Exposição “Sobre Perecer”, de Monica Hirano, revela a estranheza e a beleza da morte

As obras da artista despertam reflexões sobre o tema mais misterioso que nos conecta como humanos

Fui conferir a exposição “Sobre Perecer” de Monica Hirano na galeria PF 2119 e fiquei surpresa. A sensação provocada pelas obras é de estranheza, o acervo tem uma estética similar a que se pode ver nos audiovisuais das músicas da cantora e compositora venezuelana Arca. Há um tom mórbido e meio assustador, mas com algo orgânico e visceral ao mesmo tempo. Com a fala da própria artista, consegui enxergar mais além.

Para dar luz a quem a gente é 

Um monte de arcada dentárias em gesso empilhadas conectadas a um cano de alumínio que, por sua vez, liga tudo a uma única arcada dentária em gesso aberta em 180 graus com uma vela acesa no centro. Essa obra (que quando descrita pode parecer algo abstrato) explica, numa linguagem sensitiva, quantas gerações são necessárias para dar a luz a sobre sermos quem a gente é. Fora o fato que, através das arcadas, podem ser reveladas informações genéticas preservadas durante muitos e muitos anos. A obra se chamava “Lembrança de quem sou por quem foram” e abre a exposição, está logo na porta de entrada da galeria.

“Toda dor precisa ser ouvida. Por isso resolvi criar obras que falam da tua falta, da pessoa que nasceu em mim depois da sua partida e como resolvi olhar para o meu destino inevitável.”
Monica Hirano

A falta de diálogo e o incômodo de falar sobre o luto e a morte são reflexões que as obras em exposição provocam. Trazem até um olhar de certa beleza sobre o assunto. Pessoas de todas as idades são capazes de sentir e refletir sobre esse tema tão misterioso que nos conecta como humanos.

O conjunto é de arrepiar a pele, pois todo mundo tem um tipo de relação delicada com a morte. Monica conta que uma das inspirações para trabalhar nessa exposição foram os ensinamentos xintoístas que sua avó trouxe durante sua vida e também o budismo. Isso trouxe algumas perguntas, como “o que acontece depois que a gente morre?” ou “como  lidar com a morte e o luto?”. 

O arrepio mais forte durante a visita senti ao me conectar com a obra “Será que trouxe a chave que abre a porta do céu?”, na qual, ao longo de cada argola de uma corrente de metal, a artista encaixou chaves que o pai costumava colecionar quando vivo. Naquele momento, o medo que existe em mim de perder pessoas próximas talvez tenha encontrado uma porta aberta.

Sobre Perecer“, de Monica Hirano

A exposição fica em cartaz até 27 de março, quarta-feira, das 18h às 20h, na PF 2119 (R. Brigadeiro Franco, 2119/2137). Conheça outros trabalhos da artista aqui.

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