Detenta foi assassinada com elástico na Penitenciária Feminina de Piraquara

"A minha mãe nunca tirou a vida de ninguém, não foi condenada à morte para fazerem o que fizeram com ela de forma cruel", diz um dos filhos de Adriana Lara Soares

Na sexta-feira passada, dia 30 de julho, uma gritaria acordou a Penitenciária Feminina de Piraquara (PFP) no meio da madrugada. “Os agentes de plantão foram até uma das celas e viram que a Adriana estava caída no chão”, conta a vice-diretora Juliana Heindyk Duarte, referindo-se à detenta Adriana Lara Soares, de 42 anos. “A enfermeira fez um primeiro atendimento, tentou reanimar. O SAMU chegou bem rápido, coisa de quinze minutos, mas constatou que ela já estava morta. Na hora do susto, as meninas acharam que fosse parada cardíaca ou suicídio, mas depois viram que ela tinha ferimentos na cabeça – e como alguém vai se enforcar deitada, né?”

Junto com a notícia da morte, foi a hipótese de suicídio que chegou aos ouvidos da família, por meio de uma assistente social. “Ela falou que minha mãe não tinha marca alguma de agressão e que possivelmente havia atentado contra a própria vida, o laudo do IML que ia confirmar. Mas no próprio laudo consta homicídio”, diz um dos filhos de Adriana, que prefere não ser identificado. 

O Plural teve acesso ao Boletim de Ocorrência (BO) registrado naquela noite. Ele descreve: “Segundo dados preliminares da perícia, o caso não se trata de suicídio, haja vista que o corpo tinha lesões que em tese seriam de alguma agressão física. O corpo estava amarrado a uma corda fina que não suportaria seu peso se a mesma quisesse cometer o suidício”. A certidão de óbito registra a causa da morte como “esganamento”, sem mais detalhes. De acordo com a família, o estrangulamento foi executado com um “elástico de lingerie”. 

De acordo com Juliana, Adriana estava numa cela com outras duas detentas: sua ex-namorada e outra mulher que chegou à penitenciária naquele mesmo dia. “Pelo que a terceira comentou, a Adriana terminou o relacionamento naquela tarde, e elas discutiram e tal. À noite, a menina nova disse que tomou remédio pra dormir e foi acordada pela ex, dizendo que a Adriana tinha cometido o suicídio”, fala.

Contudo, a direção prefere não fazer nenhuma acusação sem que haja investigação. Pelo mesmo motivo, o Plural optou por não divulgar os nomes das demais detentas. A reportagem também entrou em contato com a Polícia Civil para saber o que foi apurado, mas não recebeu esclarecimentos adicionais até o fechamento.

Após a publicação, o filho de Adriana entrou em contato com a reportagem para dizer que a mãe nunca havia se relacionado com mulheres antes. Para ele, a versão apresentada pela vice-diretora não é verdadeira porque não seria condizente com a orientação sexual de Adriana. A família desconhecia o relacionamento com outra detenta.

Em nota, o Departamento Penitenciário (Depen) acrescentou que “a polícia e o Instituto de Criminalística estiveram no local e uma perícia foi realizada. O corpo foi encaminhado para o IML para que seja investigada a causa da morte. Um inquérito policial e um procedimento administrativo serão abertos para apurar o caso”.

Responsabilidade do Estado

A Defensoria Pública do Paraná fez contato com os familiares para prestar esclarecimentos e auxiliar na compreensão do andamento da investigação, por meio do Atendimento a Vítimas de Crimes, projeto do Núcleo de Política Criminal e Execução Penal (Nupep). 

“O Estado ocupa a posição jurídica de ‘garante’ da vida das pessoas sob sua custódia e tem responsabilidade objetiva (independente de culpa), podendo os familiares pleitear indenização se assim desejarem”, esclarece André Giamberardino, coordenador do Nupep.

Os encaminhamentos ficaram por conta do advogado contratado pela família, Alexandre Beltrão de Souza. Ele adiantou que vai entrar com um pedido de “indenização por responsabilidade objetiva do Estado por negligência na tutela da interna Adriana, com pedido de lucros cessantes até os 65 anos dela, pois deixou quatro filhos e uma menor”.

“Minha mãe estava bem e, do nada, está morta”

“A minha mãe sempre foi uma guerreira, batalhadora, vendedora ambulante. Ela atuava como vendedora ambulante no Museu do Olho, sempre na correria por nós”, conta um dos familiares de Adriana. Ela deixa quatro filhos, sendo uma menina menor de idade. “Nossa família – eu, minha mãe, minha avó e meus irmãos – sempre fomos unidos, até a perda da minha avó. Foi muito triste, câncer de mama.”

A morte da mãe teria mexido bastante com Adriana, que acabou se tornando usuária de drogas durante o luto. “Corremos atrás dela, tentando ajudar pra ela vir pra casa, pensar nos filhos, mas ela ficou muito em choque com a perda da minha avó. Nós passamos dificuldade, fomos despejados de casas de aluguel, várias situações. Ela teve essa queda e foi parar dentro do sistema prisional, detida por roubo a pedestre. Foi condenada e estava pagando pelos seus erros.”

“A Adriana era uma uma menina que trabalhava na unidade, sabe? Tinha bom comportamento”, afirma Juliana. “A gente ficou bem chocado por aqui, porque ninguém esperava que isso fosse acontecer. As internas estão revoltadas.”

A família relembra que, depois de condenada, Adriana tentou cumprir a pena com tornozeleira, por conta da filha menor, mas o pedido foi negado. “Eu estava acompanhando minha mãe, mandando sacola. Ia fazer um ano que ela estava detida, até recebermos a notícia. A minha mãe nunca tirou a vida de ninguém, não foi condenada à morte para fazerem o que fizeram com ela de forma cruel. Ficamos assim: sem chão, sem explicação. Minha mãe estava bem e, do nada, está morta”, lamenta um dos filhos. Eles também não contam com a ajuda do pai.

Sobre o/a autor/a

7 comentários em “Detenta foi assassinada com elástico na Penitenciária Feminina de Piraquara”

  1. Milton Inácio do nascimento

    Gostaria de saber o desfecho desse caso,e saber da condenação da acusada, ré Carol, assisti ao júri, mais não houve a condenação.

  2. Se vc não leu foi roubo a pedestre,estou aqui dentro da penitenciária foi um companheira de sela apenas por Adriana não querer compartilhar das mesmas ideias e teve sim negligência da penitenciária

    1. Sou amiga dela ,passamos algumas vezes presas juntas e ela realmente nunca se envolveu com mulher lá dentro.Muito mal contada essa história

  3. A verdade deve ser revelada e o estado deve ser punido pagando uma indenização a família, é obrigação do Paraná ser Justo , se não faz sua parte de proteção a pessoa falhou com o direito humanos da pessoa .

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima