BEST OF 2019: o som que procura os anjos, o soul clássico e a novíssima música brasileira

Projeto continua no Plural, ainda mais plural, com mais três faixas para a lista que será lançada antes do final do ano

BRAD MEHLDAU – “Proverb of Ashes”

O pianista e compositor norte-americano Brad Mehldau já deu tudo que tinha a dar para o jazz, pelo menos até agora. Mas ele nunca está satisfeito, nem com ele nem com o jazz. Começou gravando com o baterista Jimmy Cobb. Tocou por dois anos com Joshua Redman e depois com Charlie Haden e Lee Konitz. Gravou com Wayne Shorter, John Scofield, Charles Lloyd e Pat Metheny. Junto com o seu trio, formado por Larry Grenadier (baixo), Jorge Rossy (bateria), e depois Jeff Ballard, gravou alguns dos melhores álbuns de jazz com um trio orientado pelo piano a partir de Bill Evans, uma de suas maiores influências. Já gravou covers de rock, música sinfônica e discos tendo vocais com sopranos como Renée Fleming e Anne Sofie von Otter.

Finding Gabriel é outra reviravolta na carreira de Brad Mehldau. Ele resolveu ler a Bíblia para tentar ter repostas para o mundo confuso e desalentador em que vivemos. Encontrou inspiração nos arcanjos e profetas Gabriel e Oséias e nos livros de Jó, no Eclesiastes e nos Salmos. Coincidentemente, quase as mesmas referências de Bob Dylan em sua polêmica conversão para o cristianismo, sendo judeu, no início dos anos 1970, que durou cerca de três anos.

Capa de Finding Gabriel, álbum de Brad Mehldau.

Em “Proverb To Ashes”, Brad Mehldau toca piano, sintetizadores, percussão e Fender Rhodes, além de fazer os vocais junto com outros(as) músicos convidados. Vocais que em nada se parecem com outras peças que Mehldau já gravou. O resultado é surpreendente, diferente de tudo que já gravou. O aclamado trompetista Ambrose Akinmusire, que lançou um dos melhores álbuns de jazz do ano passado, também participa do disco. “Explicar o barulho mesmo com todo o tumulto”. “Todo profeta é um tolo”. Palavras duras que Brad Mehldau colocou no seu site e teve que aprender para chegar aos anjos em “Finding Gabriel” e “Proverb of Ashes”.

LEE FIELDS & THE EXPRESSIONS – “You’re What’s Needed in My Life”

Lee Fields comemorou em 2019 50 anos de carreira com sua banda mais recente, The Expressions, com a qual tem trabalhado nos últimos 10 anos. Escrever aqui com quem ele já trabalhou deixaria o texto longo demais, mas vá lá, um pequeno resumo, só para você saber de quem estamos falando e do motivo de Lee Fields estar nessa lista. O cara trabalhou com o Kool and the Gang, B.B. King, Clarence Carter, Dr. John, Johnny Taylor, Little Milton e com os Manhattans, Betty Wright, Little Milton e Bobby Womack, entre outros. Só por isso, dá para saber que Lee Fields esteve em todos os movimentos mais importantes da música pop negra no século passado, do blues elétrico à soul music no seu auge, do “som da Filadélfia” à popularização da disco music e do funk a partir do início dos anos 1970.

Capa de It Rains Love, de Lee Fields

A faixa escolhida para o THE BEST OF, a capa do disco, o som, o figurino de Lee Fields, o terno de lamê, a tipografia com o nome da banda, tudo remete ao soul clássico dos anos 1960 e 1970 em pleno 2019, 50 anos depois. Maravilha.

YMA – “Par de Olhos”

A nova e a novíssima música brasileira são difíceis de seguir, acompanhar e escolher músicas para uma seleção do que de melhor foi produzido em um ano. São muitas opções, diversos canais, mesmo para esse colunista, que nunca desiste de procurar e achar boa música onde quer que ela esteja. De tudo que ouvi, a cantora e compositora paulistana Yasmin Mamedio, YMA, foi um dos sons que mais me chamou a atenção em 2019. Par de Olhos é o primeiro disco de Yasmin, a faixa-título de um ótimo disco e também o primeiro clipe do projeto YMA.

Capa de Par de Olhos, álbum da cantora paulistana YMA

É claro que lembra Céu, que também está presente na coletânea BEST OF desse ano. Talvez seja a hora de a crítica musical da nova música brasileira, não sei se ela existe, perceber que Céu é tão importante para os rumos da música brasileira a partir de meados dos anos 2000 como foi Marisa Monte a partir do início dos anos 1990. As duas cantoras-compositoras estabeleceram, cada uma em seu tempo, novos padrões de composição, produção e arranjos tão diferentes que foram capazes de influenciar quase tudo que veio depois.

YMA é o resultado dessa pequena e ainda incipiente tradição da nossa música nos últimos 20 anos, pelo menos até agora, que consegue um diálogo e um som com o que de melhor o pop brasileiro, de olho no mundo, produziu a partir da década de 1990 até hoje. YMA vai muito mais longe.

PARA IR ALÉM

A playlist final com o THE BEST OF 2019 só será publicada aqui dias antes do Natal. Desde que começou, o THE BEST OF só não foi publicado ano passado. A partir de 2014, migrou do formato físico para o Spotify. As listas de 2014, 2015, 2016 e 2017 ainda estão lá, na minha conta na plataforma – Sérgio Menezes.

BEST OF 2014

BEST OF 2015

BEST OF 2016

BEST OF 2017

Sobre o/a autor/a

Compartilhe:

Leia também

Há saída para a violência?

Há que se ter coragem para assumir, em espaços conservadores como o Poder Judiciário, posturas contramajoritárias como as que propõe a Justiça Restaurativa

Leia mais »

Melhor jornal de Curitiba

Assine e apoie

Assinantes recebem nossa newsletter exclusiva

Rolar para cima