Três das editoras mais legais da língua inglesa criaram um prêmio literário bienal: a Fitzcarraldo (Reino Unido), a New Directions (Estados Unidos) e a Giramondo (Austrália). O prêmio, batizado de Novel Prize, teve sua primeira edição em 2020 com mais de 1,5 mil trabalhos inscritos do mundo inteiro (desde que estivesse em inglês, poderia ser de qualquer parte do planeta). E a australiana Jessica Au venceu o Novel com breve romance “Frio o bastante para nevar”, que a editora Fósforo publica na primeira quinzena de março.
Não bastasse essa bela história de bastidores, o livro de Jessica Au tem algumas características bem interessantes. Para começar, ele é bem curto para um romance: tem menos de cem páginas. Escrito em primeira pessoa, o livro parece flertar com a ideia de um fluxo de consciência. Embora pareça mais organizado – com vírgulas e pontos, frases conexas e um todo que faz sentido – do que costumam ser os fluxos de consciência.
Frio o bastante para nevar
A narradora é uma mulher que nasceu na Austrália, filha de uma honconguesa. Ela e a mãe viajam ao Japão numa tentativa de se conectar uma com a outra. Mas Jessica Au está disposta a mostrar que as coisas podem ser mais complicadas. Que essa não é só uma história bonitinha em que mãe e filha compartilham momentos divertidos numa viagem. A distância que existe entre as duas é mais difícil de vencer do que parece – a começar pela língua, uma vez que a filha foi alfabetizada em inglês e a mãe só fala com ela em cantonês.
Diz a narradora: “Pensei também que a primeira língua da minha mãe era o cantonês, e a minha, o inglês, e como só falávamos juntas em uma, e não na outra”.
Por fim, o cenário também se impõe e um Japão cinza e chuvoso determina o estado de espírito das personagens.
Livro
“Frio o bastante para nevar”, de Jessica Au. Tradução de Fabiane Secches. Fósforo, 96 páginas, R$ 64,90 e R$ 44,90 (e-book). Romance.
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