Ônibus: com novo aporte, injeção de recursos passa de meio bilhão na pandemia

Novo aporte de R$ 132 milhões deverá cobrir diferença de R$ 0,87 entre a tarifa cobrada e a tarifa técnica do sistema

A Câmara de Curitiba aprovou nesta terça-feira, dia 31 de maio, mais um aporte de recursos para o Sistema de Transporte Coletivo da capital de R$ 174 milhões. Desse total, diz a URBS, R$ 132 milhões irão cobrir o déficit entre a tarifa paga pelos usuários (R$ 5,50) e a tarifa técnica, que está em R$ 6,37. Com isso, o total de aportes de recursos extras da prefeitura de Curitiba no sistema desde março de 2020 somará R$ 568 milhões.

Segundo informações fornecidas pela URBS à Câmara de Curitiba, as empresas de transporte devem arrecadar R$ 648 milhões dos R$ 876 milhões previstos de custo do sistema para 2022 (74%). Além dos R$ 132 milhões destinados a manter o equilíbrio do sistema, haverá também o aporte de R$ 60 milhões do convênio da URBS com a COMEC pela integração da Rede à municípios da região metropolitana e R$ 34 milhões que já estavam previstos no orçamento.

O novo aporte foi alvo de intensas críticas de vereadores durante a discussão do projeto, em especial pelo investimento da prefeitura não se converter em melhorias no sistema, mas sim só em manutenção do equilíbrio financeiro do contrato. Desde o início da pandemia a Rede de Transporte viu uma redução drástica no volume de passageiros, que caiu de 1,2 milhão para 271 mil (-77%).

O Sistema como um todo, porém, já vinha registrando retração no número de passageiros. De 2015 para 2019, a rede de transporte coletivo curitibana perdeu 15% de seus passageiros enquanto a tarifa teve um aumento de 36% (de R$ 3,30 em 2015 para R$ 4,50 em 2019). Hoje o preço da passagem está em R$ 5,50.

A maior crítica é a manutenção de um contrato que não prevê melhorias significativas nos ônibus, nem ações para atrair mais usuários para este modal. Mesmo sem pandemia, a cidade estava perdendo passageiros, o que se acentuou. E com o risco a exposição a contaminação por vírus que os ônibus coletivos lotados representam, a adesão de parte da população ao transporte individual parece consolidar essa tendência.

Outra crítica é a manutenção dos valores do contrato onerando apenas a prefeitura com o risco de operação dos ônibus. Ao cobrir os aumentos na tarifa técnica os empresários do transporte urbano de Curitiba ficam isentos do risco do negócio. “Os empresários têm direito ao lucro, mas tem também o risco”, declarou o vereador Professor Euler (MDB), em resposta ao líder do governo, vereador Pier Petruziello (PP), que acusou os colegas da oposição de “demonizar” o empresariado.

Petruziello também sugeriu que quem reclama da qualidade do transporte coletivo de Curitiba “vá andar de metrô às cinco da tarde em Nova Iorque, em Roma” e afirmou que os ônibus aqui “tem ar condicionado”. “Isso ninguém fala”, completou. Apesar da irritação do líder do governo, o projeto passou facilmente no plenário, com 23 votos a favor e 10 contra no primeiro turno.

Histórico

Em abril de 2020, a Prefeitura propôs um Regime Especial para o transporte coletivo para compensar as perdas de arrecadação causadas pela restrições impostas pela emergência de saúde pública. Um segundo Regime Especial foi criado depois da conclusão do primeiro, em 2021, com duração até fevereiro de 2022. Nesse período, as empresas de ônibus receberam R$ 436.192.267,00.

A proposta agora é outra injeção de recursos no contrato, de R$ 132 milhões com uma projeção de média de 490 mil passageiros por dia. Desde janeiro de 2022, a cidade já registra média de 403 mil passageiros por dia e chegou a 483 mil em maio, segundo dados da própria URBS, ainda abaixo da meta prevista pela URBS.

Sobre o/a autor/a

3 comentários em “Ônibus: com novo aporte, injeção de recursos passa de meio bilhão na pandemia”

  1. Ninguém fala que tem ar condicionado nos ônibus porque não tem! De onde ele tirou isso?
    Nos últimos meses voltei a andar de ônibus todos os dias para ir trabalhar, e notei a diminuição drástica nas linhas de alimentadores (uma espera que antes era de no máximo 15 minutos agora supera meia hora). Onde reivindico a volta do número antigo de ônibus? Esses minutos de espera estão fazendo muita diferença.

  2. Esse é um assunto prioritário, gostaria que o Plural aprofundasse mais, trouxesse mais notícias, tanto da Câmara de Vereadores, que teria a obrigação de fiscalizar, como do Ministério Público. Algumas cidades europeias já possuem um modelo de transporte gratuito, qual seria a viabilidade de fazer isso em Curitiba e região metropolitana?

    1. Rosiane Correia de Freitas

      Oi Maria, o valor total anual, segundo a Urbs, é de R$ 876 milhões na atual configuração. O maior empecilho é que a cidade está presa a licitação do sistema. Mas pode testar outros modelos em lotes não licitados (novas linhas).

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima