Começa nesta quarta-feira (9) o 4º Encontro Para-Dançar. O evento internacional une bailarinos com e sem deficiência, profissionais e amadores, em espetáculos nas cidades de Curitiba, Paranaguá e Ponta Grossa.
Vinte e sete artistas participam do encontro que, por meio da dança contemporânea, possibilita trocas e reflete a diversidade de corpos e expressões. “Este é um momento muito importante para a dança nacional e internacional, certamente uma quebra de paradigmas”, diz a coordenadora do Encontro Para-Dançar, Simone Bönisch. Ela se refere ao trabalho de bailarinos com corpos que não reproduzem os modelos pré-estabelecidos e recorrentes no imaginário popular. “[São corpos] que, nas suas singularidades, trazem referências de estudo para a construção da linguagem artística corporal”, diz ela.
Na capital, as apresentações serão de quinta-feira (10) a domingo (13), na casa Hoffmann e no Guairinha. Curitiba sedia, ainda, a exibição comentada do filme “Firmamento”, do grupo Nó movimento em rede. E receve também um bate-papo com todos os artistas do Encontro Para-Dançar, transmitida ao vivo pelo YouTube da Associação Brasileira de Apoiadores Beneméritos do Teatro Guaíra (ABABTG).
Participantes
Entre os artistas do evento, estão nomes importantes da dança contemporânea, como o bailarino alemão Roland Walter, que teve paralisia cerebral no nascimento. Em seu novo trabalho “Hi, it is me”, ele aborda experiências e episódios de sua vida, com composição musical própria, reflexão e humor.
O carioca Wellington do Espírito Santo, bailarino do Andef – Grupo de Dança Inclusiva Corpo e Movimento (Niteroi/RJ), participa do encontro em um duo com uma pessoa andante. Espírito Santo conheceu a realidade das pessoas com deficiência aos 12 anos. Ficou paraplégico após um acidente e três meses de internamento no hospital. Na época, o adolescente passou por dois anos de luto, sem sair de casa, até que percebeu o quanto sua família sofria com seu estado depressivo. Resolveu que daria orgulho à mãe e se abriu novamente para a vida.
Foi nesse momento que a dança chegou. Espírito Santo foi convidado a participar do grupo Andef e experimentou a dança. Ele conta que, no início, teve preconceito. Depois, se entregou e percebeu que a dança veio para ficar. “A dança, naquele momento, fez parte da minha reabilitação, me ajudou a enxergar o mundo com outros olhos, me fez acreditar que tudo é possível para uma pessoa com deficiência”, diz o bailarino. Hoje, após 19 anos, Espírito Santo é um dançarino profissional.
“A dança é um universo extenso onde a gente consegue trocar histórias, conhecer novas pessoas, compartilhar certas situações”, afirma o artista. “A gente acaba dando força um para o outro, ajudando, trocando experiências. É onde a gente tem a oportunidade de mostrar que é capaz, que a vida não acabou pra gente.”
Para o bailarino Daniel Silva, do grupo Movidos (Natal/RN), também presente no 4º Encontro Para-Dançar, a dança é uma das formas mais puras e reais da expressão humana: “Desde os tempos antigos, os povos já se comunicavam através de movimentos, de danças, e pra mim a dança é a possibilidade de poder se comunicar, expressar sentidos, expressar sentimentos com os corpos sem que haja a necessidade tão somente das palavras. É permitir que o corpo consiga falar pela gente.”
Outros grupos participantes desta edição são a Companhia Gira Dança (Natal/RN), Marcos Abranches Cia. (São Paulo/SP), Giovanni Venturini (São Paulo/SP), Nó movimento em rede (Curitiba/PR) e Grupo de Dança Sem Limites (Ponta Grossa/PR)
Inclusão
A dança inclui, mas seu universo ainda é pequeno para as pessoas com deficiência, especialmente no Brasil. “A dança ainda é muito segregada, a das pessoas com deficiência é vista como diferente, feita para um evento específico”, afirma Silva. O bailarino quer viver o tempo em que os festivais de dança não precisem carregar o rótulo de inclusivos. “Nós fazemos dança, executamos movimentos, contamos histórias e sentimento com os nossos corpos, e isso independente de ter uma deficiência ou não. A gente luta para que, no nosso país, a dança possa ser entendida dessa forma e para que o universo da dança possa se abrir mais, não só para as pessoas com deficiência, mas para outros corpos não padronizados.”
