Alunas transformam banheiros em exemplo de solidariedade feminina

Entre o cinza do cimento exposto e os tijolos à vista, as barras e estruturais do bloco amarelo, no campus da PUC Curitiba, indicam a razão do nome corrente do Bloco 1. As letras brancas, em caixa alta, não deixam dúvidas aos visitantes: chegamos à “Escola de Educação e Humanidades”. Em meio às árvores que compõem o visual do campus, os três andares da construção encaram a Rua Imaculada Conceição.

Lá dentro, parece haver uma configuração padrão: banheiros na coluna que dá suporte às escadas, salas de aula distribuídas pelos corredores à direita e à esquerda, piso frio recobrindo o chão, e claro: portas, encanamentos e outros detalhes recobertos por uma tinta amarelo-ovo.

Não à toa, quem cruza a estreita porta dos banheiros femininos, do primeiro e do segundo andar do bloco, pode pensar que sabe exatamente o que vai encontrar. Inúmeros cubículos com vasos sanitários, e cubas, perfeitamente alinhados, quiçá um espelho. Ali, no bloco de humanidades, no entanto, uma iniciativa calorosa conseguiu brotar – e se sustentar – em meio à fria louça sanitária.

Colados nos espelhos, os papéis coloridos têm diversos formatos e cores, e trazem mensagens distintas: “Lute como uma garota”, “você é forte”, “sim, você pode”, “Girl Power”, e – não menos importante – o número do centro de valorização da vida: 188. No segundo andar, há – ainda – um cuidado extra: uma pequena caixa plástica, rosa, contendo absorventes, e os dizeres “Se faltar, use. Se sobrar, deposite”.

A ação não é inédita, caixas e recados similares já foram vistos pelos banheiros da Universidade Positivo e de prédios da Universidade Federal, como o da Reitoria. Lugares por onde cada vez mais mulheres passam – e muitas outras irão passar.

Caixa solidária e mais recados no banheiro do segundo andar do bloco amarelo

A gentileza, a princípio, pode parecer um ato entre completas estranhas – não se sabe ao certo quem doa, quem usa, quem escreve, quem lê. Mas a verdade é que há um laço invisível, que nos une a todas, conhecidas ou não: o ser mulher. Uma essência na qual nos reconhecemos umas nas outras, independente das nossas trajetórias pessoais. Idealizada pelas estudantes do curso de história, Gabriela de Abreu Santos e Natália Kvet. “Essa pequena ação é importante pra todas nós entendermos que estamos juntas nesse desafio que é ser mulher. As mulheres precisam de mulheres. Nós por nós. Sempre”, salienta Natália.

Deixo escapar um sorriso ao ler um dos papéis, escrito pelas meninas e colocado mais abaixo. As letras vermelhas, garrafais, declaram: “Podem tirar os papéis 1.000 vezes, que colaremos mais 1.000 se preciso”. Colocada ali no espelho, uma pequena definição do que significa ser mulher.

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