Thiago Tizzot volta à terra de Breasal no livro “A Sombra da Torre”

Depois de dez anos trabalhando numa nova história, escritor retorna ao universo de fantasia de trabalhos anteriores como “Ira dos Dragões” e “O Segredo da Guerra”

Alguém disse, em algum lugar, que o realismo mágico insere elementos de fantasia no mundo cotidiano, enquanto os livros de fantasia trabalham com elementos cotidianos em um mundo de fantasia. Isso, claro, na medida em que batalhas pela sobrevivência podem ser cotidianas. “A Sombra da Torre”, o novo livro de Thiago Tizzot, é um romance de fantasia que levou dez anos para ficar pronto.

Parte dessa demora se deve aos outros trabalhos que Tizzot desenvolve como editor, livreiro e, como ele mesmo diz, “fazedor de livros”. “A escrita é uma coisa que depende de eu sentar e fazer, ninguém vai me cobrar ou exigir um prazo”, diz Tizzot. “Sou eu quem determina isso e acaba que vou adiando a escrita para cumprir os compromissos das outras atividades.”

Thiago Tizzot

Ele é um fazedor de livros porque, no laboratório gráfico da Arte e Letra, Tizzot ajuda a dobrar, costurar e colar os volumes que são impressos ali mesmo. Foi assim com “A Sombra da Torre”, uma bela edição numerada e encadernada manualmente – como aliás, todos os livros produzidos no laboratório da editora. 

Na entrevista a seguir, ele fala um pouco sobre Breasal, o universo que criou para os seus livros, e também sobre fantasia, literatura e escrita.

Qual foi o ponto de partida para escrever “A Sombra da Torre”?
O livro começou como uma encomenda, fui contratado por uma editora para escrever um livro que se passasse no mesmo universo do meu livro anterior na época, “Ira dos Dragões”. Eu não lembro por que decidi fazer um livro de contos a princípio, isso foi lá em 2010, mas sabia que gostaria de escrever novamente sobre os Basiliscos, o grupo de heróis que aparece em “O Segredo da Guerra”. A ideia era escrever uma história para cada um deles, mostrar cada um dos personagens em uma aventura onde os outros não estivessem presentes. Mas no meio do caminho mudei os planos e decidi pensar em uma grande história que seria contada um pouco em cada uma das outras histórias menores. O livro acabou ficando uma mistura. São histórias curtas, mas todas ligadas por uma trama maior que termina junto com o final da última história.

No processo de criação do livro, qual foi a parte mais difícil?
Equilibrar o quanto poderia aparecer da história maior nos relatos menores. Minha preocupação era de que os “contos” fossem histórias fechadas, não apenas um fragmento de uma história maior, precisavam ter uma autonomia e funcionar de fato como um conto. Por outro lado, precisavam falar um pouco da trama maior. Tinham que trazer um fato relevante. Esse equilíbrio foi algo que eu trabalhei ao longo dos anos. Outra coisa foi que durante esse período eu publiquei um livro, “Três Viajantes”, e terminei o roteiro de uma HQ que deve sair em breve. Ambos se passam em Breasal e essas histórias acabavam alterando o mundo, algumas coisas aconteciam nelas que afetavam os acontecimentos do livro novo. Detalhes, mas que precisavam ser ajustados para tudo fazer sentido.

“A sombra da torre” traz um mapa da terra de Breasal, o mundo que você criou e sobre o qual já escreveu em “O Segredo da Guerra”, “Ira dos Dragões” e “Três Viajantes”. Voltar a esse mundo em novos livros simplifica o processo de criação? Ou, ao contrário, o desafio está justamente no fato de transitar por um mundo já estabelecido e conhecido, em que é preciso respeitar as regras que foram criadas antes?
Em um primeiro momento simplifica, você tem um ponto de partida, o mundo está ali, existe. Mas é aí também que as complicações começam a aparecer. Sempre que vou iniciar uma história, a primeira coisa que preciso fazer é determinar quando ela se passa. Dependendo do momento, Breasal vai estar de um jeito específico, às vezes preciso tomar cuidado para não citar um personagem que ainda nem nasceu ou uma cidade que não existe. Mas esse desafio para mim é muito divertido e, a cada novo livro, ele aumenta.

Você é um escritor e leitor de fantasia que se interessa também por outras literaturas. Tenho a impressão de que isso não é muito comum. Leitores de fantasia raramente deixam o gênero para ler outras coisas. É isso mesmo ou estou falando besteira?
É uma impressão, mas acho que hoje as leituras são mais abertas. O que talvez aconteça é que a fantasia acaba aparecendo mais. Em conversas ou escolhas de leitura. Normalmente, a fantasia não fica apenas em um livro, seu universo e personagens se espalham por outros tantos livros e quando você se encanta por algum aspecto daquela leitura, deseja ler mais. Quando você curte uma leitura de fantasia, é muito difícil parar no primeiro livro. Você quer mais e isso talvez passe a impressão de que leitores de fantasia acabam ficando apenas em uma leitura específica. Outro aspecto talvez seja também uma falta de opções, conhecimento até, sobre outras possíveis leituras. Sem saber para onde ir depois de uma leitura de fantasia, o leitor acaba ficando na fantasia mesmo porque é um local familiar.

Como você faz para conciliar as carreiras de escritor, livreiro e editor (e também de “fazedor de livros”, como você diz na biografia incluída no livro novo)? Existe uma carreira que sobressai?
Acho que deveria tratar cada uma delas como coisas separadas, mas na prática tudo se mistura e acabo vendo tudo como uma coisa só. Não existe muito planejamento, é ir fazendo a próxima coisa que precisa ser feita. Se tem alguma que sobressai não sei, mas a mais prejudicada é a escrita. A escrita é uma coisa que depende de eu sentar e fazer, ninguém vai me cobrar ou exigir um prazo. Sou eu quem determina isso e acaba que vou adiando a escrita para cumprir os compromissos das outras atividades. Por outro lado, trabalhar com livros acaba ajudando na escrita, quando consigo tempo para escrever. Ainda bem que consegui me organizar para lançar “A Sombra da Torre”, apesar de ter levado mais de dez anos para escrever o livro.

Livro

“A Sombra da Torre”, de Thiago Tizzot. Arte e Letra, 240 páginas, R$ 59,90. Romance.

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