Espetáculo “Real Curitiba” escancara uma cidade que muitos teimam em não ver 

Trupe periferia volta à Curitiba Mostra, na programação do Festival de Curitiba, para desmentir mitos sobre a "cidade modelo"

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Sob os holofotes do maior festival de artes cênicas da América Latina e apresentado na Curitiba Mostra, o espetáculo da Trupe Periferia, “Real Curitiba”, fala sobre a realidade das regiões à margem da cidade e documenta a brutalidade enfrentada por quem vive ali. Em grande medida, é uma implosão de mitos sobre a “cidade modelo”, a partir da poesia, dança e música. 

A obra é uma criação coletiva dos integrantes, com direção por Kenni Rogers, a partir da hostilidade que viveram ou viram muito de perto. “A gente precisa que isso seja dito, principalmente por jovens; que fique registrado, no ano de 2023, o que um jovem preto periférico na cidade de Curitiba, ou uma mulher gay, sofre e deixa pautado como arte”, explica o diretor. 

Autoral 

A Trupe Periferia, desde seu nascimento, traz o retrato social como questão central para a arte. A arma das criações é a poesia marginal escrita pelos próprios integrantes do coletivo. Antes de “Real Curitiba”, o grupo montou “A bala alojada na arte” (2019), sobre diferentes violências e que levou para a cena até uma batalha de rima ; “3×4” (2020), um espetáculo virtual que, entre outros temas, falou da hostilização que os entregadores sofreram na pandemia; e “Meninos da Rua XV”(2022), com apontamentos sobre os corpos de crianças e jovens em situação de rua, e que também estreou on-line.

“Já era”, nasce a Trupe Periferia 

Rogers conta que a inquietação que originou a trupe veio do seu trabalho anterior. Em 2014 e 2015 ele encampou o projeto “Paraná Brasil”, com 150 rodas de leitura de autores paranaenses realizadas em Centro de Referência de Assistência Social (Cras), Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), algumas ONGs, e abrigos de acolhimento. Foi então que ele chegou ao Centro de Atenção à Criança e ao Adolescente em Situação de Rua de Curitiba (Casulo): “Quando conheci essas crianças, essa parcela da população, “Já era”. Fiquei inquieto até que comecei a trabalhar na chácara Meninos de Quatro Pinheiros, um abrigo de acolhimento que era em Mandirituba.”

Em 2017, o artista idealizou a Mostra Literatura Paraná, para levar a produção de autores paranaenses à periferia com ações diferentes e até inusitadas. O “Cortejo Literário”, outra iniciativa dele, integrou a programação da Curitiba Mostra pela primeira vez em 2018, a convite da Nena Inoue. Mas foi na participação na Mostra Emergente, com “A bala alojada na arte” (2019), que o grupo de jovens e Rogers se assumiram como Trupe. Entre outros feitos do currículo atualizado, estão passagens pela Festa Literária da Biblioteca Pública do Paraná (Flibi) e pela Festa Literária de Morretes (Flimo).

Oportunidades

A galera do grupo veio de comunidades diferentes, alguns de abrigos de acolhimento, e, no início, a maioria nem tinha 18 anos de idade completos. “Eu sempre precisava falar com o juizado e com o Ministério, por conta dos meninos que ainda estavam em situação de acolhimento, eu precisava de autorização deles”, lembra o artista. 

Os adolescentes (opa, a que chegou por último, Vitória, tem só 10 anos de idade) já eram grandes artistas antes do coletivo entrar em seus caminhos. São poetas do Slam (batalhas de rima), rappers, grafiteiros, e fomentadores da cultura hip hop. 

O grupo recebe muitos contatos e estabelece parcerias, assim abre novas oportunidades para os participantes, como atuar em filmes, documentários, e em espetáculos de outras companhias. O diretor destaca que dois dos jovens conseguiram a DRT (registro para atuar como profissional) de ator e outro a DRT de direção de produção. 

“Papo reto”

Kenni Rogers encerra afirmando que a peça-manifesto ainda mostra a felicidade e a esperança dessa galera, mas a mensagem principal é um “papo reto”: “A periferia é brava. E, a de Curitiba, é uma das mais bravas, fortes, potentes e artística”.

“Real Curitiba”, da Trupe Periferia

Elenco: Mary Jane, Mika, Zago, Poeta Diva Ganjah, Elton Louis, Liah Vitória, Naju, Vitor Bini, Felipe PG, Handal. Na percussão está o bloco “Eu e Tu, Tu mais Eu, Diorlei Santos”, e “Salve Samuca” na dança. Direção de Kenni Rogers. 

Sessão única neste sábado (8), às 20 horas, no Teatro Novelas Curitibanas (Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 1.222 – São Francisco). Ingressos ‘pague o quanto vale’.

Festival de Curitiba

Outras informações sobre a programação do Festival de Curitiba no site do evento ou clique aqui.

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