Colombiano é baleado por guarda municipal na Rodoviária

Pela segunda vez em poucos meses a Guarda Municipal de Curitiba atirou em pessoas em situação de vulnerabilidade que buscavam a assistência social do município. Em 7 de novembro do ano passado, um morador de rua foi morto por um […]

Pela segunda vez em poucos meses a Guarda Municipal de Curitiba atirou em pessoas em situação de vulnerabilidade que buscavam a assistência social do município. Em 7 de novembro do ano passado, um morador de rua foi morto por um guarda dentro da Casa de Passagem. Nesta sexta (2), um colombiano que procurava atendimento na Casa da Acolhida e do Regresso também foi baleado.

A Prefeitura de Curitiba não divulgou o nome da vítima, que foi levada às pressas com um tiro no abdome para o Hospital Cajuru. O nome do guarda municipal também não foi informado. Por enquanto, só o que se tem é a versão do próprio guarda que atirou, e que disse não ter tido outra opção depois de ter sido, segundo ele, ameaçado com uma faca.

Segundo o guarda, havia quatro colombianos em frente à Casa da Acolhida e do Regresso, na Rodoferroviária. Um deles teria se deitado no chão e foi abordado para que se levantasse. Na versão do guarda, o homem se irritou e teve início uma confusão. O guarda teria tentado usar “armas menos letais” ao ver que o colombiano estaria com uma faca, mas acabou disparando sua pistola e acertando na barriga do homem.

Os três outros homens teriam sido encaminhados para uma delegacia para depor sobre o caso. A Prefeitura também disse que câmeras de segurança registraram o que aconteceu, e diz que enviará as imagens para a Polícia Civil.

Mortes e tiros

Nos últimos anos, depois de passar a ter um papel mais ativo na segurança pública, a Guarda Municipal tem se envolvido seguidamente na morte de cidadãos em Curitiba. Desde 2006 foram registradas 16 mortes causadas por ação da guarda, além de muitos outros casos em que cidadãos acabaram feridos.

Criada originalmente para cuidar de edifícios da Prefeitura, a Guarda passou a usar armamentos e a atuar como um policiamento ostensivo. O escopo de atuação também aumentou e a guarda passou a atuar contra todo tipo de delito.

Rafael Greca pede e padre abençoa armamento da guarda. Foto: Arquivo/SMCS

Os casos de morte por tiros de guardas levaram um membro da guarda a ser expulso depois de matar o jovem Matheus Noga, de 22 anos, a tiros no Largo da Ordem em 2021, por exemplo. Ficou claro que o agente extrapolou aquilo que a lei lhe permitia fazer e atirou indevidamente no rapaz.

Em 2023, o jovem Caio Lemes, de apenas 17 anos, foi baleado por um guarda e morto sem que tivesse sequer envolvimento com qualquer ação ilícita. Os guardas admitiram mais tarde plantar uma faca na cena do crime para tentar justificar a ação violenta.

Sindicato

O sindicato dos guardas municipais de Curitiba (Sigmuc) afirmou depois do caso da sexta-feira, em que o colombiano foi baleado, que o agente agiu em autodefesa e criticou as condições de trabalho da categoria, dizendo que não poderia haver apenas um guarda num local onde há dezenas de pessoas.

A Guarda Municipal afirmou em nota enviada à imprensa que “está atenta às condições de trabalho da Guarda Municipal e informa que, somente durante a gestão Rafael Greca, foram nomeados 481 novos guardas municipais. Além disso, houve aquisição de novos equipamentos de proteção individual, armamento mais moderno, novas viaturas e investimentos na formação dos profissionais”.

Câmeras

Há algum tempo, Curitiba vem debatendo a necessidade de uso de câmeras corporais pelos guardas municipais. Um projeto de lei do então vereador Renato Freitas (PT) tentou obrigar a Prefeitura a implantar o equipamento, mas acabou não sendo aprovado desta maneira.

Em maio de 2023, Greca anunciou uma regulamentação das câmeras e afirmou que havia pouco mais de 500 câmeras disponíveis para os guardas. No entanto, há cerca de 1,6 mil agentes na corporação. Não há informações da Prefeitura se o guarda envolvido no caso da Casa da Acolhida e do Regresso estava portando o equipamento.

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3 comentários em “Colombiano é baleado por guarda municipal na Rodoviária”

  1. Primeira e única força de segurança criada já na Redemocratização, inicialmente com a função de guardar os bens do município, a Guarda deveria ser uma polícia diferenciada, uma guarda para a democracia, que combinasse o respeito absoluto aos direitos do cidadão com o uso inteligente e proporcional da força para assegurar a ordem e o cumprimento da lei. Bem longe disso, a GM tornou-se mais um braço truculento de repressão militarizada, com seguidos episódios de abuso das armas, que passou a usar desde a ampliação de suas funções, sempre tendo como destinatários os elos sociais mais frágeis. Dezenas de GMs e viaturas de reforço para revistar dois ou três mochileiros, eis uma cena com valor metafórico sobre a situação atual da Guarda, desorientada e perdida e com.pessima imagem pública. Os elementos da GM são menos responsáveis por esse estado lastimável de coisas do que o administrador municipal, indiferente a história e as finalidades da guarda, e francamente antissocial, para não dizer abertamente fascista. A solução para a GM definitivamente NÃO é a ampliação do efetivo, mas uma completa reformulação da força, com a reeducação e requalificação técnica e cívica de seus quadros. Primeiro passo, desarmar, trocar o gatilho rápido pela faixa preta de judô.

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