Música clássica: os álbuns de 2022 que você deve ouvir

Depois de um ano escutando dezenas de discos por semana, aqui estão os 12 que marcaram os últimos 12 meses

Vou contar uma novidade para você: toda semana sai um monte de disco novo de música clássica. Sério, dezenas. Toda semana. As gravadoras costumam publicar esse caminhão de material nas plataformas de streaming às sextas-feiras. Como criei para mim mesmo a missão de acompanhar tudo o que elas lançam – não me pergunte como isso começou –, eu passo dois, três dias ouvindo música o tempo todo. Café da manhã ouvindo música. Faxina ouvindo música. Trabalho ouvindo música. Se pudesse ouvir música ouvindo música, eu certamente faria.

Não reclamo. As descobertas maravilhosas que essa “missão” tem me proporcionado mais que valem a pena!

Música clássica

Depois de um ano escutando dezenas de discos por semana, este é o extrato que trago a vocês: os álbuns de 2022 que, por favor, devem ser ouvidos. É uma ordem. E, ah!, como no ano passado, tomei a liberdade de separar a lista em duas: a “Parte 1”, com seis álbuns que apresentam o repertório usual em novas gravações; e a “Parte 2”, com seis álbuns que trazem um repertório diferente, de música contemporânea ou de compositores menos frequentados.

Divirta-se!

Parte 1: O repertório de sempre

1.

DEBUSSY
“La mer” (1905)
Primeira suíte orquestral (1883)

Les Siècles
François-Xavier Roth, regente
Harmonia Mundi

Estou trapaceando, porque esta gravação “nova” é de 2013 e já tinha sido lançada em disco antes (pela própria orquestra). O que a Harmonia Mundi fez agora foi remasterizar o registro (que foi feito ao vivo, com uma plateia realmente silenciosa) e dar-lhe ampla circulação. E circulação é algo que este “La mer” de Roth realmente merece. Ele rege aqui a orquestra que fundou, chamada Les Siècles, um conjunto especializado em instrumentos de época. Que época? Bom, se pensarmos em Debussy… então trata-se de interpretação histórica do século 20. O que faz pouco sentido, mas deixa para lá: o que importa mesmo é que são execuções fabulosas, que unem atenção extrema ao detalhe com uma fluidez de discurso e uma cor notáveis e muito difíceis de conseguir. O mar de Roth é vivo e contínuo, e acho de verdade que estamos diante de uma referência da discografia da obra, para colocar ao lado das gravações clássicas (Munch, Reiner, Karajan, Abbado). O disco é completado por uma raridade: a “Primeira suíte orquestral”, uma obra do jovem Debussy cuja orquestração permaneceu perdida por muito tempo. Não se impressione muito – é só uma curiosidade.

2.

LISZT
“Estudos transcendentais” (1852)

Gabriel Stern, piano
Mirare

Ou você toca muito bem ou sequer tenta – os monumentais 12  “Estudos transcendentais” de Liszt são exatamente esse tipo de música. Há mais de 150 anos! Liszt foi o protótipo perfeito do artista do século 19, e esses estudos são provavelmente sua obra mais significativa. Ao mesmo tempo peças de exibição e pretensiosos exercícios estéticos, funcionam bem tanto para pianistas como para o público – embora este último tenha colocado Liszt em certo segundo plano há algum tempo. Corrija isso já: sim, são mesmo extremamente virtuosísticos, mas os “Estudos transcendentais” também são cheios de música divertida, expressiva, inventiva e muito bonita, principalmente quando tocados como nesse álbum. O jovem franco-israelense Gabriel Stern, de 30 anos, não deixa nenhuma peteca cair: são execuções tecnicamente perfeitas que não sacrificam nada de comunicabilidade e beleza. Vá sem medo.

3.

