Olga Tokarczuk argumenta que “o mundo é feito de palavras”

"Escrever é muito perigoso" reúne em livro os ensaios e as conferências da escritora polonesa vencedora do Nobel de Literatura

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“Escrever é muito perigoso”, de Olga Tokarczuk, reúne ensaios e conferências feitos pela autora de “Sobre os ossos dos mortos”, vencedora do Nobel de Literatura em 2018. Entre os textos do livro, está justamente o discurso que ela fez para a Academia Sueca e o mundo, ao receber o Nobel, quando argumentou que “o mundo é feito de palavras”. 

“A maneira como pensamos o mundo e – o que parece mais significativo – como o narramos tem, portanto, enorme importância”, diz Tokarczuk, na tradução de Gabriel Borowski. “Algo que acontece, mas não é contado, deixa de existir e morre.”

Nos textos do livro, recém-publicado pela Todavia, a escritora polonesa cria argumentos apaixonados a favor dos animais, citando o livro famoso de J. M. Coetzee, “A vida dos animais”. O sul-africano Coetzee também recebeu um Nobel e é um defensor apaixonado dos animais. “Para mim, é mais fácil suportar o sofrimento de um ser humano do que o sofrimento de um animal”, escreve Tokarczuk. Para ela, os seres humanos podem contar com a cultura e a religião para aliviar os sofrimentos. Deus, enfim, salvará o homem. “Para o animal, não há consolo nem alívio, porque não existe salvação que o espere.” Assim, o sofrimento do animal “é absoluto, total”.

Olga Tokarczuk

Um dos melhores momentos do livro (e ele está cheio deles) discute o ato de viajar, no sentido de fazer turismo, essa espécie de símbolo da liberdade que as pessoas não se cansam de explorar em suas redes sociais. O texto se chama “Exercícios de alteridade” e, nele, Tokarczuk tira conclusões impressionantes. “Não tenho necessidade de conhecer cidades alheias desde que em todas as ruas do mundo se pode encontrar as mesmas lembranças fabricadas na China.” Isso, sem mencionar o problema ético inerente à ideia de viajar – algo difícil de resumir aqui. Grosso modo, tem a ver com o fato de algumas pessoas no mundo terem liberdade de ir e vir, de viajar para onde quiserem, enquanto outras têm essa liberdade negada (e não são turistas, mas refugiados).

Além disso, “Escrever é muito perigoso” discute, longamente, a vocação do escritor e os problemas que acompanham essa escolha. Sobretudo os problemas práticos, num raciocínio que oferece vários insights

Livro

“Escrever é muito perigoso”, de Olga Tokarczuk. Tradução Gabriel Borowski. Todavia, 264 páginas, R$ 82,90. Ensaio.

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