Jorra sangue nos bastidores de “Nunca terão paz”, da Vigor Mortis

Plural visita bastidores do novo filme da produtora curitibana, feito com humor ácido, romances bizarros e sangue, muito sangue

O Plural fez algo que pode matar de inveja o séquito de fãs do cinema de horror com selo de qualidade “made in Curitiba”. Na verdade, quem tomaria o meu lugar sem medo são os aficionados pelo gênero apelidado de “terrir” – aquele terror um tanto quanto bizarro, com toques de comédia – e sabe-se lá que fim eles dariam ao corpo desta repórter. 

A sinopse da história é a seguinte: descobrimos que um filme intitulado “Nunca terão paz” está sendo rodado na cidade, com roteiro e direção de Paulo Biscaia Filho, e conseguimos visitar o set das filmagens, para revelar os segredos que rolam nos bastidores dessa nova produção da Vigor Mortis – Video, Stage & Words (aquela dos mesmos criadores de “Morgue Story – Sangue, Baiacu e Quadrinhos”, “Nervo Craniano Zero”, “Virgin Cheerleaders in Chains” e “A Macabra Biblioteca do Dr. Lucchetti“). Agora, é a sua vez de matar a curiosidade e descobrir como foi ver o sangue espirrando behind the scenes

A visão do apocalipse

Ao entrar no estúdio montado no Teatro do Colégio Estadual do Paraná para as gravações de “Nunca terão paz”, a visão foi apocalíptica. O que ainda estava em seu devido lugar passou por uma transformação na maior vibe de fim dos tempos, plantas tomavam conta das cadeiras que ainda restavam enfileiradas na plateia e o cenário no palco tinha um quê de destruição caótica, muito bem arquitetada. No meio de muita fumaça, ainda dava para ver um troço estranho, com o maior jeitão de máquina do tempo, todo prateado com direito a escotilha e tudo. 

Diante da câmera, estava Vic, interpretado pelo ator Kenni Rogers, urrando devido a alguma violência bizarra que devia ter acabado de acontecer. Mais tarde, a atriz Michelle Rodrigues, que dá vida à Ari, surgiu para gravar uma sequência com tudo o que se espera ver nos bastidores de uma produção como essa: sangue – em quantidades obscenas – jorrando do trabalho de uma equipe que usa a criatividade para conseguir derramamentos, respingos e jatos perfeitos. A diversão ainda aumentou quando um braço decepado e todo ensanguentado passou por ali, com movimentos quase humanos. Imagine só como vai ser o efeito disso na tela. 

Ator Kenni Rogers.

É legal lembrar aqui que Michelle e Kenni, além de protagonistas do filme, são personagens da trajetória profissional e da vida particular de Biscaia Filho. O ator é figurinha carimbada nas produções assinadas pela Vigor Mortis, os fãs reconhecem o rosto dele com a barba inconfundível facilmente. A história com a atriz é ainda mais longa: Michelle virou uma espécie de musa para o cineasta, além de ter se transformado em sua melhor amiga ao longo dos anos.

De repente algo diferente acontece, uma espécie de explosão com abalo sísmico, que pode ser traduzida como um sacolejão mesmo. E como é que foi feito o tal tremor? Com os braços da equipe e todas as mãos disponíveis, inclusive as do diretor, abaixado atrás de algo para não vazar na cena. Logo depois, aquelas mãos foram vistas carregando um cenário.

Bom humor no set

Nunca terão paz
Paulo Biscaia Filho e Paulo Rosa.

Essa foi a primeira pista de que, para estar ali, era preciso apagar a imagem mitológica de diretores de cinema tiranos com pose blasé. Biscaia Filho é o contrário disso, é evidentemente um apaixonado pelo cinema, daqueles em que se nota um sorrisinho no rosto quase o tempo todo. A segurança e o bom-humor dele são contagiantes, tanto que a rotina puxada das gravações parece bem divertida.

Nunca terão paz

Não é por isso que perde o foco. A prova é que o cineasta só notou minha presença quando já fazia cerca de uma hora que eu observava tudo por ali, e veio bater um papo entre um take e outro, ao mesmo tempo em que conferia em um tablet o shooting board e as imagens captadas, além de dirigir os atores e os técnicos. Sim, ele consegue fazer tudo isso ao mesmo tempo. 

Enredo de “Nunca terão paz”

Quando comentei que o time fez um apocalipse e tanto por ali, Biscaia Filho respondeu de pronto: “Ainda é pouco perto do que devia ser”. Seguiu contando a sinopse do filme: a ação se passa num futuro distante, quando toda a humanidade desapareceu e sobraram apenas os anjos vigilantes (figuras que já estavam no Livro de Enoque, um dos textos apócrifos da Bíblia) enviados à Terra para ficar de olho nas pessoas; entretanto, eles se encantaram e resolveram ter filhos com os humanos. “Aí, Deus ficou ‘puto’ e os baniu, e eu, enfim, dei uma exagerada”, fala o roteirista e diretor. 

