Thomas Mann, além de romancista genial, ajudou a Alemanha a superar o nazismo

Se você quer ter uma ideia de quanto o trabalho de Thomas Mann é impressionante, ouça só essa história: em 1929, deram o Nobel de literatura para ele. Fazia todo sentido, ele já tinha publicado livros que seriam clássicos da […]

Se você quer ter uma ideia de quanto o trabalho de Thomas Mann é impressionante, ouça só essa história: em 1929, deram o Nobel de literatura para ele. Fazia todo sentido, ele já tinha publicado livros que seriam clássicos da cultura Ocidental, como os “Buddenbrooks” e “A Montanha Mágica”. Mas duas décadas depois, em 1948, teve membros da Academia Sueca que acharam que os livros que ele publicou depois eram tão bons que ele merecia outro Nobel. Ele talvez tenha sido o único autor indicado para o prêmio mesmo depois de já ter ganhado uma vez.

A segunda indicação, depois da guerra, talvez tivesse motivações políticas também. Claro, os livros falavam por si. Mas Thomas Mann teve um papel importante enquanto esteve no exílio. Como grande nome da cultura alemã que era, passou a ser um porta-voz contra o partido nazista. Os aliados providenciaram para que uma série de cartas dele fosse lida no rádio. Eram 25 textos desancando Hitler e pedindo que a Alemanha voltasse à democracia.

Curioso é que Thomas Mann nem sempre foi o maior defensor da democracia liberal. Nascido em 1875, Mann chegou a apoiar o conservador Kaiser Guilherme II na loucura da Primeira Guerra Mundial. Alguns de seus primeiros livros, como os “Buddenbrooks”, que narra a decadência da sociedade alemã, são tidos como modelos de pensamento conservador. Também de antes do Nobel é “Morte em Veneza”, uma novela sobre um escritor que se apaixona por um rapaz durante uma viagem à Itália – muito mais tarde, ficou claro com a publicação de seus diários que Mann era homossexual.

Mas com o tempo o escritor foi mudando de lado. Já na República de Weimar, entre as guerras, passou a valorizar a democracia e acabou se tornando um social-democrata. Por isso quando Hitler assumiu o poder, em 1933, seu filho Klaus mandou um recado para o pai, que estava fora do país: era melhor que ele nem voltasse.

No exílio, Mann continuou sendo celebrado e escreveu sempre mais. A lista de suas obras crescia com histórias que até hoje fascinam os leitores, como “Doutor Fausto”. Elaborando a partir da história tradicional de Fausto, Mann conta a história de um compositor que descobre o dodecafonismo – que na vida real era uma invenção de Arnold Schoenberg.

Em seus últimos anos, Mann chegou a voltar para a Alemanha e a viajar pela Europa. A democracia havia voltado, o nazismo tinha ficado para trás, e ele tinha se consolidado como a grande voz da tradição literária alemã no século 20.

Uma curiosidade: Thomas Mann era filho de uma brasileira. Júlia Mann, nascida em Paraty, no Rio de Janeiro, foi criança para Lübeck, onde seu pai tinha parentes. Lá, aos 17 anos, se casou com Heinrich Mann e teve cinco filhos, entre eles o futuro escritor.


Este vídeo é parte das comemorações dos 50 anos do Instituto Goethe em Curitiba.

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