieda trabalha do lado de dentro, lá fora também há gente se mexendo para que o Mafalda reabra o mais rápido possível. Em menos de 24 horas, surgiram três vaquinhas na Internet para arrecadar fundos para uma reforma. Só uma foi criada pelos sócios, as outras partiram de amigos, fãs e frequentadores – partiram das pessoas que compartilham do espírito do local.

Fotos: Tami Taketani/Plural

“O que me motiva é a história do Mafalda ser tão bonita, tão legal, tão sincera e tão antiga”, diz Ieda, que apesar do otimismo, também acaba caindo no choro em outra entrevista, dessa vez para uma repórter da Band TV. “Que coisa doida. Teve pandemia, depois da pandemia o Mafalda foi saqueado, e agora isso”, diz ela. Mas com vírus, roubos e incêndios, já são 22 anos de história, desde que o café passou a funcionar, primeiro na XV, pertinho da Reitoria, depois na Tibagi.

O tal espírito tem a ver com muita coisa. Tem a ver com a reunião de artistas locais, estudantes e professores universitários que sempre usaram o local como ponto de encontro. Tem a ver com a adesão a causas como indica o símbolo LGBTQIA+ que resistiu ao fogo. Tem a ver com a coragem de o local ter permanecido “fechado pela vida” na pandemia, quando muitos outros davam jeito de abrir, mesmo com risco para a saúde dos fregueses. Tem a ver até com o cardápio vegano do almoço – uma das causas que Ieda mais se orgulha de apoiar.

Fotos: Tami Taketani/Plural

Ieda é assim. Quando foi avisada de que o café pegou fogo, se preocupou entre outras coisas com um ninho de beija-flor que tinha sido construído um tempo antes e que agora era ocupado por dois passarinhos pequenos. Ao chegar lá, ela procurou os passarinhos e viu que, por coincidência, eles tinham aprendido a voar e deixaram o ninho justo no dia do incêndio. “Isso me deixou feliz”, diz ela.

A cozinha também escapou intacta. A cozinha e o cozinheiro, enfatiza Ieda – lembrando que ninguém saiu ferido. E isso é um primeiro passo para a nova reconstrução, que pode demorar mas deve acontecer. Afinal, a garota que estava batendo à porta já ganhou o emprego e precisa trabalhar.

Fotos: Tami Taketani/Plural

Veja como contribuir on-line:

https://www.kickante.com.br/vaquinha-online/revivamafalda-ajude-a-reviver-o-cafe-mafalda-apos-ser-destruido-por-um-incendio

https://www.vakinha.com.br/vaquinha/fenix-cafe-mafalda

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2 comentários em “Em meio às ruínas, Café Mafalda já começa a se reerguer”

  1. Nasci a 48 Anos nessa casa , era a casa da minha avo , passed toda infancia e adolescencia Ali, lembro de cada comodo cada cantinho dessa casa . Tomara que se reergam logo

  2. Líbia Patricia Peralta Agudelo

    Ieda, sentimos muito! Adoramos o Mafalda e apoiaremos a sua reconstrução. Admirável a sua força e compromisso com a cultura, as causas sociais e ambientais. Curitiba irá apoiar o retorno do Mafalda!

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