BRAD MEHLDAU – “Proverb of Ashes”
O pianista e compositor norte-americano Brad Mehldau já deu tudo que tinha a dar para o jazz, pelo menos até agora. Mas ele nunca está satisfeito, nem com ele nem com o jazz. Começou gravando com o baterista Jimmy Cobb. Tocou por dois anos com Joshua Redman e depois com Charlie Haden e Lee Konitz. Gravou com Wayne Shorter, John Scofield, Charles Lloyd e Pat Metheny. Junto com o seu trio, formado por Larry Grenadier (baixo), Jorge Rossy (bateria), e depois Jeff Ballard, gravou alguns dos melhores álbuns de jazz com um trio orientado pelo piano a partir de Bill Evans, uma de suas maiores influências. Já gravou covers de rock, música sinfônica e discos tendo vocais com sopranos como Renée Fleming e Anne Sofie von Otter.
Finding Gabriel é outra reviravolta na carreira de Brad Mehldau. Ele resolveu ler a Bíblia para tentar ter repostas para o mundo confuso e desalentador em que vivemos. Encontrou inspiração nos arcanjos e profetas Gabriel e Oséias e nos livros de Jó, no Eclesiastes e nos Salmos. Coincidentemente, quase as mesmas referências de Bob Dylan em sua polêmica conversão para o cristianismo, sendo judeu, no início dos anos 1970, que durou cerca de três anos.
Em “Proverb To Ashes”, Brad Mehldau toca piano, sintetizadores, percussão e Fender Rhodes, além de fazer os vocais junto com outros(as) músicos convidados. Vocais que em nada se parecem com outras peças que Mehldau já gravou. O resultado é surpreendente, diferente de tudo que já gravou. O aclamado trompetista Ambrose Akinmusire, que lançou um dos melhores álbuns de jazz do ano passado, também participa do disco. “Explicar o barulho mesmo com todo o tumulto”. “Todo profeta é um tolo”. Palavras duras que Brad Mehldau colocou no seu site e teve que aprender para chegar aos anjos em “Finding Gabriel” e “Proverb of Ashes”.
LEE FIELDS & THE EXPRESSIONS – “You’re What’s Needed in My Life”
Lee Fields comemorou em 2019 50 anos de carreira com sua banda mais recente, The Expressions, com a qual tem trabalhado nos últimos 10 anos. Escrever aqui com quem ele já trabalhou deixaria o texto longo demais, mas vá lá, um pequeno resumo, só para você saber de quem estamos falando e do motivo de Lee Fields estar nessa lista. O cara trabalhou com o Kool and the Gang, B.B. King, Clarence Carter, Dr. John, Johnny Taylor, Little Milton e com os Manhattans, Betty Wright, Little Milton e Bobby Womack, entre outros. Só por isso, dá para saber que Lee Fields esteve em todos os movimentos mais importantes da música pop negra no século passado, do blues elétrico à soul music no seu auge, do “som da Filadélfia” à popularização da disco music e do funk a partir do início dos anos 1970.
A faixa escolhida para o THE BEST OF, a capa do disco, o som, o figurino de Lee Fields, o terno de lamê, a tipografia com o nome da banda, tudo remete ao soul clássico dos anos 1960 e 1970 em pleno 2019, 50 anos depois. Maravilha.
YMA – “Par de Olhos”
A nova e a novíssima música brasileira são difíceis de seguir, acompanhar e escolher músicas para uma seleção do que de melhor foi produzido em um ano. São muitas opções, diversos canais, mesmo para esse colunista, que nunca desiste de procurar e achar boa música onde quer que ela esteja. De tudo que ouvi, a cantora e compositora paulistana Yasmin Mamedio, YMA, foi um dos sons que mais me chamou a atenção em 2019. Par de Olhos é o primeiro disco de Yasmin, a faixa-título de um ótimo disco e também o primeiro clipe do projeto YMA.
É claro que lembra Céu, que também está presente na coletânea BEST OF desse ano. Talvez seja a hora de a crítica musical da nova música brasileira, não sei se ela existe, perceber que Céu é tão importante para os rumos da música brasileira a partir de meados dos anos 2000 como foi Marisa Monte a partir do início dos anos 1990. As duas cantoras-compositoras estabeleceram, cada uma em seu tempo, novos padrões de composição, produção e arranjos tão diferentes que foram capazes de influenciar quase tudo que veio depois.
YMA é o resultado dessa pequena e ainda incipiente tradição da nossa música nos últimos 20 anos, pelo menos até agora, que consegue um diálogo e um som com o que de melhor o pop brasileiro, de olho no mundo, produziu a partir da década de 1990 até hoje. YMA vai muito mais longe.
PARA IR ALÉM
A playlist final com o THE BEST OF 2019 só será publicada aqui dias antes do Natal. Desde que começou, o THE BEST OF só não foi publicado ano passado. A partir de 2014, migrou do formato físico para o Spotify. As listas de 2014, 2015, 2016 e 2017 ainda estão lá, na minha conta na plataforma – Sérgio Menezes.
BEST OF 2014
BEST OF 2015
BEST OF 2016
BEST OF 2017
Sobre o/a autor/a
Sérgio Menezes
Sérgio Menezes é publicitário. Professor do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Positivo. Professor da Pós-graduação da UP no curso Comunicação e Cultura: interfaces, onde ministra o módulo Música Pop: indústria e invenção. Pesquisador diletante, mas apaixonado por música. Qualquer música.