Cenas de um país triste
Agora vivemos todos no país gigante assombrado pela fome
Agora vivemos todos no país gigante assombrado pela fome
Penso que eles me ajudaram a perceber, talvez mais cedo do que aconteceria de outra forma, o privilégio desse amor que não cansa, desse cuidado que não envelhece, e que assumiu inúmeras formas ao longo da vida
Eu daria tudo naqueles dias para ter acompanhado esses momentos, que são preciosos para mostrar como as crianças veem o mundo
Penso que não é amor o que falta na cena. Ela é veladamente, mas também exuberantemente, amorosa
Sai uma notícia espetaculosa, já fico na expectativa de aparecer um conterrâneo envolvido
Não havia internet. Era preciso ler os principais jornais antes das entrevistas para tomar pé dos últimos acontecimentos. Prestar atenção em quem estava nos palanques, tentar conseguir alguma informação de bastidor, lutar por um bom lugar no quebra-queixo, quando o candidato aceitava atender a imprensa
Talvez pense que está tudo certo, que é assim mesmo, que essa é a vontade de Deus e que se você não chegou lá é porque não se esforçou o bastante. Mas não, Doralice. Isso não é coisa de Deus, isso é do homem. A ganância, a ambição, a podridão. A fome, a sede, a humilhação
Ando por aí contando de 1 a 9 sem que ninguém perceba, já que minha habilidade chegou ao ponto de não precisar repetir dois passos com o mesmo pé para alcançar o objetivo
Pergunto à minha mãe se a voz do meu pai era grave ou aguda, se ele falava alto, como nós que ficamos depois dele, ou mais baixo. Ela dá algumas indicações, mas nenhuma reconstitui a voz
Escolheram móveis para quartos de nenê na mesma loja, compraram livros do mesmo velho comunista que visitava locais de trabalho carregando a mala cheia de obras em papel-bíblia. Foram felizes, e às vezes infelizes, cada um à sua maneira