Antes do cinema, Billy Wilder foi um repórter em tempos loucos

Livro da DBA traduz textos que o diretor de “Quanto mais quente melhor” escreveu para jornais vienenses nos anos 1920, já com seu humor peculiar

Billy Wilder (1906–2022) é, fácil, um dos cineastas mais importantes da história do cinema. E isso não é exagero. Ele simplesmente é. Antes de virar o diretor de “Quanto mais quente melhor” (1959), “Crepúsculo dos deuses” (1950) e mais duas dúzias de filmes, esse americano nascido na Polônia teve uma carreira e tanto no jornalismo vienense durante os anos 1920. Alguns dos melhores textos que ele escreveu e publicou foram reunidos em livro e o resultado, “Billy Wilder: um repórter em tempos loucos”, acaba de sair pela DBA.

Uma das características mais notáveis do livro “Billy Wilder: um repórter em tempos loucos”, é a versatilidade que Billy Wilder tinha trabalhando para jornais na primeira metade do século 20. Se hoje um repórter cuida de dar notícias, buscar informações e fazer reportagens mais ou menos longas, cem anos atrás uma figura como Wilder, inteligente como Wilder, trabalhava para um jornal escrevendo artigos de opinião, reportagens especiais, perfis, críticas de cinema e teatro. Sem mencionar que “reportagens especiais” significa quase qualquer coisa, e Noah Isenberg, o organizador dos volume, se desdobra para explicar alguns desses textos.

Billy Wilder

Uma parte do material compilado no livro é do gênero feuilleton, ou ensaio cultural, que Isenberg define como “uma mistura potente de reportagem e reflexões descritivas que havia ganhado considerável popularidade nos jornais”. Os textos que Billy Wilder escrevia pareciam “um ensaio pessoal desenvolto, mordaz, personalizado”. Algo próximo dos textos de opinião publicados hoje.

Numa apresentação saborosa para o livro, Isenberg faz um paralelo cuidadoso entre as coisas que Wilder escreveu e os trabalhos que realizaria no cinema anos depois. E termina contando como, em 1934, ele embarcou num transatlântico com destino aos Estados Unidos levando na mala livros de Ernest Hemingway, Sinclair Lewis e Thomas Wolfe. Para treinar o inglês, que ainda era precário.

Dançarino de aluguel

O livro se divide em três partes. A primeira, “Extra! Extra! Matérias, artigos de opinião e reportagens especiais sobre a vida como ela é”, tem de tudo um pouco. Inclusive matérias de viagem sobre Veneza, Monte Carlo e um “despacho imaginário” de Nova York. Há também o texto em que fala sobre a experiência de ser um dançarino de aluguel no Eden Hotel, atendendo senhoras ricas e desocupadas. “Eu não era o melhor dançarino, mas eu tinha a melhor conversa”, disse Wilder.

Na segunda parte, ele escreve “Perfis de gente ordinária e extraordinária”, com histórias sobre figuras da época que não são conhecidas hoje. A não ser por uma ou outra exceção como o cineasta Erich von Stroheim, famoso com o pessoal mais cinéfilo. E a terceira e última, a mais curta do livro com pouco mais de 20 páginas, reúne as críticas de teatro e cinema.

O maior prazer de “Billy Wilder: um repórter em tempos loucos” é tentar identificar nos textos os traços de personalidade de Billy Wilder, como o seu humor e o seu poder de observação. O segundo maior prazer é prestar atenção nas palavras. No fim, são elas, as palavras, que representam a principal ferramenta de Wilder e aquela com que ele demonstrava mais habilidade.

Livro

“Billy Wilder: um repórter em tempos loucos – Textos da Berlim de Weimar e da Viena entreguerras”, de Billy Wilder. Organização e introdução de Noah Isenberg. Tradução de Tanize Mocellin Ferreira.

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