Eleições 2024: mulheres têm desempenho eleitoral melhor, mas são ‘esquecidas’

Marcia Huçulak e Carol Dartora tiveram mais votos que seus concorrentes em Curitiba, mas são colocadas em segundo plano na disputa

Falta mais de um ano para a eleição do próximo prefeito ou prefeita de Curitiba, mas a disputa já começou com mais do mesmo: caciques dos partidos e muita misoginia. As discussões sobre o tema nos últimos dias foram incentivadas por uma reportagem da Folha de São Paulo sobre os possíveis candidatos. Focado nas alianças e costuras partidárias, o texto cita com destaque cinco possíveis candidatos, todos homens: Eduardo Pimentel (PSD), atual vice-prefeito de Curitiba; Paulo Martins (PL), ex-deputado federal pelo Paraná; Ney Leprevost (União Brasil), deputado estadual no Paraná; Luciano Ducci (PSB), deputado federal pelo Paraná; e Goura (PDT), deputado estadual no Paraná.

Em resposta, o jornal Brasil de Fato Paraná publicou um balanço das negociações para uma “frente ampla” da esquerda na cidade com quatro nomes à frente: Luciano Ducci (PSB), Goura (PDT), o deputado estadual Renato Freitas (PT) e a deputada federal Carol Dartora (PT). Duas possíveis candidatas acabaram em segundo plano, apesar de seu desempenho eleitoral não dever nada para (e, na realidade, superar) o dos colegas homens: Carol Dartora (PT) e Márcia Huçulak.

Márcia Huçulak x Eduardo Pimentel

Cotada para vice-candidata em uma chapa liderada pelo atual vice-prefeito Eduardo Pimentel (PSD), Márcia Huçulak é servidora pública municipal concursada e aposentada. Enfermeira de formação, ela foi figura central no enfrentamento da Covid-19 na cidade e liderou por quase dois anos lives diárias durante as quais informava a população sobre a situação.

Ao contrário de Pimentel, Huçulak tem um extenso currículo na linha de frente do serviço público, com 36 anos de carreira na área e passagens tanto pela estrutura do SUS em Curitiba, quanto na Secretaria de Estado da Saúde e em órgãos do Sistema Único de Saúde em Brasília. A visibilidade ganha na pandemia foi a porta da entrada da ex-secretária na política partidária, que se elegeu em sua primeira disputa, por uma vaga na Assembleia, com 75 mil votos, 57 mil dos quais em Curitiba, maior votação entre as mulheres eleitas para o legislativo estadual em 2022.

O desempenho de Huçulak em Curitiba, inclusive, é o que a garante a posição dela entre os potenciais candidatos à prefeitura. Na capital ela foi a candidata a Assembleia mais votada, à frente inclusive dos potenciais candidatos à prefeitura Ney Leprevost, Goura, Renato Freitas, Ana Júlia e Denian Couto.

Mas o maior contraste entre desempenho eleitoral se dá entre Huçulak e Pimentel. O atual vice-prefeito tem três eleições no currículo, mas só uma como cabeça de chapa: a disputa pela Assembleia Legislativa em 2010. Na época Pimentel concorreu pela coligação de Beto Richa, que se elegeu governador, como candidato a deputado estadual pelo PSDB. Acabou como suplente com 20.536 votos. Desses, só 5 mil foram de eleitores de Curitiba.

Pesa também contra Pimentel o fato de que depois de eleito duas vezes vice-prefeito ele é virtualmente desconhecido do curitibano, apesar de ser herdeiro da família Pimentel, ex-proprietária dos jornais O Estado do Paraná e Tribunal do Paraná, além da TV Iguaçu (Canal 4, repetidora do SBT no Paraná) e ser presença constante ao lado de Rafael Greca (PSD).

Formado em Administração, Pimentel fez carreira nas empresas da família e depois migrou para o serviço público, onde assumiu os cargos de diretor de marketing da Fundação Cultural de Curitiba, diretor geral do Ceasa – Centrais de Abastecimento do Paraná S/A, subchefe da Casa Civil do Governo do Paraná e secretário municipal de Obras em 2017 e 2018.

Pimentel, porém, tem o apoio de Rafael Greca e do governador Ratinho Junior para liderar a chapa do PSD à prefeitura, um fato que coloca o coronelismo partidário acima do real desempenho eleitoral dos candidatos. Greca, porém, parece estar ciente das limitações de seu sucessor, uma vez que tem investido em Huçulak, figurinha constante nas redes sociais e eventos do prefeito.

Carol Dartora x Goura

Na construção da frente ampla da esquerda em Curitiba a distância entre Goura e Carol Dartora não é tão significativa quanto a de Huçulak e Pimentel. Ambos vieram do trabalho político partidário de base e atuação junto a grupos sociais relevantes, como a população negra e LGBTQIA+ e a causa ambiental. Mas Dartora está à frente Goura se considerada a velocidade de evolução eleitoral de ambos.

A deputada federal começou a carreira política no movimento negro e no PT. Foi candidata a deputada federal em 2018, mas teve a candidatura indeferida por não conseguir comprovar sua filiação ao PT (sua defesa junto ao TRE alegou ser um erro do partido). Em 2020, Dartora foi novamente candidata, dessa vez a vereadora e se elegeu com o terceiro melhor desempenho naquele ano.

Em 2022, com apenas dois anos de atuação na Câmara, ela disputou a eleição para deputada federal pelo Paraná. Foi eleita a primeira deputada negra do estado com 130 mil votos, 61 mil dos quais foram obtidos em Curitiba. Entre os candidatos à deputado federal, ela foi a mais votada na capital, à frente da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann (que já disputou a prefeitura de Curitiba em 2008, além de ser uma personalidade nacional como líder do partido do presidente Lula) e de outros nomes como os ex-prefeitos Gustavo Fruet, Luciano Ducci e Beto Richa.

O desempenho de Goura na eleição de 2022 não consta no gráfico acima porque ele disputou (e se elegeu) uma vaga de deputado estadual com 46 mil, 32 mil dos quais em Curitiba. Foi o quarto candidato mais votado em Curitiba, atrás de Márcia Huçulak e Ney leprevost, mas a frente de Renato Freitas (no desempenho geral, porém, Freitas teve mais votos que Goura).

Com um trabalho na área ambiental e na promoção da bicicleta como meio de transporte sustentável, Goura assumiu no PDT o lugar deixado pelo ex-prefeito e ex-deputado Gustavo Fruet. Também tem se colocado como articulador de uma eventual frente ampla de esquerda na disputa pela prefeitura de Curitiba.

Começou o trajeto político eleitoral em 2014, quando se candidatou a deputado federal e não se elegeu. Assumiu então o cargo de assessor de mobilidade da Secretaria de Trânsito de Curitiba na gestão de Fruet. Em 2016 se elegeu vereador e em 2018 foi eleito deputado estadual com 37 mil votos, cargo para o qual se reelegeu em 202. É uma evolução impressionante, mas aquém da de Dartora. A vantagem de Goura sobre a petista é que como deputado estadual ele está mais próximo do eleitorado e das pautas curitibanas do que ela.

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1 comentário em “Eleições 2024: mulheres têm desempenho eleitoral melhor, mas são ‘esquecidas’”

  1. Frente ampla de esquerda

    Tem que perguntar para a Gleisi pq a Carol não é candidata, não para o Goura. Gleisi não quer sombra nela. Isso é misoginia?

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