palavras-chave

quando treinava redação pro vestibular eu não curtia as de resumir. era embaçado ter tão pouca linha. o que que não importante? lápis borracha água. levava duas caneta de cada cor porque ninguém é obrigado a emprestar. uma vez emprestei um ukulele pra um mano e aí ele e a namorada brigaram e o ukulele foi pela janela. fiquei sentido mas não cobrei. um tempo depois ele me deu uma peita do 2pac. dá pra sentir quando é de coração. quando não é também dá. esses dias me perguntaram se pessoa de aquário é rancorosa. se eu fosse resumir o que acho sobre uma pessoa de aquário eu começava pelo título. tava reparando. quase sempre começo crônica pelo título. é diferente de carta. diferente de textão no insta. no insta se tu bota umas hashtag na publicação aparece gente de tudo quanto é canto curtindo seguindo xingando. me sinto um biscoito da sorte. me sinto um josé de um domingo no parque. no intervalo do trampo dominguera leio as palavras-chave que escolhem pra cada crônica. artistas de rua masp os gêmeos curitiba fantasma dark side of the moon michael jackson injúria racial preconceito raiva. aí mando o link pra minha mãe. volto pra detrás do balcão. nem no trampo com cliente aplicando prova de resistência do líder eu me deixo representar pela raiva. me representa um bom dia. um com licença. um o lixo a sua esquerda por favor. final de semana desses uma cliente podia só ter dito que queria o chocolate quente mais quente mas não. botou a fichinha no balcão e me fez ler em voz alta enquanto perguntava tá escrito o quê? quente? então chocolate quente é quente ou frio? você é muito esperto… será que no futuro a gente vai ser atendido por hologramas? será que nossos umbigos aumentarão? pensando essas fita giro a roleta. vejo pessoas dormindo em pé. vejo pessoas caçando lugar. a real é que ninguém é responsável pelas horas que passo no bonde e tem motora que pelamor. baixa um ayrton senna parece. fecho o livro pra não gorfar. leio os adesivos de proibido comércio no interior do veículo passagem dias de semana domingos e feriados R$5,50 e olho pra baixo. aí sobe o cheiro da marmita. da mochila virada pra frente porque não tenho olho nas costas. direto me sinto tonto correndo atrás do bonde. foda mesmo é quando vira o pote de feijão. alguns livros da biblioteca pública têm cheiro de tempero caseiro.

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