Preso no inferno da torre
ou sem boia, em mar aberto.
Impossível curar este porre.
Tudo vai dar certo.
Nada será como nunca.
O real abraço e nada aperto.
Cansaço desta espelunca.
Tudo vai dar certo.
Estamos à beira do abismo.
O amor naufragou aqui perto.
Tempos de barbárie e cinismo.
Tudo vai dar certo.
Do nada, pessoas somem.
Nosso plano foi descoberto.
Deletaram nossos nomes.
Tudo vai dar certo.
Pior do que está pode ficar.
Dias sombrios, céu encoberto.
Mentiras turvam o ar.
Tudo vai dar certo.
Sem grana, cama, namorada.
Da janela só este deserto.
A espera deu em nada.
Tudo vai dar certo.
Patifes e assassinos por toda parte,
Hipócritas ditam o que é correto.
Só nos resta o agora, esta arte.
Tudo vai dar certo.
Acabou a caneta, o vinho tinto.
O esplendor será secreto.
O espelho nunca esteve tão sozinho.
Mas tudo vai dar certo.
*
O poema “Vontade de crer” é parte do livro “O enigma das ondas”, de Rodrigo Garcia Lopes, publicado pela editora Iluminuras.
A foto no alto da página é de Alex Panoiu/Creative Commons.