De acordo com Bönisch, o público ainda é resistente: “Continua presente a ideia de que existe um corpo ideal para a dança. Mas hoje isso não existe mais. Todos os corpos podem dançar. Cada um, dentro da sua singularidade, faz acontecer a dança.”
Enquanto a real inclusão é construída, o bailarino Daniel Silva reconhece a importância do evento para mostrar o trabalho das pessoas com deficiência e inspirar pessoas: “É possível e preciso dançar neste mundo tão conturbado, cheio de guerras, dilemas e problemas. Por que não dançar quando as palavras fogem? Quando já não se tem mais o que dizer, os movimentos estão ali pra expressar o que a gente sente”.
Espetáculos em Curitiba
10 de março
19h30. Casa Hoffmann: “Hi, it is me”, com Roland Walter (Alemanha) e “Canto dos Malditos”, com Marcos Abranches (São Paulo/SP).
11 de março
14h. Casa Hoffmann: Oficina Laboratório de Criação em Dança com a Companhia Gira Dança (Natal/RN).
19h30. Casa Hoffmann: “Vivência Dupla Exposição” com o Nó Movimento em Rede (Curitiba/PR).
12 de março
20h. Guairinha: “Corpo Celeste”, com Giovanni Venturini (São Paulo/ SP) e “Sem Conservantes”, com a Companhia Gira Dança (Natal/RN).
13 de março
14h. Cine Passeio – Estúdio Valêncio Xavier: Exibição comentada do vídeo “Firmamento”, do Nó Movimento em Rede (Curitiba/PR) e conversa entre todos os artistas do Encontro Para-Dançar transmitida ao vivo pelo YouTube da ABABTG.
18h. Guairinha – “Nuvem de Pássaros”, com a Movidos Dança (Natal/RN) e “Sensorium”, com o Grupo Corpo em Movimento (Niterói/RJ)
Espetáculos em Ponta Grossa
9 de março
9h30. Centro Esportivo para Pessoas com Deficiência Jamal Farjallah Bazzi. Oficina Laboratório de Danças Urbanas. Aberta ao público em geral. Ministrante: Raphael Fernandes
19h. Cine Teatro ÓPERA – Conversa com artistas com a Movidos Dança
10 de março
20h. Cine Teatro Ópera: “Corpo Celeste”, com Giovanni Venturini (São Paulo/SP) e
“Nuvem de Pássaros”, com a Movidos Dança (Natal/RN)
11 de março
10h. Buraco do Padre. Performance com Movidos Dança (Natal/RN)
14h. Centro Esportivo para Pessoas com Deficiência Jamal Farjallah Bazzi: Grupo Sem Limites de Ponta Grossa/PR e Grupo Corpo em Movimento Niterói/RJ
20h. Cine Teatro Ópera: “Hi, it is me”, com Roland Walter (Alemanha) e “Canto dos Malditos”, com Marcos Abranches (São Paulo/SP)
12 de março
9h. Centro Esportivo para Pessoas com Deficiência Jamal Farjallah Bazzi: Oficina Dança para/com todos os corpos com Marcos Abranches
11h. Parque Vila Velha: Performance Grupo com o Corpo em Movimento (Niterói/RJ)
11h. Sesc Estação Saudade: Exibição comentada do vídeo “FIRMAMENTO” e performance “Adaptat” com o Nó movimento em rede (Curitiba/PR)
Espetáculos em Paranaguá
9 de março
10h30. APAE de Paranaguá. Oficina “Todo Mundo Dança – experiências sinestésicas”. Dirigida para frequentadores da APAE – Paranaguá. Ministrante: Fernanda Becker
12h. “ADAPTAT”. Praça Fernando Amaro. Performance com o Nó movimento em rede (de Curitiba/PR)
20h. Teatro Municipal Rachel Costa. Espetáculo “Sem Conservantes”, com a Companhia Gira Dança (Natal/RN).