Livros de receitas: por que tê-los?

Tem coisa melhor do que folhear um livro de culinária nos momentos de descanso e lazer, ou mesmo a qualquer hora

Na era das novas tecnologias, das receitas encontradas no Google ou desfilando no Facebook em filmes rápidos e muitos práticos, pode parecer meio ultrapassado ainda ter aquele caderninho de receitas, passado de mãe para filha. Para que copiar uma a uma aquelas receitas do tempo da vovó, em cadernos fadados a ficarem sujos e manchados com os ingredientes descritos em suas páginas?

Quantas vezes já não passei a limpo cadernos de receita, prometendo que desta vez, tudo seria diferente, que o embalaria em plásticos na hora do manuseio para evitar respingos de chocolate da batedeira frenética…? Quantas pastas já não montei com receitas recortadas de jornais, revistas ganhadas das amigas, parentes…? Quantas ainda estão soltas nas tantas caixas em que vou organizando o material de cozinha…?

Decididamente quem gosta de cozinha, gosta também de receitas e toda sua literatura, que em tempos de “gastronomia na moda” é cada vez mais vasta.

Dos clássicos aos mais moderninhos, todo livro de receita é fundamental a seu modo. Foto: Rosa Maria Dalla Costa

Fato é que com ou sem tecnologia – já incorporei o iPad com capa especial para cozinha aos utensílios culinários – quem gosta de cozinhar, acaba virando também um colecionador de livros e cadernos de receitas. Assim, numa livraria ou papelaria aquelas novidades como o fichário comprado em Chicago, ficam cintilando a sua frente, até ser comprado, seja pelo preço que for. A gente sempre acha uma justificativa para efetuar a compra: um fichário é muito mais prático; um caderno brochura pode ser mais romântico; um espiral mais ágil; e esse livro de receitas da horta?

Não adianta aquela voz interna tentar explicar que, no fundo no fundo, você sempre faz as mesmas receitas: aquelas do caderno já ensebado que você ainda não teve tempo de passar a limpo. O apaixonado por cozinha vai sempre achar um livro, caderno, fichário ou seja lá que suporte for, que vai lhe parecer imprescindível para sua vida, tipo “como pude viver sem ele até agora”!

E como se não bastasse o interesse próprio no tema e nestas novidades, o maníaco por gastronomia também acha que pode passar adiante o seu amor pela cozinha. Daí o livro, fichário, caderno, agenda, seja lá o que for, pode lhe parecer imprescindível também para deixar de herança para a filha, para a candidata a nora, para aquela aluna especial…

Sim, sempre haverá alguém para quem oferecer um livro ou caderno de receitas, como forma de lhe dizer o quanto a estima e preza. Mesmo que isso lhe custe algumas horas copiando seus próprios cadernos para distribuir aquelas suas receitas de família. Até aquelas da nonna que fazia suas delícias de cabeça… “essas bolachas, faço com farinha, ovos, açúcar”, enquanto eu tentava escrevê-las passo a passo.

Receitas copiadas no caderno: quem nunca? Foto: Rosa Maria Dalla Costa

Como na história da escrita, mesmo em se tratando de receitas culinárias “quem conta um conto aumenta um ponto” e pequenos detalhes são acrescentados a cada uma delas, de tal modo, que um novo caderno, ainda que copiado de um anterior, nunca será igual ao outro.

O amante da cozinha é também um invejoso! Não lhe bastam seus tantos e tantos livros, o do outro, o daquela amiga ou tia, parece sempre mais organizado, prático e bonito, o que lhe dá vontade de fazer novas compras e novas cópias. Foi isso o que senti naquele Natal em que a Lê deu de presente para sua mãe uma pasta inteirinha de receitas da família digitalizadas e organizadas numa linda pasta de capa dura com plásticos à prova das lambanças culinárias.

E olha que eu também tenho minhas pastas, acumuladas ao longo dos anos. Pastas de recortes das revistas francesas e brasileiras de culinária e até de encartes de supermercados. Sendo receita, tá valendo. Já as revistas inteiras estão organizadas em caixas que as mantém em pé e supostamente facilitam a busca de ideias diferentes. As apostilas dos cursos de cozinha que faço aqui e ali, estão devidamente encadernadas e armazenadas ao lado dos livros de diferentes tamanhos e formatos: quadrados, retangulares, de bolso. O vale presente de livros do último aniversário contribuiu para o aumento significativo da coleção que varia dos clássicos da Dona Benta e Larousse da Cozinha, aos moderninhos Olivier e Rita Lobo. Tudo interessa. Tudo é absolutamente mais que necessário para quem ama a cozinha.

Quem gosta de cozinhar, gosta também de folhear revistas e cadernos de receitas. Foto: Rosa Maria Dalla Costa

E os cadernos que herdamos das tias boleiras, das avós, aqueles que quase vão para o lixo no momento de desmontar as casas de quem já se foi. Ah! tem melhor herança do que os livros das receitas que embalaram nossa infância e as festas de família? E o orgulho de poder compartilhar a receita de coxinha da tia Tereza, quando todo mundo se permite deixar a saudade bater!

O jeito é encontrar um bom marceneiro que dê conta de fazer um armário próprio para todos esses livros de receitas. Tem que caber na cozinha, tem que ser acessível e à altura da mão… Por que, afinal de contas, tem coisa melhor do que folhear um livro de culinária nos momentos de descanso e lazer, ou mesmo a qualquer hora?

Sobre o/a autor/a

Compartilhe:

Leia também

À minha mãe

Aos 50 anos, a vida teve a ousadia de colocar um tumor no lugar onde minha mãe gerou seus dois filhos. Mas ela vai vencer

Leia mais »

Melhor jornal de Curitiba

Assine e apoie

Assinantes recebem nossa newsletter exclusiva

Rolar para cima