BACH
“A paixão segundo João”  (1724)

The Monteverdi Choir
English Baroque Soloists
John Eliot Gardiner, regente
Deutsche Grammophon

Essa é a terceira gravação que John Eliot Gardiner faz da dramática “João” de Bach, sempre com as mesmas orquestra e coro. A primeira, de 1986, também para a Deutsche Grammophon (selo Arkiv), é a típica interpretação de época – e com isso eu quero dizer da época de 1990. É uma leitura totalmente estilizada, fria, distante de uma obra tão intensa, tão humana. A segunda, de 2003, ao vivo, não é muito diferente. Muita coisa mudou na versão de 2021, feita em um teatro vazio nos arredores de Londres (pois covid). Gardiner finalmente capturou o caráter imediato, compacto, da obra e restituiu-lhe a vida. Logo o iniciozinho é um exemplo dessa mudança de direção: a entrada do coro tem todo o impacto que o texto fervoroso exige. A impressão é inesquecível, e o restante da gravação mantém toda essa eletricidade até o final, em duas horas que passam bastante rápido. Os tempos são menos rápidos mas muito mais flexíveis que nos registros anteriores – afinal, temos um drama acontecendo (“a maior história de todos os tempos”, já disseram). Até os recitativos são interessantes de se ouvir! Não sei o que fez Gardiner mudar de ideia. Mas estou imensamente feliz por isso.

4.

BEETHOVEN
Sonata para violino e piano no. 9, “Kreutzer” (1809)
[arranjo para violino e orquestra de Colin Jacobsen]

JANÁCEK
Quarteto de cordas no. 1, “Sonata Kreutzer” (1923)
[orquestração de Eric Jacobsen e Michael P. Atkinson]

Colin Jacobsen, violino
The Knights
Eric Jacobsen, regente
Avie

Álbuns hoje em dia não são mais somente discos, são “projetos”. Esse aqui é o “Projeto Kreutzer”, da orquestra The Knights, baseada no Brooklyn, Nova York, e o nome tem um motivo: une a Sonata “Kreutzer” de Beethoven ao quarteto de Janácek entitulado “Sonata Kreutzer” (por causa da novela de Tolstói de mesmo nome, em que a sonata de Beethoven tem papel relevante), através de orquestrações dos irmãos Colin e Eric Jacobsen, fundadores da orquestra. O Beethoven se transforma aqui em um mais ou menos efetivo concerto para violino. E o Janácek vira uma espécie de sinfonia. É na versão do quarteto que o disco brilha. A orquestração é incrivelmente convincente, muito aderente à linguagem de Janácek – parece extraída diretamente da “Raposinha esperta” – e que joga luz em vários aspectos da obra que nem sempre ficam claros no original. É uma experiência fascinante, enriquecida pela execução extremamente virtuosística dos The Knights. O álbum é completado por duas obras compostas especialmente para ele, de Anna Clyne e do próprio Colin Jacobsen, que despertam menos interesse.

5.

FRANCK
Sonata para violino e piano (1886)

FAURÉ
Sonata para violino e piano no. 1 (1876)

MIGNONE
Sonata para violino e piano em lá maior (1919)

Alejandro Aldana, violino
Fabio Martino, piano
Tico Classics

Franck completou 200 anos de nascimento em 2022 e a discografia recebeu dezenas de novas gravações de sua obra mais célebre: a sonata para violino (sim! mais famosa que a sinfonia). Todo mundo, inclusive astros como Renaud Capuçon e Martha Argerich, entrou no bonde do Franckão. Mas a interpretação que mais me chamou atenção não foi de nenhum famoso, não – foi a do duo brasileiro Alejandro Aldana e Fabio Martino. Não somente o Franck deles é lindamente interpretado (tempos e articulação absolutamente perfeitos), mas também o programa do álbum é muito bem pensado. Em torno do Franck, duas outras sonatas de caráter similar e mesma tonalidade (lá maior), uma anterior (a primeira sonata de Fauré) e outra bem posterior (a sonata do brasileiro Francisco Mignone). A beleza da obra de Fauré é conhecida, mas a peça de Mignone é raridade inclusive aqui no Brasil. É música muito bonita, obviamente calcada nos antecessores franceses, mas que vale a pena ouvir. Mignone é um autor irregular, com obras muito bonitas (como o balé “Maracatu de Chico Rei”) e outras bem fracas. Essa sonata, felizmente, pertence ao time certo!

6.

