Uma parábola em tempos infodêmicos

Entre letras, dúvidas, vírgulas e outras interjeições, quase nenhuma conclusão e muito a refletir

Uma parábola para ilustrar e abrir a prosa!

“Era uma vez, um emaranhado de informações que se reuniam em uma rede e confabulavam sobre quem estava certa.

Nem vem, eu cheguei primeiro – manifestou-se um punhado de letrinhas.

É, mas fui eu quem viralizei, afinal sou mais engraçado – gritou o meme logo atrás.

Vamos conferir a data e hora dessas publicações, por gentileza – contestou a interrogação.

Enquanto a discussão rolava, as notificações não cessavam. Assim, crescia deliberadamente o número de novas perspectivas, o que só dificultava a compreensão do que estava realmente acontecendo.

É impossível se concentrar dessa maneira. Será que não podemos esperar alguns minutos para processar o que temos até o momento? – sugeriu o primeiro artigo publicado.

É impossível mesmo! – concordou a matéria principal que estampava a home do portal – porém, lamento noticiar que por aqui só um corte de energia ou o fim da internet para suspender esse fluxo. Sinto que estou ficando para trás.

Recém-chegado no diálogo, o algoritmo estava intrigado:

Afinal, por que essa busca incessante pela verdade? – disse ele.

Também não consigo entender. Acho que deveríamos relaxar e largar esse controle. Eu, por exemplo, já mudei de ideia 200 vezes com tanta informação nova. Está até difícil carregar o que está sendo publicado, pensando em apelar para NOT FOUND ou ERROR 404 – apoiou o botão F5.

Freneticamente o teclado não parava de pulsar e todos estavam na expectativa para saber a sua opinião.

CALMAA! – pestanejou – Não vamos chegar a conclusão alguma dessa maneira. Até o nascer do próximo sol já estaremos todos e todas descartadas pela próxima avalanche informacional. Não vale o estresse para ter razão. Só não podemos perder a coerência e deixar de questionar o que está acontecendo.

Fez-se um silêncio ensurdecedor e vagarosamente, a máquina de escrever se aproximou para colocar um ponto final no alvoroço:

Meus caros e caras, amigos e amigas informacionais. Já estou calejada pelos apertos que recebi, porém são outros tempos, e não devemos deixar de persistir em garantir que as pessoas de alguma forma tomem conhecimento do que anda acontecendo.

Uma opinião só pode ser formada quando nutrida de diversos pontos de vista.”

Moral da parábola

Existem ferramentas diversas, um tempo que não se ordena de forma linear. Diante da quantidade de conteúdos diversos, quando uma informação rompe, podem levar anos até que exista uma compreensão dos fatos. Parece uma investigação policial, e algumas vezes veridicamente é. Ainda assim, nada é permanente ou definitivo. Até mesmo uma informação considerada ‘nova’ se relaciona diretamente com fatos do passado.

São tempos complexos para apontar verdades imutáveis, sem considerar novas descobertas. E existem fatos categóricos que pedem um diálogo urgente, principalmente se quisermos um futuro equitativo para todos e todas.

Muitas fontes, novos meios, vazamento e excesso de informações

Nascem novas fontes e meios de comunicação a cada dia, estamos oscilando do excesso ao apagão de informações nos portais oficiais, como aconteceu com o Ministério da Saúde e os dados da pandemia de Covid-19. Outro ponto crítico é um frequente vazamento de informações sigilosas, que por vezes alimentam ainda mais as controvérsias que giram em torno do jornalismo.

Ou seja, o termo infodemia caracteriza um grupo de informações, considerando que existem as notícias falsas (fake news), as informações erradas que são oferecidas e depois corrigidas, mas nem sempre absorvidas (misinformation), temos ainda a desinformação (desinformation) e as informações maliciosas, que podem ou não ser informações vazadas de forma maliciosa em prol de manipulação, ou de benefício de partes (mal-information). E então, o excesso e o sofrimento para decifrar e refletir.

E assim, temos pessoas mais ansiosas e estressadas, especialmente para a população idosa. O excesso de exposição e a dificuldade em gerenciar o que é real do que é mentira, ou do que tendencioso, tem elevado nossos marcadores de estresse.

Segundo estudo da UFJF  “Sobre o contexto da infodemia, apresentaram rastreio para estresse 51% dos idosos que estão expostos frequentemente às redes sociais, 50,5% daqueles expostos à televisão e 51,9% dos que têm pouca ou alguma exposição via rádio. O estudo utilizou várias escalas validadas para população idosa, tendo sido realizado com 3.307 idosos.”

O momento requer um exercício cidadão, que continua sendo buscar informações em veículos com posicionamentos diversos, com credibilidade e com informações de pesquisas e especialistas. Ainda assim, questione o que lê!

Para as redes sociais ler e questionar antes de compartilhar deveria ser lei. Aproveite e busque mais de três fontes. Ao sentir-se sufocado ou sufocada, ou entristecido, com tantos assuntos, não hesite e tire um tempo para se afastar da atualização constante, isso ajuda a digerir os fatos e cuidar da saúde mental.

O distanciamento, a pausa, a reflexão e a troca com seus pares, amigos nos ambientes que frequenta são outra parte do processo de compreensão do mundo. Ouvir enriquece o processo de aprendizagem, possibilita a construção de mais diálogos e não confrontos.

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