E o couvert? Pago ou não?

A comida é mais do que uma necessidade humana. Ela é a linguagem universal que conecta culturas, memórias, tradições e afetos

Uma refeição completa, aquela da celebração de um encontro, de uma data festiva, de uma reunião familiar, segue um ritual carregado de tradições e memórias. Ritual que varia de cultura para cultura, e que, justamente por isso, é extremamente interessante. É comum nestas ocasiões que a refeição se divida em entrada, prato principal e sobremesa. O que se entende por cada uma dessas partes é que faz a diferença.

Começando pelo começo, constatamos que logo de cara há uma confusão entre os termos entrada, couvert, antepasto, e aperitivo. A entrada é o primeiro passo para uma boa refeição, é a que causa a primeira impressão e engloba o couvert, o antepasto e o aperitivo. Normalmente são porções pequenas para não prejudicar o consumo do prato principal e não devem usar ingredientes com sabor muito marcantes para igualmente não interferir no saber do que vem a seguir.

Os termos couvert, antepasto e aperitivo têm origens e significados diferentes, que vamos desvendar. Couvert é de origem francesa e significa cobertura. Como não se cobra pelo prédio ou telhado para os restaurantes foi traduzida como a taxa a ser cobrada pelo uso dos talheres, pratos, louças em geral, toalhas de mesa e guardanapos.

Esquisito saber que pagamos até por isso, não é mesmo? Para fazer um agrado aos clientes, criou-se o costume de servir cestas de pães, pastas e conservas como cortesia. Essa é a história, mas na prática, muitos restaurantes descontam no pãozinho com paté os custos extras da sua produção. Quem nunca se espantou com a taxa cobrada na conta final daquela cestinha de torradas que foi colocada na mesa sem ninguém pedir?

Já o antepasto provém do italiano e significa justamente que vem antes da pasta, primeiro prato da refeição italiana, tendo a carne como segundo prato e um doce para finalizar. Pode ser queijo, frios, frutas, saladas.

O aperitivo, por sua vez é a junção de dois termos ingleses. O primeiro, appetizers, que significa entradinhas comestíveis e o aperitif, que são bebidas alcoólicas servidas antes da refeição ou mesmo no seu final, como digestivos.

Na maior parte dos restaurantes, a descrição dos pratos de entrada é apresentada no cardápio; mas além deles, assim que os clientes estão instalados em suas mesas, os garçons trazem pequenas porções de pães, torradas ou crostinis, acompanhadas de patés, azeitonas e porções de conservas, mais ou menos elaboradas, bruschettas, croquetes…

Normalmente perguntam se os clientes aceitam ou não e nem sempre o valor e a descrição desse couvert estão explícitos no cardápio. Por isso é preciso ficar atento e tirar todas as dúvidas com o garçom antes de aceitar o que colocam à mesa, naquele momento em que estamos com fome e queremos devorar tudo o que aparecer pela frente.

Já as entradas valorizam uma refeição. Hoje por exemplo, degustei um delicioso carpacio crocante no Mia Trattoria, com cestinha de queijo e folhinhas verdes. Perfeito, na quantidade certa, um excelente … Amuse goele (distração da goela em tradução livre), como dizem os franceses!
É comum também pedir apenas uma entrada para ser dividida na mesa. Assim é possível ter a entrada sem comer demais e ainda deixar um espaço para a sobremesa, essa sim indispensável em qualquer boa refeição.

Mas além do “couvert comida”, em alguns estabelecimentos ainda é cobrado o couvert artístico, quando há algum tipo de apresentação musical ao vivo durante a refeição. O estabelecimento não pode cobrar do cliente um show que acontecerá mais tarde ou que já aconteceu antes de ele chegar ao restaurante. Ele só pode cobrar por aquilo que o cliente usufruir durante o tempo em que estiver lá. Da mesma forma, na hora de cobrar um percentual como couvert artístico ele não pode incluir na conta os 10% cobrados como taxa de serviço. A taxa de serviço só pode ser cobrada do valor total do consumo em comidas e bebidas e ainda assim é opcional.

É sempre desagradável ter que discutir esses detalhes na hora de pagar a conta, mas direito é direito. Se o seu problema não for resolvido na hora, com uma conversa com os funcionários ou os responsáveis pelo estabelecimento, há outras formas de recorrer ao valor indevido que foi cobrado. Uma delas é recorrer aos Órgãos de Defesa do Consumidor de sua cidade.

Ora, é claro que não queremos ter aborrecimentos nem momentos tão especiais como os de compartilhar uma boa refeição ao lado de amigos e familiares. Não deixe de desfrutar as delícias de um bom couvert ou uma entrada. Só fique atento para que eles não te proporcionem o sabor amargo de um direito de consumidor violado.

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