SCHOENBERG
“Noite transfigurada” (1899)
[transcrição para piano de Beatrice Berrut]

MAHLER
Movimentos das sinfonias nos. 3, 5 e 6 (1896, 1902 e 1904)
[transcrição para piano de Beatrice Berrut]

Beatrice Berrut, piano
La Dolce Volta

A obra mais conhecida do mastermind do modernismo musical, Arnold Schoenberg, é justamente a sua criação mais romântica: o sexteto de cordas “Noite transfigurada”, geralmente visto como um híbrido dos dois gigantes da música alemã do seu tempo – Brahms e Wagner. A transcrição da pianista suíça Beatrice Berrut sugere outra genealogia para a obra-prima de Schoenberg: a Sonata em si menor de Liszt. Berrut diz que não se trata de uma transcrição, mas de uma “paráfrase”. Achei a versão dela fiel o suficiente ao original. É claro que a aproximação com a sonata de Liszt é proposital, mas o insight é extremamente convincente e a execução é tão magistralmente realizada que não consigo mais pensar na peça de Schoenberg de outra maneira. Completam o disco várias transcrições de movimentos de sinfonias de Mahler, inclusive o muito célebre Adagietto. São interessantes mas não mais que isso (e colocam o chamativo nome de Mahler na capa). Ouça pela versão de Schoenberg – é uma verdadeira revelação.

Parte 2: Novas descobertas

7.

MUSTONEN
Quarteto de cordas no. 1 (2017)
Quinteto para piano e cordas (2014)

Olli Mustonen, piano
Quarteto Engegård
Lawo Classics

Do pianista finlandês Olli Mustonen, nascido em 1967, você talvez tenha ouvido falar. Mas e o compositor finlandês Olli Mustonen, nascido em 1967, você conhece? Eu também não conhecia, e fiquei positivamente surpreso com esse álbum de música de câmera de sua autoria. O Mustonen compositor é, de alguma maneira, um conservador – sua linguagem vem de Bartók e Shostakovich – mas isso não torna sua música desinteressante ou derivativa. Tem muito de pessoal e cheio de estilo nas duas obras desse disco, principalmente no Quarteto de cordas, de 2017. O contraponto cerrado, dissonante, que começa a obra e o finale “à húngara”, sem dúvida, devem muito a Bartók, mas os movimentos intermediários são bastante únicos. O Quinteto para piano, que Mustonen toca com os colegas do Quarteto Engegård, deve mais a Shostakovich – o movimento central, inclusive, é uma incrível “quase-passacaglia” sobre o “tema da invasão” da Sétima Sinfonia do soviético. Com obras tão interessantes, em execuções tão convincentes, só resta ao ouvinte aguardar o próximo Mustonen aparecer na discografia.

8.

ENESCU
Suíte para piano no. 2 (1903)
Sonata para piano no. 1 (1924)
Sonata para piano no. 3 (1935)

Daria Parkhomenko, piano
Prospero

Em 2021, eu coloquei o Octeto do romeno George Enescu entre as descobertas do ano. Agora é a vez de sua música para piano, graças a esse fabuloso álbum da pianista russa de origem romena Daria Parkhomenko. Enescu não é exatamente um nome desconhecido, mas pouquíssimas peças suas entraram para o repertório – o que é uma pena imensa, Enescu é um compositor incrível. Ele ficou ligeiramente mais famoso como violinista virtuose, mas também era um pianista virtuose – o que se atesta pela escrita muito complexa dessas obras, principalmente da hermética primeira sonata. Se a linguagem expressionista muito carregada dessa sonata parecer um desafio grande demais para você (certamente fácil ela não é), tente a neo-barroca segunda suíte, uma obra imediatamente acessível, repleta de temas que vão fazer você derreter de tanta beleza. A terceira sonata parece um híbrido – a harmonia mais clara da suíte, a forma elaborada da sonata – e soa para mim como a obra mais importante do disco. O finale baseado no hino medieval “Dies irae”, obsessão dos compositores da virada do século, fecha de maneira marcante um álbum que você, definitivamente, precisa ouvir.

9.

RZEWSKI
“O povo unido jamais será vencido” (1975)
“Four North American Ballads” (1979)
“Mayn Yingele” (1989)

