“Esse governo é inimigo da educação”

Para Guilherme Boulos (PSol), o governo Bolsonaro quer destruir a universidade pública

Passada a eleição e a consequente vitória do candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro (PSL), uma das principais lideranças da esquerda brasileira, Guilherme Boulos (PSol), decidiu não baixar a guarda e está percorrendo o país, participando de uma extensa agenda de atividades para manter na pauta de discussão ideais sociais que defende.

O Paraná é um dos 12 estados que Boulos vai visitar. No dia 20 de março, o ex-candidato do PSol à Presidência no pleito de outubro de 2018 esteve em Curitiba e falou para cerca de 800 pessoas que ocupavam a escadaria e a parte da frente do prédio histórico da UFPR, na Praça Santos Andrade.

Em sua passagem pela capital paranaense, o professor de Filosofia e um dos líderes da Coordenação Nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto conversou com Plural sobre educação, democracia e Reforma da Previdência.

Jair Bolsonaro foi eleito presidente com um discurso conservador.

Educação

“Esse governo [Jair Bolsonaro] é inimigo da educação. A começar por colocar um pupilo [Ricardo Vélez Rodríguez] do Olavo de Carvalho [pensador conservador] como ministro da Educação. É um nível de desqualificação e falta de noção muito grande. É inacreditável que ele seja o ministro da Educação. Mas além da dimensão patética e ridícula, tem uma dimensão perigosa também. Essa turma tem um projeto de destruir a universidade pública. Para eles, a universidade pública, como Vélez Rodríguez disse, é para uma elite intelectual. Isso é um retrocesso profundo.”

Ricardo Vélez. Crédito da foto: Marcelo Camargo/EBC

Olavo de Carvalho mantém grande influência no governo Jair Bolsonaro.

“Os ataques à universidade pública têm ocorrido de duas formas: financeiramente e o silenciamento. A primeira, aliada à política do ministro da Economia, Paulo Guedes, por meio do chamado ‘Novo pacto federativo’, pretende contrariar o que está resguardado pela Constituição, extinguindo as reservas de recursos obrigatórios para a educação, saúde e previdência pública. Já o silenciamento advém de projetos como o Escola Sem Partido, que é uma forma de perseguição aos professores, e com intervenção na escolha de reitores das universidades, tentando modificar e atacar a autonomia universitária.”

O ministro da Economia, Paulo Guedes, em audiência pública da Comissões de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, fala sobre a reforma da Previdência. Crédito da foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr

Reforma da Previdência

“Nós só não estamos em um buraco mais fundo, porque ainda existe previdência pública no Brasil. Cerca de 70% dos municípios brasileiros têm como sua maior fonte de movimentação de renda, movimentação econômica, os benefícios previdenciários. O que está em jogo é o desmonte de toda a rede de proteção social, toda perspectiva de acolhimento e solidariedade no futuro, para quem não tem mais condições de trabalhar. Deixar no cada um por si.”

“Previdência é uma forma de investimento, é uma forma de economia. A retirada dos benefícios gera um efeito cascata perverso, impactando em quebras e desemprego. Para solucionar o que eles chamam de déficit previdenciário, o governo deveria estimular o investimento público, por meio da reforma tributária progressiva.”

Democracia

“Nós temos uma crise de representação em todo o mundo. As pessoas, muito corretamente, perceberam que não estão representadas na forma como o atual modelo político se organiza. Modelo em que o poder econômico é que tem voz sobre o poder político. Isso gerou um sentimento de insatisfação, um sentimento de antipolítica.”

“Estamos vivendo o questionamento da falta de representação nas democracias liberais. No Brasil, a resposta dessa questão se deu por meio de um golpe [o impeachment da presidente Dilma Rousseff] e o surgimento de falsos salvadores. Quando alguém não se sente seguro num pais por defender aquilo que acredita, algo está muito errado. Quando um parlamentar [o deputado federal Jean Wyllys (PSol-RJ) renunciou ao mandato por sofrer ameaças de morte e decidiu morar no exterior] , eleito pelo povo, não recebe respaldo e segurança do Estado para que possa permanecer com seu mandato e defendendo suas posições, a democracia está em crise. Quando tem um assassinato político, um crime político, uma vereadora mulher, negra, favelada [Marielle Franco (PSol) foi assassinada no Rio de Janeiro, em 14 de março de 2018, após sofrer uma emboscada. Na ocasião, seu motorista, Anderson Gomes, também foi morto], que ocupou um espaço que não estava reservado para ela, é assassinada por grupos de milicianos a mando de gente da política que resta saber quem é, é que está difícil falar em democracia. Quem está ajudando a soltar pitbull na sociedade brasileira?”

Ex-deputado Jean Wyllys (PSol-RJ). Crédito da foto José Cruz/ABr

 

Mais imagens do ato com Guilherme Boulos em Curitiba

Crédito das fotos: Giorgia Prates

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