O aumento da disseminação das notícias falsas paralelamente ao crescimento das redes sociais é uma preocupação dos estudiosos do campo do direito eleitoral. Para os debatedores do VIII Congresso Brasileiro de Direito Eleitoral o jornalismo profissional entra como ator principal para levantamento de informações fidedignas, mas também é impactado pelas narrativas criadas por meio das redes sociais.
Um dos painéis do encontro, que acontece na Universidade Positivo, em Curitiba, abordou a dificuldade da cobertura das eleições neste ano. Participaram da mesa os jornalistas Rodrigo Haidar e Matheus Leitão, além do advogado Gustavo Mendes. A mediação foi feita pela jornalista Joyce Carvalho. A internet e as fake news foram dois pontos importantes do debate, assim como ocorreu em outros momentos do evento.
Um exemplo disso, conforme Haidar, é a repercussão de um tweet do deputado federal Eduardo Bolsonaro (União Brasil), no qual comentava uma coluna da jornalista Míriam Leitão. O parlamentar usou um emoji de cobra e disse ter pena do animal. O comentário foi feito junto com compartilhamento de uma publicação da jornalista, que classificou o presidente Jair Bolsonaro (PL) como inimigo da democracia em sua coluna n’O Globo.
“A maioria das pessoas não se lembra do que estava escrito na coluna, mas todo mundo sabe sobre o tweet do deputado”, pontuou o jornalista. A menção de Eduardo Bolsonaro à tortura sofrida por Leitão durante a ditadura militar encobriu a discussão importante trazida pelo texto da jornalista.
Matheus Leitão, filho de Míriam, e também jornalista, disse que uma das estratégias utilizadas pelo presidente, e por políticos que não querem debater questões sérias, é justamente desviar o foco da imprensa para controlar a narrativa. “A extrema direita mantém a pauta do jeito que ela deseja.”
Para ele, esta eleição terá o segundo turno “mais longo da história”, por conta da polarização. Isso cria um desafio para os jornalistas quanto à apuração, que precisará ser mais profunda.
Redes sociais
Ambos os jornalistas foram categóricos em afirmar que o jornalismo profissional precisa se voltar para questões mais sérias e ter uma abordagem mais cuidadosa de temas que surgem nas redes sociais.
“O jornalismo profissional está se deixando levar por essa lógica das redes sociais. O jornalismo precisa voltar às suas bases e não concorrer com as redes sociais”, destacou Haidar.
Assim, apesar do imediatismo vigente, a apuração técnica e a checagem das informações com mais de uma fonte, e por mais jornalistas, será, na opinião dos comunicadores, primordial na cobertura do pleito.
O advogado Gustavo Mendes, que trabalhava com o ex-presidente Michel Temer (MDB), alertou quanto às publicações com falha de apuração e também argumentou que muitas vezes o jornalismo profissional se “nivela por baixo” e age como “os blogueiros”.
“O jornalismo profissional precisa checar melhor e nós, do direito eleitoral, precisamos entender melhor a imprensa e nos relacionarmos com os jornalistas.”
Além disso, Mendes também falou sobre o impacto que as notícias têm no meio jurídico – não raro decisões judiciais têm fundamentação baseada em reportagens – e mencionou ainda que todos têm papel fundamental no combate às notícias falsas.
“Nós temos sim que chamar atenção da mãe, do pai, de todos que compartilham informações falsas. E nós mesmos temos que nos atentar. Quem mais está falando nisso?”
Homenagem
A mesa também contou com uma homenagem à jornalista Cristiana Lôbo, que faleceu em novembro do ano passado, vítima de mieloma múltiplo.
Colunista política por mais de 30 anos e uma das mais renomadas jornalistas do Brasil, Cristiana Lôbo estreou em 1997 na Globo News. Colegas da emissora enviaram mensagens de vídeo contando sobre a experiência compartilhada com Lôbo e a organização do evento preparou uma placa em homenagem à comunicadora.
Os filhos Gustavo e Bárbara e o viúvo Murilo acompanharam a homenagem por vídeo. Eles agradeceram aos depoimentos.
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