4º Encontro Para-Dançar reúne bailarinos com e sem deficiência no Paraná

Evento acontece de 9 a 13 de março em espaços culturais e pontos turísticos de Curitiba, Ponta Grossa e Paranaguá

Começa nesta quarta-feira (9) o 4º Encontro Para-Dançar. O evento internacional une bailarinos com e sem deficiência, profissionais e amadores, em espetáculos nas cidades de Curitiba, Paranaguá e Ponta Grossa. 

Vinte e sete artistas participam do encontro que, por meio da dança contemporânea, possibilita trocas e reflete a diversidade de corpos e expressões. “Este é um momento muito importante para a dança nacional e internacional, certamente uma quebra de paradigmas”, diz a coordenadora do Encontro Para-Dançar, Simone Bönisch. Ela se refere ao trabalho de bailarinos com corpos que não reproduzem os modelos pré-estabelecidos e recorrentes no imaginário popular. “[São corpos] que, nas suas singularidades, trazem referências de estudo para a construção da linguagem artística corporal”, diz ela.

Na capital, as apresentações serão de quinta-feira (10) a domingo (13), na casa Hoffmann e no Guairinha. Curitiba sedia, ainda, a exibição comentada do filme “Firmamento”, do grupo Nó movimento em rede. E receve também um bate-papo com todos os artistas do Encontro Para-Dançar, transmitida ao vivo pelo YouTube da Associação Brasileira de Apoiadores Beneméritos do Teatro Guaíra (ABABTG). 

Bailarinos com e sem deficiência apresentam duo no Para-Dançar. (Foto: Felipe Escudine/Divulgação)

Participantes

Entre os artistas do evento, estão nomes importantes da dança contemporânea, como o bailarino alemão Roland Walter, que teve paralisia cerebral no nascimento. Em seu novo trabalho “Hi, it is me”, ele aborda experiências e episódios de sua vida, com composição musical própria, reflexão e humor.

O carioca Wellington do Espírito Santo, bailarino do Andef – Grupo de Dança Inclusiva Corpo e Movimento (Niteroi/RJ), participa do encontro em um duo com uma pessoa andante. Espírito Santo conheceu a realidade das pessoas com deficiência aos 12 anos. Ficou paraplégico após um acidente e três meses de internamento no hospital. Na época, o adolescente passou por dois anos de luto, sem sair de casa, até que percebeu o quanto sua família sofria com seu estado depressivo. Resolveu que daria orgulho à mãe e se abriu novamente para a vida. 

Foi nesse momento que a dança chegou. Espírito Santo foi convidado a participar do grupo Andef e experimentou a dança. Ele conta que, no início, teve preconceito. Depois, se entregou e percebeu que a dança veio para ficar. “A dança, naquele momento, fez parte da minha reabilitação, me ajudou a enxergar o mundo com outros olhos, me fez acreditar que tudo é possível para uma pessoa com deficiência”, diz o bailarino. Hoje, após 19 anos, Espírito Santo é um dançarino profissional.

“A dança é um universo extenso onde a gente consegue trocar histórias, conhecer novas pessoas, compartilhar certas situações”, afirma o artista. “A gente acaba dando força um para o outro, ajudando, trocando experiências. É onde a gente tem a oportunidade de mostrar que é capaz, que a vida não acabou pra gente.”

Para o bailarino Daniel Silva, do grupo Movidos (Natal/RN), também presente no 4º Encontro Para-Dançar, a dança é uma das formas mais puras e reais da expressão humana: “Desde os tempos antigos, os povos já se comunicavam através de movimentos, de danças, e pra mim a dança é a possibilidade de poder se comunicar, expressar sentidos, expressar sentimentos com os corpos sem que haja a necessidade tão somente das palavras. É permitir que o corpo consiga falar pela gente.”

Outros grupos participantes desta edição são a Companhia Gira Dança (Natal/RN), Marcos Abranches Cia. (São Paulo/SP), Giovanni Venturini (São Paulo/SP), Nó movimento em rede (Curitiba/PR) e Grupo de Dança Sem Limites (Ponta Grossa/PR) 

O bailarino anão Giovanni Venturini e o grupo Adaptat – Nó Movimento em Rede estarão em Curitiba para o 4º Encontro Para-Dançar. (Foto: Cayo Vieira/Divulgação)

Inclusão

A dança inclui, mas seu universo ainda é pequeno para as pessoas com deficiência, especialmente no Brasil. “A dança ainda é muito segregada, a das pessoas com deficiência é vista como diferente, feita para um evento específico”, afirma Silva. O bailarino quer viver o tempo em que os festivais de dança não precisem carregar o rótulo de inclusivos. “Nós fazemos dança, executamos movimentos, contamos histórias e sentimento com os nossos corpos, e isso independente de ter uma deficiência ou não. A gente luta para que, no nosso país, a dança possa ser entendida dessa forma e para que o universo da dança possa se abrir mais, não só para as pessoas com deficiência, mas para outros corpos não padronizados.” 

De acordo com Bönisch, o público ainda é resistente: “Continua presente a ideia de que existe um corpo ideal para a dança. Mas hoje isso não existe mais. Todos os corpos podem dançar. Cada um, dentro da sua singularidade, faz acontecer a dança.”

Enquanto a real inclusão é construída, o bailarino Daniel Silva reconhece a importância do evento para mostrar o trabalho das pessoas com deficiência e inspirar pessoas: “É possível e preciso dançar neste mundo tão conturbado, cheio de guerras, dilemas e problemas. Por que não dançar quando as palavras fogem? Quando já não se tem mais o que dizer, os movimentos estão ali pra expressar o que a gente sente”.

Bailarinos do grupo Giradança compõem movimentos de acordo com suas singularidades. Foto: Brunno Martins

Espetáculos em Curitiba

10 de março

19h30. Casa Hoffmann: “Hi, it is me”, com Roland Walter (Alemanha) e “Canto dos Malditos”, com Marcos Abranches (São Paulo/SP).

11 de março

14h. Casa Hoffmann: Oficina Laboratório de Criação em Dança com a Companhia Gira Dança (Natal/RN).

19h30. Casa Hoffmann: “Vivência Dupla Exposição” com o Nó Movimento em Rede (Curitiba/PR).

12 de março

20h. Guairinha: “Corpo Celeste”, com Giovanni Venturini (São Paulo/ SP) e “Sem Conservantes”, com a Companhia Gira Dança (Natal/RN).

13 de março

14h. Cine Passeio – Estúdio Valêncio Xavier: Exibição comentada do vídeo “Firmamento”, do Nó Movimento em Rede (Curitiba/PR) e conversa entre todos os artistas do Encontro Para-Dançar transmitida ao vivo pelo YouTube da ABABTG.

18h. Guairinha – “Nuvem de Pássaros”, com a Movidos Dança (Natal/RN) e “Sensorium”, com o Grupo Corpo em Movimento (Niterói/RJ)

Espetáculos em Ponta Grossa

9 de março

9h30. Centro Esportivo para Pessoas com Deficiência Jamal Farjallah Bazzi. Oficina Laboratório de Danças Urbanas. Aberta ao público em geral. Ministrante: Raphael Fernandes

19h. Cine Teatro ÓPERA – Conversa com artistas com a Movidos Dança

10 de março

20h. Cine Teatro Ópera: “Corpo Celeste”, com Giovanni Venturini (São Paulo/SP) e 

“Nuvem de Pássaros”, com  a Movidos Dança (Natal/RN)

11 de março

10h. Buraco do Padre. Performance com Movidos Dança (Natal/RN)

14h. Centro Esportivo para Pessoas com Deficiência Jamal Farjallah Bazzi: Grupo Sem Limites de Ponta Grossa/PR  e Grupo Corpo em Movimento Niterói/RJ

20h. Cine Teatro Ópera: “Hi, it is me”, com Roland Walter (Alemanha) e “Canto dos Malditos”, com Marcos Abranches (São Paulo/SP)

12 de março

9h. Centro Esportivo para Pessoas com Deficiência Jamal Farjallah Bazzi: Oficina Dança para/com todos os corpos com Marcos Abranches

11h. Parque Vila Velha: Performance Grupo com o Corpo em Movimento (Niterói/RJ)

11h. Sesc Estação Saudade: Exibição comentada do vídeo “FIRMAMENTO” e performance “Adaptat” com o Nó movimento em rede (Curitiba/PR)

Espetáculos em Paranaguá

9 de março

10h30. APAE de Paranaguá. Oficina “Todo Mundo Dança – experiências sinestésicas”. Dirigida para frequentadores da APAE – Paranaguá. Ministrante: Fernanda Becker

12h. “ADAPTAT”. Praça Fernando Amaro. Performance com o Nó movimento em rede (de Curitiba/PR)

20h. Teatro Municipal Rachel Costa. Espetáculo “Sem Conservantes”, com a Companhia Gira Dança (Natal/RN).

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