Professora vai seminua a mercado de Curitiba em protesto contra racismo

Isabel Oliveira foi ao Atacadão vestindo calcinha e sutiã depois de ter sido seguida na loja por um segurança

A professora Isabel Oliveira foi seminua a uma loja do mercado Atacadão nesta sexta-feira (7) em protesto contra o modo como foi tratada no local. Segundo ela, no mesmo dia, quando tentou fazer compras, ela foi seguida por um segurança durante o tempo todo. Sem a roupa, ela pretendia mostrar que não estava armada nem tinha como esconder nenhum produto para furtar. O Atacadão respondeu dizendo que não houve abordagem indevida (veja nota abaixo).

O protesto aconteceu na loja do Atacadão na Avenida Presidente Wenceslau Braz, na região do Portão. A professora, que também é atriz e contadora de histórias, disse que foi ao mercado perto de 12h30 para comprar algumas coisas para o almoço da família e fórmula para sua filha mais nova, um bebê de um ano e dez meses.

“Desde que eu entrei no mercado, um funcionário da segurança começou a me seguir, como se eu fosse uma ameaça”, contou ela ao Plural. Isabel diz que reparou no homem em diversos momentos, como na hora em que parou para ver algo no celular. “Aonde eu ia, ele ia atrás. Quando eu olhava ele desviava o olhar e fingia estar fazendo outra coisa”, afirma ela.

Isabel Oliveira: seminua em protesto contra racismo em mercado. Foto: Reprodução/Instagram

Depois de muito tempo se sentindo intimidada, ela decidiu que não podia mais ficar quieta e conta que perguntou ao segurança se ela representava alguma ameaça. “Ele disse que não, que só estava cuidando do setor”, conta ela. Mas Isabel, que diz já ter sofrido diversos casos de racismo, não acreditou na história e conta que começou a fazer um escândalo na loja – a professora conta que várias pessoas lhe deram razão e a incentivaram a chamar a polícia.

No 190, segundo ela, a pessoa que atendeu disse que não poderia mandar uma viatura, pois a simples perseguição registrada por ela não bastaria para isso. Em seguida, ela fez um primeiro post no Instagram desabafando e ligou para o marido. “Ele deixou as crianças em casa e foi lá comigo”, conta ela, que além do bebê tem um menino adolescente.

Foi aí que surgiu a ideia de Isabel entrar só de calcinha e sutiã. “Eu sabia que podiam até tentar me prender por atentado ao pudor, mas não podia deixar aquilo assim. As pessoas têm que saber que essas coisas acontecem”, conta ela. Isabel escreveu em seu corpo a frase “Eu sou uma ameaça?”, e depois de passar pela entrada, tirou a roupa, andando só com as peças íntimas.

Um único segurança a abordou, perguntando o que estava acontecendo, e ela disse que assim saberiam que ela não representava perigo para ninguém. Isabel e o marido compraram a fórmula do bebê, passaram pelo caixa, registrando tudo ao vivo no Instagram, e depois foram para casa.

Isabel, além de professora da rede municipal de Curitiba, é atriz e contadora de histórias. É integrante da Coletiva Èmí Wá de Teatro Negro e fez sua dissertação de mestrado na Unespar (antiga FAP) sobre a presença do teatro negro em Curitiba.

Outro lado

Procurado pelo Plural, o Atacadão respondeu com a seguinte nota:

A empresa informa que apurou o caso, ouvindo os funcionários e analisando as imagens de câmeras de segurança, e não identificou indícios de abordagem indevida. Desde as primeiras manifestações da cliente no local, a supervisão e a gerência da loja se colocaram à disposição para ouvi-la e oferecer o devido acolhimento. Lamentamos que a cliente tenha se sentido da maneira relatada, o que, evidentemente, vai totalmente contra nossos objetivos. A empresa possui uma política de tolerância zero contra qualquer tipo de comportamento discriminatório ou abordagem inadequada. Realiza treinamentos rotineiros para que isso não ocorra e possui um canal de denúncias disponível, dando total transparência ao processo. Ressaltamos, ainda, que nosso modelo de prevenção tem como foco o acolhimento aos clientes, com diretrizes de inclusão e respeito que também são repassadas aos nossos colaboradores por meio de treinamentos intensos e frequentes.

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32 comentários em “Professora vai seminua a mercado de Curitiba em protesto contra racismo”

  1. A primeira vez que tive em Curitiba a anos atrás, para congresso de trabalho, fui perseguida por segurança de shopping e não foi pela roupa, só quem passa por isso sente no olhar o racismo.
    Aquele momento me fez pensar o quanto é importante as lutas antirracista e o combate ao preconceito de qualquer tipo.
    Nunca pensei em concorrer a uma vaga na política mas seria uma maneira de ocupar locais de ação e mudanças através de projetos.

  2. Bom dia

    O segurança está fazendo seu trabalho….

    Se ela é assaltada e não tem segurança vai reclamar esse povo é cheio de mimimi.