Benyamin Nuss, piano
Berlin Classics

O americano Frederic Rzewski, falecido no ano passado, é um dos maiores compositores-pianistas da segunda metade do século 20. Foi aluno de Luigi Dallapiccola em Florença e desenvolveu uma carreira de concertista de música contemporânea. Como compositor, dedicou-se ao seu instrumento e tinha especial predileção pela forma variada. Esse álbum do alemão Benyamin Nuss traz a obra mais conhecida de Rzewski, as 36 variações sobre “¡El pueblo unido jamás será vencido!”, hino escrito por Sergio Ortega alguns anos antes para comemorar a ascensão de Salvador Allende e tornado célebre, após o golpe de 1973, como símbolo da resistência anti-Pinochet. Rzewski pega emprestado o tema chileno e faz dele gato e sapato por mais de hora – há seções de técnica expandida (assobios, gritos, cantarolações, tapas no piano), visitas a um monte de estilos e linguagens diferentes e a formas de toda sorte. Em muitos momentos a canção de Ortega é irreconhecível, ou só sobrevive em um intervalo ou um acorde. Há variações francamente tonais, quase românticas, outras proto-minimalistas, outras muito dissonantes. Chega ao final e o ouvinte não está cansado, mas sim obcecado pelo tema. As gravações clássicas do “Povo unido” incluem a do próprio compositor e a da pianista para a qual a obra foi dedicada, Ursula Oppens. Mas creio mesmo que essa nova versão de Benyamin Nuss seja a mais impressionante de todas. A técnica perfeita une-se a uma visão artística que faz jus às ambições da peça. Melhor divulgação desta obra-prima não poderia haver. O disco é completado por outro conjunto de variações (“Mayn Yingele”, sobre a Noite dos Cristais) e por uma suíte de paráfrases de canções de protesto americanas (“Four North American Ballads”), que complementam “Povo unido” à perfeição. 

10.

DAWSON
Sinfonia “Negro Folk” (1934)

WALKER
“Lyric” para cordas (1946)

STILL
Sinfonia no. 1, “Afro-americana” (1930)

Real Orquestra Nacional Escocesa
Kellen Gray, regente
Linn

O regente Kellen Gray traz aqui um programa composto daquelas que são, provavelmente, as três mais célebres obras sinfônicas de compositores afro-americanos: a Sinfonia “Negro Folk” de William Dawson, a Sinfonia “Afro-americana” de William Grant Still e a maravilhosa “Lyric”, para cordas, de George Walker. (Talvez seja possível incluir na lista alguma sinfonia de Florence Price e a suíte “Black, Brown and Beige” de Duke Ellington. Talvez.) A peça de Walker, sem nenhuma dúvida, é a joia do repertório afro-americano e creio que deveria ser tão célebre quanto o “Adagio” de Barber… ou mesmo que o “Adagietto” da Quinta de Mahler! As cordas da orquestra escocesa nos deram o mais belo registro já realizado dessa pequena obra-prima e isso é suficiente para recomendar esse álbum. Mas o fato é que as gravações que circundam “Lyric” são muito boas também (embora as obras em si sejam mais problemáticas): a sinfonia de Dawson é bastante derivativa (o finale é especialmente engraçado: um patchwork de ideias emprestadas de autores como Sibelius, Bruckner, Nielsen) mas obviamente bem escrita e muito importante de se conhecer. A sinfonia de Still é mais séria, pretensiosa – e provavelmente menos interessante. Críticas à parte, não há versões melhores que essas para nenhuma dessas três obras tão significativas – o que torna o álbum imediatamente essencial.

11.

SANTORO
Sinfonia no. 5 (1955)
Sinfonia no. 7, “Brasília” (1959)

Orquestra Filarmônica de Goiás
Neil Thomson, regente
Naxos

Villa-Lobos é, de longe, o compositor brasileiro mais conhecido, dentro e fora do país, seguido por Camargo Guarnieri. Mas a maior produção sinfônica nacional não é de nenhum dos dois (embora ambos tenham composto sinfonias e as de Guarnieri sejam excepcionais). Esse posto pertence ao amazonense Claudio Santoro, mais novo que ambos, autor de 14 sinfonias que historiadores, críticos, músicos unanimemente aplaudem como o suprassumo do gênero no Brasil. Resta dar circulação a essas obras, que de resto sequer são executadas. A Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) já havia gravado duas delas – a Quarta e a Nona – para a BIS. Agora, graças ao projeto de música brasileira liderado pelo Itamaraty e executado pela Naxos, poderemos finalmente ouvir essa música tão elogiada, tocada pela brava Filarmônica de Goiás e regida por Neil Thomson. O ciclo começou com duas sinfonias nacionalistas, a Quinta e a Sétima. A Quinta é a mais imediatamente acessível delas: ouça o scherzo e você vai ficar eletrizado, tenho certeza. O nacionalismo de Santoro é de um tipo diferente – ritmos e escalas estilizados a partir do folclore, sim, mas sempre a serviço de uma expressão mais universal. A Sétima, composta para a inauguração de Brasília, é uma noz um pouco mais dura de quebrar, mas igualmente satisfatória. São sinfonias densas, mais substanciais que as de Guarnieri, infinitamente mais coerentes que as de Villa-Lobos, que dão a sensação de que acabamos de presenciar algo relevante, grande. A série da Naxos é a maior notícia da música brasileira desde a (re)criação da Osesp. Já foram lançados 14 álbuns, e todos são imperdíveis. Os próximos 16 previstos serão imperdíveis também.

