Isolamento social dia 174

Querido diário: na sexta foi anunciado que Curitiba estava de volta ao alerta laranja. Devido ao aumento da contaminação, crescimento de mortes, etc, teríamos que tomar providências urgentes para que menos pessoas morram.

Na segunda.

Oi?

A partir de segunda.

Mas essas medidas emergências não estão sendo tomadas porque isso é uma emergência?

Sim.

Então faz agora!

Não… Segunda. Todo mundo tem aí mais dois dias pra contaminar, dar uma espalhadinha extra. Depois chega! Depois acabou e volta pra casa.

…?

Eu sei que sou bem idiota, mas nem tanto. Eu entendo a razão disso, tá? Espaços comerciais, feiras, etc, que estão com a corda no pescoço devido a nossa quarentena interminável já tinham planejado os próximos dias e um novo corte abrupto da sua movimentação apertaria ainda mais a corda em seus pescoços. Eu entendo. O que eu não entendo é como os nossos governos lidam com o conceito de emergência

Quando a pandemia começou, eu escutei um economista gringo dizendo que mediante uma catástrofe mundial não havia muito o que fazer, seria necessário aumentar a dívida pública, salvaguardar a população, e lidar lentamente com esta dívida nos anos seguintes, com a ajuda de seu povo que tinha sido preservado. Mas o que eu vejo é morosidade. 

Aos artistas, como eu, foram prometidos com a ajuda da Lei Aldir Blanc, que tem tantos percalços burocráticos no caminho, que até agora não chegou pra ninguém (faz seis meses já). Os outros comerciantes, o que se viram obrigados a fechar, também não viram agilidade em seu resgate.

Só os bancos viram, mas faz décadas que a gente sabe que banco e governo viraram sinônimos no Brasil.

Então, quando a emergência chega, há essa migalha de tempo a mais pros comerciantes, porque assim o governo (que não deveria ter aberto tudo, pra começo de conversa) não precisa vir ao seu auxílio. O governo está pagando com o sangue dessa contaminaçãozinha extra deste final de semana, que não dá nada! Afinal, o que é uma vidazinha a menos quando os nossos bancos estão seguros?

Querido diário: nunca lide com uma emergência do jeito que o governo lida. Pode ser tarde demais pra quem você ama.

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