    Deve ser militante de algum partido igual aquele vereador que invadiu a igreja ano passado e o povo ainda escolheu ele para deputado, pode esperar as eleições se essa moça não vai sair como vereadora de PSOL, PT, e outros

  3. Engraçado que no vídeo que o Marido dela gravou. Não aparece o segurança a seguindo!!! A outra coisa é que ela já entra na loja e tira a roupa e já se percebe que ela está pintada dizendo que não é uma ameaça. Então a história está mal contada. Sou conta o racismo totalmente. Meu avô é negro, mas nesse caso , não nada provado.

    1. Rosiane Correia de Freitas

      Oi André, o texto explica que a professora deixou o mercado após ter sido constrangida, foi para casa e daí voltou para fazer o protesto. Por favor, leia antes de comentar, ajuda a não tirar conclusões errôneas.

  4. Ana Oliveira Miranda

    Minha solidariedade a essa mulher, sei o que é passar por isso, e certos seguranças tratam com preconceito não só pela cor da pele, mas também se a pessoa não está bem arrumada, acham que a pessoa por não estar bem vestida não tem dinheiro, as pessoas pessoas precisam parar de julgar pela cor e também pela aparência. Falta rigor na lei contra o preconceito.

  5. Eu sou branca (muito branca) e também já fui seguida em supermercado. As pessoas negras logo acham que é racismo, mas neste caso é só desconfiança mesmo (eles desconfiam de qualquer um, independentemente da cor).

  6. Carrefour perseguindo o nosso próximo Prefeito Renato Freitas,
    Atacadão perseguindo a Professora Isabel Oliveira.

    Porque o MST não abre uma rede de supermercados? Tô cansada de ter que comprar de supermercado racista.

  7. Reinaldo carrijo

    Mimi mimi se a própria loja não viu ninguém nas imagens observando ela então o que pode ser isso e a propósito se percebeu por que não perguntou qual era o pobrema não entendi a atitude e ainda mais sendo uma letrada tem muito mais argumento e cada uma

  8. Eu não sei na pele do que a população preta passa todos os dias nesse país tão difícil, tão hipócrita, tão racista, tão desumano.
    Mas, tenho noção exata de toda a minha enorme solidariedade às pessoas expostas a esse tipo de crime.
    Professora, querida, um abraço imensamente fraterno e na esperança de que um dia sejamos igualmente justos com todos, sem nenhuma exceção.

  9. Silvana Terezinha Santos

    Que pena ainda termos essas atitudes como a do mercado! A Isabel e a todos que passam por esse absurdo meu sincero apoio!

  10. Infelizmente o bate assopra é muito comum no nosso país.
    Seguranças privados são maus preparados e pior, se acham autoridades, confundindo prevenção com inibição.
    Sou solidário à professora, sou branco filho de negra. Minha mãe já passou por situações deploráveis.

  11. Maria Lúcia kleinhans Pereira

    Você foi corajosa e bondosa com outras pessoas. Pois sua atitude melhorará a vida de outras pessoas pretas. Já testemunhei esse tipo de coisa. Suo branca, casada com preto, sei muito bem o que é isso. Ele já passou por isso. Estamos solidários com você.

  12. Florisivaldo Santana

    Parabéns Isabela você tem todo meu apoio parabéns também pelo seu marido o homem de um caráter eque isso acabe um dia o quanto antes todos nós temos que ter empatia pelo próximo bom trabalho Isabel

  13. 👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾🤘🏾🤘🏾

  14. Olha já aconteceu comigo , e olha que sou branca, quando o segurança invoca, pode ser branco, negro, amarelo e “vermelho”, não importa, com esse desgoverno que protege bandido, a situação ficou pior, não interessa a cor!

  15. Infelizmente ainda existem lugares que tratam as pessoas desse jeito. A professora fez muito bem em protestar. Quanto ao segurança, ele fez isso porque é da índole dele e porque a empresa pede. É uma vergonha para o país ter empresas e pessoas prestando esse papel tão vergonhoso.

  16. Patrícia Eliane Silva leite

    Sou totalmente solidária à Isabel,só quem já passou por isso sabe,e admiro a coragem que ela teve de fazer o que muitas de nós tem vontade quando somos perseguidas acintosamente em mercados,e lojas de departamentos,já fiz muito segurança da minha cor ficar rodando nos mercados.

  17. Infelizmente o preconceito contra a população afro ta longe de acabar.E preciso ter respeito ao nosso povo,seja da cor que for e muito triste o Bradil não atribuir aos povos que os ancestrais ergueram essa nação não consegue viver com dignidade. Lamentável, Curitiba depois de Bolsonaro tá difícil pra viver.

  18. Maria Angela da Motta

    Toda minha solidariedade à professora Isabel Oliveira!
    Que seu protesto ecoe e ajude a libertar os corpos pretos da opressão diária a que vêm sendo submetidos.

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