Respeito pelas pessoas trans

A primeira candidata trans à prefeitura de Curitiba precisa ter direito a seu nome

Desde 2018 a Justiça brasileira reconhece o direito de qualquer cidadão e cidadã de escolher a forma como quer ser chamado. Na ocasião, o Supremo Tribunal Federal, por unanimidade, reconheceu o direito à dignidade humana e os princípios da autodeterminação para decidir pela autorização da mudança do nome no registro civil por pessoas transgênero, mesmo sem a realização da cirurgia de readequação de gênero.

Mas como acontece com todo movimento de mudança social, apesar da manifestação da mais importante Corte do país, setores retrógrados continuam a atuar para constranger e humilhar pessoas trans.

Como esperado, infelizmente, esses esforços ganharam fôlego com a confirmação da primeira candidata trans à prefeitura de Curitiba, a psicanalista Letícia Lanz, do PSol. O partido divulgou nota de solidariedade à pré-candidata, denunciando “sucessivas demonstrações de transfobia que essa reconhecida militante dos direitos humanos vem sofrendo desde que o PSol anunciou a sua pré-candidatura a prefeita da cidade de Curitiba”.

Entre as demonstrações de transfobia apontadas pelo partido está a lamentável insistência do jornal Gazeta do Povo em chamar a candidata pelo seu antigo nome e questionar se, apesar de ela legalmente tê-lo alterado para Letícia em seu registro civil, ele apareceria na urna.

O registro está em entrevista feita com a pré-candidata e publicada em 26 de agosto.

É normal que veículos de imprensa e os próprios jornalistas tenham opiniões e posições morais, políticas diferentes de seus entrevistados. A prática jornalística também nos coloca na posição de interagir com uma grande diversidade de pessoas, algumas das quais talvez estejam fora do nosso círculo social.

Mas mesmo em momentos naturalmente tensos, como no caso de entrevistas quando o interlocutor está sendo acusado de algo, é papel do jornalista agir com respeito. E é responsabilidade do veículo tratar com respeito a informação a ser publicada.

Não é preciso decisão judicial para ser respeitoso. Só é preciso a vontade de agir com humanidade. Pode-se resistir a novos conceitos. Pode-se se apegar a dogmas. Mas não dá para abrir mão do respeito e da civilidade.

A presença de Letícia Lanz entre as candidatas e candidatos, bem como de outras mulheres é um bom momento para lembrarmos que nem sempre a eleição é só sobre quem vai se eleger. Como a democracia exige que exista espaço para todos, os gays, trans, negros, índios, mulheres, pobres estão aí e vão ter que ser ouvidos.

Pode não ser muito. Pode não ter resultados concretos imediatos. Mas, no mínimo, expõe o quão mesquinho o mainstream pode ser ao resistir ao avanço inevitável da civilidade.

E torna mais Plural a Curitiba que vemos na internet, na televisão e nas ruas. É um avanço sutil para pessoas como Letícia, mas um passo gigantesco para quem ainda só sabe conviver com a exclusão do outro.

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