Documentário fala de política e dos danos da “cura gay”

O filme conta a história do movimento "pray the gay away" nos Estados Unidos

Quanto tinha 16 anos Julie Rodgers contou para a mãe que era gay. Ainda sem saber muito bem como seria ser abertamente gay, Julie foi levada pela mãe para conversar com um homem da igreja, que explicou usando desenhos e flechas porque ser gay não era normal e como ela iria superar esse “problema”. Pelos próximos nove anos ela foi parte de uma organização dedicada a “terapia de conversão”, ou “cura gay”, a Exodus e foi uma de suas palestrantes mais proeminentes.

Hoje, casada com outra mulher e autora de uma biografia na qual conta sua jornada de ex-gay até se reassumir lésbica, Julie é uma das principais personagens de Pray Away, um documentário sobre os efeitos da “cura gay” em quem saiu do movimento e hoje denuncia a ideia de que é possível, através da fé e da Igreja, deixar de ser gay.

O documentário conta a história do movimento “pray the gay away” nos Estados Unidos junto com a história de diversos ex-integrantes desde os anos 1970. Naquela época, o tabu sobre a homossexualidade e o desejo de pertencimento eram os grandes atrativos de grupos como o Exodus para pessoas ainda lutando com sua identidade.

Várias e várias vezes os personagens falam em pertencimento, em estar num grupo com angústias e dores semelhantes e em se sentir parte daquilo. É o que aconteceu com Julie Rodgers, que por um lado se sentia incapaz de deixar de lado o interesse e desejo por outras mulheres, mas por outro tinha no líder da organização alguém com quem ela se confessava e que era um mentor. Além disso, Julie estava cercada de adolescentes como ela, com as mesmas dúvidas e frustrações.

O documentário não faz nenhuma revelação particularmente bombástica, mas mostra a relação entre política e religião na promoção da ideia de “cura gay” e na reação ao aumento da visibilidade e direitos da comunidade LGBTQIA+. Também mostra como hoje ainda a ideia de “escolher” não ser gay continua viva e atuante em grupos evangélicos por todo os Estados Unidos.

Não é um filme fácil de assistir. A dor de quem viver a “cura gay”, mas depois descreve o pânico, a angústia de se perceber uma mentira é tangível. Mas o mais incômodo é acompanhar outro personagem, uma mulher transgênero que vê a divulgação da cura gay como sua missão de vida. E que oferece aconselhamento e apoio para pais de jovens gays. É como assistir a vítima entrando na garagem escura e saber o que a aguarda lá e não pode fazer nada.

Serviço

Pray Away, 1h41, dirigido por Kristine Stolakis, está disponível no Netflix

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