A vida de Waltel Branco vira livro esta noite

Jornalista Felippe Anibal lança biografia de um dos músicos mais importantes e menos conhecidos do país

Na primeira semana de existência do Plural, começou a ser publicada uma série de textos que agora, quatro anos mais tarde, se transforma num dos livros mais importantes da história da música brasileira nos últimos tempos. Felippe Anibal, na época, já estava atrás de Waltel Branco fazia um tempo, e começava a escrever os primeiros capítulos da biografia. Já dava para ver ali a riqueza do material: as histórias vividas por Waltel na província e no Rio, a convivência com os grandes da música brasileira, o trabalho como arranjador e compositor, tudo estava ali alinhavado em texto de gente grande.

Nesta quarta (29), Felippe lança finalmente o livro que resultou de oito anos de pesquisa. “Waltel Branco, o Maestro Oculto”, publicado pela Banquinho, será autografado pelo autor no Caiçara, no Largo da Ordem. Para falar sobre o resultado, o Plural conversou um pouco com o repórter que se embrenhou nessa tarefa, ao mesmo tempo em que mantinha seu trabalho diário, escrevia para a revista Piauí, fazia crônicas para o Plural e ainda achava tempo de sobra para ser um dos sujeitos mais gente boa da cidade.

Quando você soube do Waltel pela primeira vez? E quando decidiu que ele seria um bom tema para um livro?
Eu sabia do Waltel antes de me mudar a Curitiba, mas muito superficialmente. E a ideia da biografia surgiu por acaso. Em 2015, eu vinha atuando muito em reportagens investigativas e de direitos humanos. Queria um tema mais “leve” para trabalhar paralelamente ao trabalho em redação. Um dia, estava almoçando no Maneko’s e o Waltel chegou. Um sujeito que estava no balcão começou a fazer um discurso, enumerando os feitos do Waltel. Aquilo me deu um estalo. Naquele mesmo dia, fiz uma pesquisa rápida e vi que não tinha nenhuma publicação de fôlego e com rigor jornalístico sobre o Waltel. Pensei: “Caramba, como que ninguém nunca escreveu sobre ele?”. Aí, abracei a ideia pelo caráter inédito e para fazer justiça história a um personagem importante, que estava em uma condição de semi-desconhecido do grande público.

Você chegou a conviver por um bom tempo com ele. Como eram as conversas?
Por sorte, o Waltel morava em um hotel que ficava a três quadras da minha casa. Duas ou três vezes por semana, eu o encontrava. Ele era um entrevistado difícil, não porque se negasse a conversar sobre o quer que fosse. Mas porque conviveu com personalidades tão importantes e esteve em movimentos musicais históricos tão relevantes, que para ele tudo soava muito normal. Era corriqueiro. Às vezes, a resposta para uma pergunta vinha dois ou três dias depois, durante um passeio pela XV ou durante um almoço, por exemplo. Ele tinha o tempo dele. Outro ponto é que o Waltel tinha de 84 para 85 anos quando comecei a entrevistá-lo. Para abordar algumas passagens, era preciso ter muita paciência e estimular a memória do maestro. De que forma? Ouvíamos muito os discos em que ele trabalho, para que ele rememorasse as histórias, eu levava muitas passagens que outros entrevistados tinham contado. Foi uma dinâmica bem diferente do jornalismo cotidiano.

Apesar da importância do Waltel, nunca ninguém tinha escrito um livro ou algo mais longo, que eu saiba. Por que será?
Essa é uma pergunta que pode ter muitas respostas. Pode ter a ver com o fato de o Brasil ainda não valorizar profissionais que trabalham nos “bastidores”, como maestros, arranjadores e produtores – que são profissionais importantíssimos. Pode ter a ver com o fato de ele ter saído do eixo Rio/São Paulo. Pode ter a ver com a máxima do “santo de casa não faz milagre”. Pode ter a ver com o fato de o Waltel nunca ter sido bom em se vender. Pode ter a ver com o tamanho da empreitada – que, realmente, foi dose pra leão.

Como você definiria a obra dele? O que você acha que fica de mais importante?
Tenho para mim que o mais importante foi a pluralidade. O Waltel transitou por todos os gêneros, estilos e movimentos que tiveram relevância ao longo do século XX. Trabalhou com quem você possa imaginar que tenha sido importância para o desenvolvimento da música, em cada um desses gêneros. De quebra, foi um dos pioneiros na criação de uma linguagem musical aplicada à teledramaturgia. Isso sem falar no papel do Waltel como músico erudito, não só como intérprete, mas como compositor. Fazendo uma analogia com o futebol: o Waltel jogou nas onze posições… e foi um craque em todas.

O livro ficou bonito e grande. A editora mostrou coragem, hein?
Rapaz… o Téo Souto Maior, que é o publisher da Banquinho Publicações, foi um doido maravilhoso. Quando apresentei o projeto, ele abraçou a ideia na hora. Pelo número de páginas (508), o livro está meio fora dos padrões das publicações tradicionais, que têm saído bem mais enxutas. Com aquele jeito tranquilão, o Téo sempre defendeu que contássemos a história da forma que ela deveria ser contada. Também merece destaque o projeto gráfico – que eu defino de “classudo” –, concebido pela designer e artista gráfica Livia Shimamura. O livro tem um caderno de fotos de 40 páginas, que está um primor. Bom destacar que essa projeto só foi viável da forma que concebemos graças à lei de incentivo à cultura. O projeto é realizado pela lei da prefeitura de Curitiba, com apoio do Hospital IPO, Instituto de Oncologia do Paraná e Centro de Diagnóstico Água Verde.

Algum próximo projeto biográfico?
Pô, foram oito anos. Por um lado, eu digo: “nunca mais que encaro uma bronca dessas”. Por outro, a “mosquinha” picou, né? Então, vamos ver para onde a coisa vai pender nos próximos anos. Por enquanto, o foco é divulgar o livro, para que a história do Waltel chegue a mais pessoas.

Serviço
Lançamento de “Waltel Branco, o Maestro Oculto”
Quarta-feira (29), a partir de 19h
A Caiçara (Dr. Claudino dos Santos, 90)

Sobre o/a autor/a

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