Ele está montando a CazéTV do Paraná. E o plano é ousado

Gabriel Carriconde usa sua experiência como locutor para criar o Canal do Carrica em parceria com profissionais e blogs de torcida

A primeira vez que Gabriel Carriconde viralizou na internet com uma narração foi em 2021. O meia Celsinho, do Londrina, tinha sido alvo de racismo num jogo contra o Brusque, pela série B. Na partida seguinte, contra o Coritiba, Celsinho fez um gol e comemorou com gestos do movimento negro. Carrica narrava a partida pela Rádio Cidade e fez uma narração emocionada do gol, um verdadeiro desagravo contra o racismo.

Dois anos depois, fora das rádios, Carriconde sentiu o desejo de voltar ao microfone. Mas agora queria fazer tudo diferente, por conta própria. E inspirado pelo sucesso absurdo da CazéTV, resolveu que ia tentar fazer as coisas acontecerem na marra. Carregando seu computador de mesa a cada jogo para o estúdio, passou a fazer a locução das partidas de Coxa e Athletico.

Quatro meses depois, o canal começa a engatar, numa parceria com blogs de torcidas e com a adesão de vários profissionais. Ainda está longe do sucesso que Carriconde quer alcançar, mas os primeiros passos parecem ser firmes. A seguir, uma conversa com ele mostra a atual situação do “Canal do Carrica”.

A ideia é mesmo ser uma Cazé TV local?
É um sonho, a CazéTV é uma grande referência. Acho que o modelo Cazé entrou para mudar de vez não só sistema de transmissão, porque o streaming ganhou muita força. Mas também muda o modelo e o jeito de fazer comunicação esportiva, sem perder a relevância da informação, com um modelo de negócio muito forte, sem ser quadrado. O internauta participa o tempo todo e se sente identificado. Não é mais uma relação fria. Claro que é um modelo também de pessoalizar a comunicação. De certa maneira eu sou crítico a isso, porque individualiza demais o processo de comunicação, como se dependesse de uma pessoa só, o que é uma mentira. Meu grande sonho é ser a Cazé TV local mesmo, porque no Paraná e no Sul tem espaço para isso.

De onde surgiu a ideia de começar?
A minha ideia de montar o canal surgiu num momento em que eu estava procurando voltar a narrar. Trabalhei nas rádios aqui, mas eu sentia e sinto que o meio ainda está muito burocrático, está muito frio. A gente ser que o nosso tenha uma linguagem diferente. Que tenha muita credibilidade, mas que tenha entretenimento e o humor. Eu falo que tão importante quanto a notícia do espetáculo é o espetáculo da notícia. Tem que levar assas duas coisas em consideração sem que isso desinforme. E achei que era o modelo ideal para isso.

O começo é sempre o mais difícil. Como está sendo?
Eu comecei no Athletiba de outubro passado na base do ódio. Eu estava com muita vontade e chamei algumas pessoas bem interessantes pra fazer. E a gente montou um projeto e sempre com essa ideia de fazer algo diferente. O pessoal tem essa noção de que criar conteúdo pra internet é soo sentar e fazer, mas não é assim. Tem que ter muito objetivo, muito foco, capacidade de mudar as coisas sem perder a essência.

Não está sendo fácil. Consegui que as pessoas aderissem com muita convicção. E na questão da verba estamos mostrando para o mercado publicitário que tem um jeito novo de fazer, levando em conta aquilo que o rádio tem de muito legal, que é a informação e a emoção.

Mas eu ainda uso meu PC de mesa, que levo nas costas todo jogo. Hoje ainda bem que a gente tem outro narrador, o Anderson Luiz, um baita narrador, que já foi da Premiere, ex-SporTV. Ainda alugo equipamentos. A maior parte dos contratos que temos é de permuta, ainda estamos atrás de investimentos. E queremos ir além das transmissões, ter programas, live na Twitch… Não é fácil, mas a gente acredita demais na ideia.

Quantos jogos vocês transmitem hoje por semana?
Hoje a gente transmite os jogos de Coritiba e Athletico. Quando voltar o Paraná vamos fazer também. Transmitimos também em áudio a Champions League. Vamos começar no mês que vem a transmissão de esportes americanos em áudio, com SuperBowl, playoffs da NBA. Pretendo atacar futuramente uma suburbana, também, valorizar nosso futebol regional. E às terças a gente tem um programa agora que é “Geral do Carrica” e às quintas tem uma live na Twitch.

Como é essa parceria com os blogs das torcidas?
Hoje temos parcerias com dos blogs, da torcida do Coritiba e do Athletico, a Rede Coxa e o Athletico M1l Gr4u. A empresa que toca o canal também representa eles comercialmente. Essa parceria visa valorizar a cultura local da torcida, ter um espaço aberto pro torcedor se encontrar e valorizar aquilo que a gente tem de melhor no nosso futebol, que são os nossos times. Em outros estados essa cultura do rival como inimigo já está sendo superada. Essa visão provinciana enfraquece, não fortalece. A gente tem que criar coisas em conjunto, valorizar a rivalidade e superar esse provincianismo que existe hoje em Curitiba.

Vocês pretendem no futuro ter a imagem dos jogos?
Eu não vejo o Canal do Carrica como uma rádio web. Vejo como um áudio streaming. Temos imagens da equipe hoje. Mas estamos construindo para no futuro ser um canal de streaming de imagem. Nosso plano é ousado é ter daqui a dois anos condições de comprar direitos e transmitir imagens do Campeonato Estadual. Não é algo muito distante nem impossível e estamos nos organizando pra isso.

Aonde dá pra chegar com tudo isso?
Se tudo isso der certo, o céu é o limite. E o céu é a transmissão de uma Copa do Mundo. Ninguém imaginava que o Casemiro Miguel em dois ou três anos estaria fazendo isso. Então eu também tenho essas metas ousadas. Acho 2026 difícil, mas por que não 2030? É um meio difícil, de muita sabotagem, de muito desdém para quem está começando, mas a gente está aí, trabalhando para acontecer.

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