Ricardo Araújo Pereira tem boas sacadas nas crônicas de “Estar vivo machuca”

Humorista português faz graça com tudo e todos em textos curtíssimos sobre temas importantes e banais

Fazer rir é mais difícil do que parece. Se for num texto, a proeza é ainda maior. Imagine imprimir ritmo a uma história de modo que ela soe engraçada por escrito. A pessoa tem que ser muito boa nisso. Pois esse é o caso do português Ricardo Araújo Pereira, ou simplesmente RAP, no livro “Estar vivo machuca”.

Publicado pela Tinta-da-China Brasil, trata-se de uma antologia de crônicas que saíram primeiro no jornal “Folha de S.Paulo” (mas isso não revela nada sobre as inclinações políticas de RAP, é bom que você saiba. Como bom humorista, ele faz graça com tudo e todo mundo).

Aliás, é difícil pensar num tema espinhoso que não tenha rendido uma crônica. Política (claro), religião, crianças, homossexuais, mulheres, homens e o planeta. “Sei quase nada sobre quase tudo”, diz RAP, “circunstância que, felizmente, nunca impediu uma pessoa de escrever nos jornais. Por vezes, chega a ser requisito”.

Ricardo Araújo Pereira

Ao todo, o livro reúne 121 textos curtíssimos, ideais para se ler vários numa sentada, na ordem que você quiser. Talvez o segredo de RAP seja o mesmo dos melhores profissionais do gênero: o humor é uma consequência do que ele escreve, mas, na prática, ele oferece sacadas sobre coisas importantes e desimportantes. E faz rir.

Sobre esporte, RAP escreve: “o futebol oferece alegria e, como se isso não bastasse, ainda dá, a milhões de pessoas, talvez a única oportunidade que têm de dizer em toda a vida: eu ganhei”. Ele fala de eleições: “Quando se diz que as eleições são a festa da democracia, é importante não esquecer a frequência com que as festas acabam com um convidado que recusa a ir embora”.

É divertido quando ele banca o ranzinza e reclama das redes sociais, coisa que faz em mais de um texto (“as redes sociais encorajam-nos a sermos testemunhas de Jeová de nós próprios”).

“Estar vivo machuca”

Alguns de seus melhores textos tratam de questões da língua portuguesa: “A verdade é que tenho muitas dúvidas de que haja uma relação direta entre o gênero neutro das palavras e a igualdade. Parece-me que as desigualdades têm causas mais profundas”. Como argumento, RAP cita Irã, Afeganistão e Tajiquistão, países em que todas as palavras são de gênero neutro. “Assim de longe [essas nações] não me parecem muito igualitárias, diversas e inclusivas”, diz, com um tantinho de ironia.

Livro

“Estar vivo machuva”, de Ricardo Araújo Pereira. Tinta-da-China Brasil, 264 páginas, R$ 74. Crônicas.

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