Gente que gosta de gente (e não só da gente)

Eu gosto mesmo de gente que se importa.

Não comigo.

Não mesmo.

Talvez só o suficiente. O natural.

Não tenho carência desse tipo e sou um tanto independente demais pra querer tanto cuidado.
Autossuficiente, ausente… O que for.

Na verdade, eu gosto de gente que gosta de gente. E não só DA gente.

Mas DE GENTE.

É diferente.

Gente que se importa com os outros

Não só com os seus.

Com os outros.

Com todos.

Gente que sente a dor do que sofre.

Que sente aperto no peito ao ler a notícia triste e o sangue ferver lendo os comentários injustos.

Gente que chora vendo alguém chorar.

Gosto de gente que enxerga o outro. Enxerga de verdade.

Enxerga o mendigo na calçada, o senhorzinho com fome, a criança pedindo no sinal.

Enxerga, mas não como todo mundo. Não como a maioria. Não como só mais uma cena da paisagem diária.

Enxerga como problema.

Enxerga como ferida aberta.

Como coisa a resolver.

Como outro alguém que tem uma história, que devia ser ouvida, entendida, transformada.

Gosto mesmo de gente que não fica quieto quando tá tudo errado.

Gente que se esforça pra entender o outro, mesmo quando o outro é tão diferente dele.

Gente que acredita na palavra de quem é vítima de tanta coisa ruim.

Gosto de gente que além de gente é humano, no sentindo profundo da palavra.

Gente que se importa até com quem tá longe vivendo aquela realidade que nunca foi sua. Que nunca vai ser. Mas que é de alguém e isso basta. Isso devia bastar.

Gosto de gente que fica triste com tanta notícia triste e que, vez ou outra, deixa a merda do mundo estragar seu dia.

Mesmo que essa merda não seja sua.

Que essa merda nunca estrague a sua vida.

Eu gosto de gente que se importa.

Mas não só isso.

Eu gosto de gente que se importa e se movimenta.

E se revolta.

E que grita!

E que tenta. Mesmo que não consiga.

Gosto mesmo é de gente que não gosta só da gente. Mas DE gente.

E por isso mesmo… se importa.

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