“Dois perdidos numa noite suja” volta em cartaz com Wenry Bueno

O ator tem uma relação especial com o personagem que interpreta na peça de Plínio Marcos por "perceber muitos Pacos" nas lembranças da infância, no bairro Cajuru 

“Dois perdidos numa noite suja” volta em cartaz para curta temporada com sessões de quinta-feira a domingo (19 a 22) no palco do Ave Lola Espaço de Criação. A montagem da peça de teatro de Plínio Marcos (1935-1999)tem direção de Silvia Monteiro e traz no elenco William Barbier e Wenry Bueno. A equipe também conta com Guenia Lemos, na cenografia, entre outros nomes da cena do teatro curitibano.

O espetáculo

A estreia da montagem foi em 2019 e, com a pausa imposta pela pandemia aos eventos presenciais, o retorno aos palcos ganha um caráter especial para a equipe. O enredo é um drama urbano em “Dois Perdidos Numa Noite Suja”. A história gira em torno de dois personagens que dividem um quarto em uma pensão: Paco, vivido por Bueno, é um mau caráter malandro que afirma ter alma de artista, e Tonho, papel de William Barbier, que sai do interior para a capital em busca de trabalho. Durante o dia eles trabalham como carregadores e, à noite, discutem sobre a vida, o trabalho e os sonhos. A relação dos dois vai do conflito à crueldade.

Pacos da vida real

O ator Wenry Bueno, que ganhou visibilidade em um dos papéis principais do filme “Coração de Neon” (2022), fala que o espetáculo pede muita energia e técnica para ir ao palco. O carinho dele com o seu personagem na peça de teatro é especial por situações de vulnerabilidade social que viu de perto durante a infância, no bairro curitibano Cajuru. 

“Eu lembro de perceber muitos Pacos, garotos que viviam sozinhos, que tinham uma carência e uma necessidade de chamar atenção a todo momento”, diz ele. Conforme o ator explica, é a falta de uma relação mais humana e de afeto que resulta em diversos problemas, tanto na escola como em outros ambientes. “Era comum esses moleques usarem uma pessoa, pegarem alguém para ser o apoio emocional de todas as formas, mas isso acontecia de uma maneira cruel”. 

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“Amor de porco-espinho”

Na visão de Bueno, seu personagem estabelece um jogo com o outro personagem em cena. “A demonstração de afeto, de amor, se dá de várias formas; Paco sabe que Tonho quer algo, mas não entrega para manter o Tonho por perto”, fala o artista sobre os conflitos do relacionamento em cena e complementa: “É um amor de porco-espinho”.

Crítica ao capitalismo

A importância da peça, ainda segundo o ator, é a crítica ao capitalismo, com um retrato da vida de quem não têm boas condições financeiras e é expulso da sociedade. O que vai para o palco ressalta como é dado valor ao que se tem e não ao que a pessoa é. “Basta imaginar o que acontece ao sair com um sapato furado, nos olhares e em como você se sentirá mal, apesar de estar usando outras roupas perfeitas e das pessoas não o conhecerem”, explica. Bueno termina destacando questões que ficam para a plateia: “Quando é tirado tudo de um indivíduo, se ele fica realmente sem nada, o que essa pessoa é? Como nós enxergamos isso?”

Espetáculo “Dois perdidos numa noite suja”

Temporada de quinta-feira a sábado (19 a 21), às 20h, e domingo, às 19h, no Ave Lola Espaço de Criação (R. Mal. Deodoro, 1227 – Centro). Ingressos à venda na plataforma Sympla, a partir de R$ 25 (meia-entrada). Classificação: 16 anos.

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