Bloco Boca Negra luta por um Memorial do Samba em Curitiba

A iniciativa será uma homenagem para Maé da Cuíca e um passo importante para dar protagonismo à cultura popular periférica na capital do Paraná 

O Bloco Boca Negra começou uma nova batalha para derrubar a falsa ideia de que o samba não é importante na história de Curitiba. Além de manter contínuos trabalhos de pesquisa, preservação e valorização do gênero e da cultura negra, agora o grupo pretende transformar a antiga casa do fundador da primeira escola de samba da cidade, Maé da Cuíca (1927-2012), em um centro cultural com espaço dedicado para um memorial.

Concretizar essa ideia não está fácil, mas os primeiros passos já foram dados conforme explica o músico e presidente do Boca Negra, Leonardo Jackson de Lima (mais conhecido como Leo Fé). A proposta é que, no endereço onde morou Ismael Cordeiro da Silva (nome de batismo do Maé), seja construído um conjunto composto por um barracão – para abrigar as atividades do grupo, como oficinas, palestras e rodas de samba – e uma réplica do que foi o lar do importante sambista, o Memorial do Samba – para expor fotos, roupas, instrumentos, documentos e pesquisas, entre outros. 

Mais de 120 pessoas estiveram no Cortejo do Bloco de Samba Boca Negra do Carnaval de 2024. (Foto de: Tami Taketani)

Primeira dificuldade

Hoje a casa original, perto do Viaduto do Capanema, está em péssimas condições de conservação. “A única atividade que acontece lá, desde de 2017, é no quintal, onde finalizamos o cortejo de carnaval do Bloco com uma roda de samba. A casa está totalmente comprometida, caindo devido ao abandono”, conta Leo Fé. 

E não dá para jogar a culpa pela falta de cuidado em um proprietário particular. A região onde fica o imóvel e que foi o berço do samba curitibano, era antigamente a Vila Tassi, atual Jardim Botânico. Ali viviam os funcionários da Rede Ferroviária Federal (RFFSA), com a privatização da empresa no fim dos anos 90, as propriedades passaram a ser posse da União, do Governo Federal. 

Para avançar na empreitada, o Bloco de Samba Boca Negra começou a batalhar para receber a doação do imóvel. Contudo o grupo ainda não é formalizado e as iniciativas que promovem são fruto de paixão e respeito pela memória da cultura local, os mesmos motivos que fizeram a turma buscar ajuda. 

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Apoio 

Quem abraçou a causa foi o Vereador Angelo Vanhoni (PT), conforme explicou o presidente do Boca, que então passou a articular a questão junto aos órgãos públicos em sinal de reconhecimento da trajetória de Maé e da importância do samba para Curitiba. Uma primeira reunião com os representantes da prefeitura foi realizada com resultados que dão esperança sobre o avanço da iniciativa.  

“Conhecendo a história do Maé e a sua contribuição para a cultura, para o samba e para o Carnaval de Curitiba, nos reunimos com o Prefeito Rafael Greca e a presidenta da Fundação Cultural, Ana Castro e propusemos que a casa do Maé, hoje abandonada, fosse transformada em um Centro Cultural e Memorial do Samba de Curitiba. Ambos, cientes do legado do Maé, concordaram”, informou a assessoria de imprensa de Vanhoni”, informou a assessoria de imprensa de Vanhoni. 

O vereador e Leo Fé também estiveram em Brasília para uma reunião com a Ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos do Brasil, Esther Dweck. Ainda segundo a assessoria de Vanhoni, ela “aceitou ceder o terreno para um comodato com a Prefeitura”.

Próximos passos 

Antes da oficialização da cessão do terreno e da formalização do Boca Negra, nada deve avançar. Mas os integrantes do grupo estão dispostos a enfrentar todas as novas batalhas com ajuda de parcerias e buscando acesso a verbas de leis de incentivo à cultura, pois consideram a iniciativa um marco para a comunidade curitibana. 

“A importância de se ter o Centro Cultural com o Memorial do Samba chamado Maé da Cuíca é tirar do apagamento uma história cultural popular muito bonita, desconstruir essa história forjada por uma burguesia de que Curitiba não tem samba, que o povo não gosta de carnaval”, fala o presidente do Bloco. Ele finaliza explicando que a falsa propaganda de cidade de cultura europeia ignora a população periférica. “Quando você quer evidenciar uma história que principalmente não é verdadeira, você precisa esconder outra”.

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