12.

GHEDINI
Concerto para dois violoncelos e orquestra, “L’olmeneta” (1951)

Nikolay Shugaev, violoncelo
Dmitrii Prokofiev, violoncelo
Orquestra Sinfônica Acadêmica de Rostov
Valentin Uryupin, regente
Naxos

Note que é o concerto de Malipiero que recebe top billing na capa, mas eu sequer o menciono. É que para mim não há nem discussão – o Concerto “L’olmeneta” do italiano Giorgio Federico Ghedini (1892–1965) é a maior descoberta de 2022. Eu sequer fazia ideia da existência desse compositor, que era professor em Milão e viu poucas de suas obras serem executadas com mais frequência. Ele gostava especialmente de concertos, compondo vários, para diversas formações – sua obra mais conhecida era justamente um concerto para orquestra chamado “Architetture”. A linguagem de Ghedini é neoclássica com vários twists muito pessoais. A harmonia é predominantemente tonal, mas não convencional. A forma é geralmente livre, com pouca repetição e desenvolvimento motívico constante – nesse sentido, lembra a última fase criativa de Bohuslav Martinu, por exemplo. Mas a linguagem de Ghedini não lembra a de nenhum outro compositor: é incrivelmente original e única. Esse concerto que me encantou tanto é para a formação pouco típica de dois violoncelos e orquestra, e recebe o nome de “O bosque dos olmos” (olmos são árvores muito altas). Ele é estruturado como um longuíssimo moderato entrecortado por um breve scherzo de caça. Todos os movimentos são tocados sem interrupção. Você percebe que a obra é especial e memorável desde seus primeiros instantes – os violoncelos tocando escalas (seria o dia raiando no bosque?) por sobre um murmúrio da orquestra. O movimento lento (logo após a caçada) é inesquecível – rivaliza em beleza com a “Lyric” de George Walker que mencionei acima, porém é muito mais elaborado. O finale te transporta para um mundo ainda mais desolado, e a obra termina como nenhuma outra no repertório. Não entendo por que essa obra-prima tão fascinante é virtualmente desconhecida. Eu levei 44 anos para ouvi-la pela primeira vez, e passei 2022 inteiro com ela nos ouvidos. Por favor, escute. Vai mudar sua vida. (Ah, sim, o disco é completado por obras de Malipiero e Casella, mas… quem se importa?)

Sobre o/a autor/a

5 comentários em “Música clássica: os álbuns de 2022 que você deve ouvir”

  1. Que matéria interessante, obrigada. Para mim, que tomei gosto recente e mais forte por música clássica, foi muito instrutiva e estruturada. Ouvirei tudo, inclusive as referências, aos poucos, para absolver melhor. Feliz Natal.

  2. Boa noite! Concordo plenamente com John Eliot Gardiner
    Não sou fã de música clássica contemporânea não.
    Acho que há muito experimento e pouco conteúdo.
    Fazer o que Bartok faz no concerto n 1 para piano e orquestra, sendo Geza Anda e fricsay, piano e regência, exige inspiração profunda.
    Quanto à convivência com a música clássica, concordo plenamente, exceto no café da manhã. Mas, depois, um Sibelius…e com Karajan, melhor

  3. Lista bem pessoal. Mas valeu, mesmo esquecendo do Bruno de Sá, o que é algo imperdoável, pois há décadas um brasileiro não era unanimidade entre os maiores críticos de música clássica do planeta. Roma travestita é um lançamento impecável e merece, especialmente entre os brasileiros, todo o destaque.

  4. Fiquei surpreso e contente quando me deparei com está matéria. E decepcionado quando vi que nenhum link foi disponibilizado. Espero que encare como uma crítica construtiva, mas poderia ter colocado o link em cada música. Ou criado uma playlist com todas.

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