É o DNA da Vigor Mortis que vem com a tal exagerada. A imortalidade surge como a pena imposta para esses anjos, que junto com a humanidade, foram esquecidos pelo grande sacana da história, o Deus do Velho Testamento. Achou que era só isso? Tem mais. Existem espíritos vagando na Terra, poltergeists malignos que tornam um romance no centro da trama ainda mais bizarro. 

Nunca terão paz
Mimos de Michelle Rodrigues para a equipe do filme.

Outra curiosidade é que nada ali é por acaso. Como a gente antecipou, o estúdio de gravação foi montado em um teatro, e no enredo isso faz todo sentido porque tem até uma diva do cinema enfiada no meio dessa doideira. Também é a primeira vez que um roteiro da produtora já nasceu para o cinema. Antes, os textos eram sempre levados para o palco primeiro, com sucesso, e depois adaptados às telas, ou seja, a escolha do local é uma piscadinha para a trajetória de 26 anos da Vigor Mortis até aqui.

O milagre do cinema brasileiro

Que fazer cinema no Brasil não é fácil, quase todo mundo sabe, contudo, nem sempre a gente tem a noção do tamanho do milagre que é tirar um filme do papel em terras curitibanas. O longa-metragem “Nunca terão paz” entrou em produção contando com apenas R$ 158 mil, vindos do Mecenato Subsidiado do Programa de Apoio e Incentivo à Cultural da Prefeitura de Curitiba. 

Nunca terão paz
João Ferian e Tati Machnicki.

Após revelar a cifra, Biscaia Filho explicou a importância de contar com profissionais que abraçaram o projeto. A equipe não tem nada de amadora, são alguns dos melhores – senão os melhores – nomes do mercado audiovisual local; gente que participa de grandes produções paranaenses e brasileiras, e que topou trabalhar por muito menos do que costuma receber. Tem quem veio com o talento e gente que trouxe a própria empresa para a história, “Nunca terão paz” tem coprodução de Moro Filmes, Infinitas Produções, Biscuvita Produções, Bruxos do VFX, e Black Horse Filmes.

A pós-produção (montagem, sonoplastia, efeitos, etc) começou e a finalização do filme vai acontecer de um jeito ou de outro, mas a meta é conseguir recursos complementares em editais ou diretamente no mercado, com a apresentação do projeto em iniciativas como a “Blood Window”, feira de negócios dedicada ao gênero horror no Ventana Sur (mais importante evento da indústria do cinema da América Latina). Além de cobrir outros custos, a ideia é que com mais dinheiro os cachês sejam equalizados. 

Para matar de inveja

Se o fã de “terrir” que leu até aqui ainda não estiver morto de inveja, é a hora do golpe fatal: saí do estúdio com um suvenir único. Na despedida, o diretor me presenteou com uma cabeça de osso que era parte de um dos figurinos de Ari. Foi o suficiente para eu ficar ainda mais ansiosa pela estreia de “Nunca terão paz”. 

Longa-metragem “Nunca terão paz”

Trailer do filme “Nunca terão paz”.

O pré-lançamento do novo filme da Vigor Mortis está previsto para outubro, e a estreia será em 2024, sem mês definido. Ficha técnica: Paulo Biscaia Filho, diretor, roteirista e montagem; Giovana Bianconi, assistente de direção; Diana Moro, produtora; Caroline Roehrig; produtora executiva; Desi Davoglio, assistente de produção executiva; Anna Wypych e Nico Wons, assistência de produção; Elke Siedler, coordenadora de luta; João Ferian, direção de fotografia; Sofia Toso, assistente de câmera; Carol Suss; maquiagem; Ivanir Pereira, gaffer; Magnus Pereira, chefe maquinaria; Tati Machnicki, produção de arte; Bettina Martinelli, figurinista; Adri Pedrita, produtora de objetos; Andrei Ceeze, efeitista; Paulo Rosa, som direto; Caio Moura; assistente de som direto; Demian Garcia, trilha e design de som; Nyck Maftum, finalização; Michelle Rodrigues e Kenni Rogers, atores; Lucia Biscaia, fotógrafa still e bastidores. Incentivo: Jeep/Florença e Cibraco Imóveis. 

Para acompanhar as novidades sobre a produção, visite o Instagram oficial da Vigor Mortis.

Sobre o/a autor/a

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima