Filme sobre burro chamado “EO” faz uma ode à natureza selvagem

Em cartaz no Cine Passeio, obra do polonês Jerzy Skolimowski é também uma triste constatação do universo humano, cruel e desleal

Deslealdade, crueldade e outras facetas desprezíveis do ser humano são testemunhadas por um burro no filme “EO”, do veterano diretor polonês Jerzy Skolimovski. A produção, uma homenagem ao clássico de Robert Bresson “A grande testemunha”, também protagonizado por um burro, é tanto uma triste constatação do universo humano quanto uma ode à natureza selvagem. 

Evidentemente, o burro EO também tem contato com alguns representantes mais dignos da espécie humana, como Kasandra, que treina o animal para apresentações circenses. É o início do filme, e estamos no interior da Polônia. Kasandra, apresentada como uma boa pessoa, gosta do animal e o trata bem, mas é obrigada a entregá-lo para o estado, devido a uma lei local que proíbe a utilização de animais em espetáculos circenses. Começa, então, a jornada do equino, que passará por outras regiões da Europa, terá diversos donos e será explorado, maltratado e ferido. 

EO

A trajetória do animal é mostrada de forma episódica, numa Europa “profunda” e rude. O diretor exibe a sociedade sob tensão, violenta, a ponto de explodir. Há o caso do caminhoneiro que oferece comida a uma imigrante em troca de sexo, os agressivos manifestantes a favor dos animais e a ultraviolência que eclode entre times de futebol rivais. Mas há também, claro, os ambientes sórdidos e cruéis que aprisionam EO. É um grande mal-estar generalizado, que Jerzy Skolimovski revela de maneira objetiva e compacta (o filme tem menos de uma hora e meia) e com uma fotografia em formato quadrado.  

Apesar dos acontecimentos deprimentes, o filme tem belas imagens e som marcante, mas não num sentido tradicional. É como se tudo estivesse sendo notado e retido pelos sentidos do burro, um ser puro que enxerga e ouve o mundo de forma mais bonita e aguçada, dando ao espectador sensações novas. Contribui para esse efeito a trilha musical criada por Pawel Mykietyn, um renomado compositor de música clássica polonês, que faz uma eletrizante mistura entre orquestra e sons sintetizados. 

Jerzy Skolimowski

Como todo trabalho experimental, “EO” divide opiniões. Talvez por parecer que falta algo no roteiro, muito enxuto, e por terminar sem um clímax tradicional. É como um bloco por meio do qual vemos o sofrimento e a solidão do burro e toda essa galeria de tipos, quase todos tristes. Aliás, um deles é interpretado pela francesa Isabelle Huppert, que está em apenas uma cena, talvez a mais desconcertante de todo o filme. 

Filme

“EO” está em cartaz no Cine Passeio com uma sessão diária, às 20h15. Confira a programação aqui.

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