“Duna” extrapola os limites da ficção científica e se revela um grande filme

Você pode se ver preso à história pelo ritmo da narrativa e pela beleza das imagens; produção está em cartaz na HBO Max

Existem filmes de gênero que nunca passam disso. São bons faroestes ou suspenses interessantes… De vez em quando, aparece um filme que ultrapassa os limites do gênero em que se enquadra para virar simplesmente um grande filme.

Na ficção científica, pense em “Blade Runner” e “Alien” (ambos de Ridley Scott), e “2001 – Um Odisseia no Espaço” (de Stanley Kubrick). Talvez não seja exagero abrir um espaço nessa lista para o novo “Duna”, de Denis Villeneuve, em cartaz na HBO Max.

Desde a primeira notícia sobre a nova adaptação, sabia-se que o filme tinha tudo para agradar os fãs de sci-fi. O livro está sempre nas listas de melhores do gênero, o diretor já era conhecido por dirigir a continuação “Blade Runner 2049” e o orçamento era alto, permitindo a contratação de um elenco cheio de rostos conhecidos. Mas “Duna” é bem mais do que isso.

Os méritos do filme, claro, começam no livro. O clássico de Frank Herbert, de 1966 – adaptado para o cinema pela primeira vez em 1984, com um jovem David Lynch na direção – trata de temas importantes, como opressão, colonialismo, geopolítica e meio ambiente. E, se o roteiro da versão de Lynch foi acusado de confuso, a nova versão é límpida e transparente ao contar a história.

O trabalho do diretor e da fotografia também é impressionante no desenho das imagens do planeta em que a maior parte da história se passa. Arrakis, um deserto gigantesco, serve de pano de fundo para a história – e as cenas, embora filmadas basicamente contra areia e metal, são sempre lindas, com um jogo de cores e vazios que dão a exata noção do calor e da solidão do lugar.

Desde o primeiro momento também fica claro que Villeneuve não vai se concentrar em cenas de ação, típicas de filmes para adolescentes. A revolta dos habitantes do deserto (os Fremen) contra seus antigos colonizadores, filmada em câmera lenta, com os rebeldes emergindo do meio da areia, é quase um anúncio de que você está ali para ver um filme que quer ser mais do que uma série de batalhas “épicas”.

A história do primeiro filme (há uma segunda parte anunciada para daqui a um ano) começa com o Imperador determinando a troca de guarda no planeta desértico. É de lá que sai um minério essencial, chamado especiaria, que obviamente é uma metáfora para o petróleo. E logo você percebe que se trata de uma manobra política: o imperador quer jogar os antigos colonizadores contra os novos, para eliminar um possível rival.

Tudo é contado do ponto de vista dos novos colonizadores, os Atreides. Claro: todos os elementos da boa ficção científica estão lá. A tecnologia inovadora dos helicópteros, das máquinas que fazem a mineração, as viagens espaciais; a mãe do personagem principal com suas capacidades paranormais; os sonhos do filho que revelam o futuro.

Mas mesmo quem não costuma se deixar seduzir por esse tipo de artifício pode se ver preso à história pelo ritmo da narrativa, pela beleza das imagens e, sim, até mesmo pelas boas cenas de ação e suspense.

O filme tem grandes chances de ser indicado ao Oscar, um prêmio jamais dado até hoje a uma obra de ficção científica. Não é o favorito e provavelmente não vai ganhar, mas tem méritos suficientes para ser o primeiro a chegar lá.

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“Duna” está em cartaz na HBO Max.

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