Ameaça de conflito entre Ucrânia e Rússia preocupa comunidades de imigrantes em Curitiba

Tensão entre os dois países tem se intensificado nas últimas semanas

Diante da possível invasão da Ucrânia pela Rússia, os milhares de descendentes e imigrantes das duas etnias que vivem no Paraná estão apreensivos e temem os impactos que a situação pode trazer à vida das comunidades. Na última semana, grupos folclóricos de todo o país se mobilizaram pedindo pela paz entre os países. 

Ucranianos 

O Brasil possui a maior colônia de ucranianos da América Latina. São mais de um milhão de pessoas, entre ucranianos e descendentes, dos quais 80% vivem no Paraná, em especial em Prudentópolis, União da Vitória e Curitiba. Hoje, o estado conta com dezenas de sociedades culturais e mais de 30 grupos folclóricos, escolas e grupos de artesãos.

Para o prudentopolitano descendente de ucranianos e presidente da Representação Central Ucraniano Brasileira, Vitório Sorotiuk, a tensão entre a Rússia e a Ucrânia tem razões históricas profundas por se tratar de duas culturas e dois povos distintos, mas que estiveram ligados no passado. 

“A situação pode levar a um conflito de grandes proporções. Nós temos família, uma relação cultural lá. Nós estamos com apreensão sobre nossos antepassados, nossos povos, é a nossa cultura que está em jogo. Então é uma aflição muito grande”, afirma Vitório, que apesar da preocupação, acredita que há motivos para a Rússia recuar. “A Ucrânia de hoje não é mais a Ucrânia de 2014. Ela vem enfrentando a guerra há oito anos, então ela já está com um exército preparado na resistência, estava armando até os civis para resistir com o que fosse, de água quente, óleo fervendo, até armas”, complementa. 

A comunidade ucraniana chegou a enviar uma carta ao presidente Jair Bolsonaro solicitando que o chefe do executivo visite Kiev, capital da Ucrânia, e pedindo uma solução pacífica para a situação. “O Brasil tem a ver com esse conflito, sim. Tem aí mais de 600 mil brasileiros já atingidos por isso”, defende Vitório, que vive em Curitiba desde 1961.

O grupo Folclore Ucraniano Barvinok é o conjunto ucraniano mais antigo do Brasil. Foto: RCUB.

Russos

Dmitri Dmitrievich Lobkov, de 62 anos, nasceu na antiga União Soviética (URSS), na região da Crimeia. Ele deixou a Rússia em 1989 e depois de morar por um tempo na Europa e na Argentina, veio para o Brasil em 2001 para ficar próximo da família que já morava no país. 

Diretor da Casa Russa do Paraná, Dmitri afirma que existem hoje no Brasil cerca de 900 mil descendentes de russos e ucranianos. Ele conta que, antigamente, a Associação de Compatriotas Russos era muito ativa tanto nacional quanto regionalmente, tendo 78 famílias associadas só no Paraná. No entanto, nos últimos anos muitas pessoas deixaram de participar do grupo. 

Na visão de Dmitri, ucranianos e russos fazem parte de um mesmo povo de origens eslavas e por isso não deveria haver um conflito. Mas, com o desmantelamento da União Soviética em 1991, a Ucrânia se tornou um alvo de interesse não só da Rússia, como dos Estados Unidos e Europa, e foi aí que o embate se intensificou.

“É muito difícil porque o nosso povo está bem mesclado. Existem muitos russos que estão na Ucrânia e muitos ucranianos que moram na Rússia. São laços de família, laços culturais”, pontua Dmitri, que mora em Curitiba desde 2008, mas tem os parentes maternos vivendo na Crimeia e os paternos na Ucrânia.

“Eu conheço esse conflito de muitos ângulos. As pessoas comuns não respaldam essa atitude, todos concordamos que estão agindo contra o interesse das pessoas comuns, tanto na Ucrânia quanto na Rússia. O povo comum não está apoiando esse conflito que está surgindo, tenho certeza que a guerra não é de interesse nem ao povo ucraniano nem ao povo russo”, garante.

Bolsonaro e Putin. Foto: Kremlin.

Em meio à crise geopolítica na região, na quarta-feira (16), Jair Bolsonaro se encontrou com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, como parte da agenda oficial que cumpre até esta quinta (17). 

No encontro, Bolsonaro afirmou ser “solidário à Rússia” e em nenhum momento os presidentes citaram a crise no Leste Europeu. 

Ucrânia e Rússia: um breve histórico

A Ucrânia era uma das 15 repúblicas que formavam a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Em 1991, diante do colapso da URSS, no entanto, a região se tornou uma nação independente e passou a estabelecer uma união mais próxima aos países ocidentais, o que não agradou a Rússia. 

Por isso, a relação política entre as duas nações começou a ficar conturbada. Em 2014, o governo pró-Rússia em Kiev foi derrubado. Temendo que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e a União Europeia mantivessem influência sobre a Ucrânia, a Rússia anexou ao seu território a Crimeia, região étnica russo que havia sido cedida à Ucrânia em 1954 – o que promoveu uma guerra civil de separatistas pró-Rússia na região leste da Ucrânia.

O conflito no leste ucraniano continuou e, em novembro de 2021, a Rússia mandou cerca de 100 mil soldados para as fronteiras com a Ucrânia. Agora, Vladimir Putin exige que a Ucrânia não se torne membro da Otan, que a organização pare de ampliar sua área de influência e se afaste de países do leste europeu, o que foi rejeitado pela aliança.

Em meio à escalada de tensão entre os países, os Estados Unidos dizem que há uma ameaça iminente de guerra, enquanto o governo russo nega a possibilidade de ataque e acusa os norte-americanos de tentar levar o país à guerra contra a Ucrânia.

Ucranianos se preparam para a guerra. Foto: Agência Brasil.

Mesmo sem fazer parte da Otan ou da União Européia, a Ucrânia tem recebido apoio militar e financeiro do bloco.

Na terça-feira (15), a Rússia anunciou o início da retirada de parte das tropas da fronteira com a Ucrânia. 

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