O leitor vai em busca dos personagens de Tezza

Marcelo Almeida conta como foi à Praça do Expedicionário no meio da noite procurar personagens de uma ficção

Cristovão Tezza, um catarina paranaense. Um homem simples e genial. Nasceu em Lages, cidade que tive a oportunidade de conhecer há seis meses, e vive aqui mesmo, perto de nós, em Curitiba.

Eu o conheci em um dos momentos mais tristes que enfrentei na vida, de profundo enlutamento. Foi no dia 17 de maio de 2003, no velório do “Turco” Jamil Snege.

Jamil foi meu mestre para a literatura e meu amigo por mais de uma década. Amizade com um “a” enorme. Antes do encontro na despedida do Turco, eu apenas havia ouvido falar do Cristovão Tezza. Mas conhecê-lo mesmo, conhecê-lo por dentro, foi quando li “A Suavidade do Vento”.

Neste livro, que tem quase 30 anos, a história se passa em uma pequena cidade da costa oeste do Paraná, ali perto de Foz. O protagonista é o professor Josilei Maria Matozo, conhecido na cidade por Matozo. Ele mora no segundo andar de um sobrado, cercado por uma solidão enorme e com a companhia de vários medos. Dentro desse desalento, Matozo encontra uma saída. Começa a escrever um livro que intitula de “A Suavidade do Vento”. Este foi meu primeiro contato com a obra de Cristovão Tezza e me deixou a melhor impressão porque o livro é muito bom. É um diamante.

Outro livro de Tezza que tenho que mencionar é “O Fotógrafo”. Você já leu? Não é fantástico? Pra quem não leu, eu conto: é uma história que se passa em apenas um dia. São quatro personagens e o fotógrafo. Estamos em 2002, ano de eleições (Lula eleito pela primeira vez para a Presidência). Lídia é a esposa do fotógrafo, que é doida pelo Duarte, o professor que é casado com a Mara, que por sua vez é analista da jovem Iris. Posso resumir assim minha experiência com esse livro: a uma certa altura da leitura, achei que aquela história não era um romance e sim que tudo estava acontecendo de verdade, que era real mesmo. Tudo acontece muito rápido e o leitor entra no mesmo ritmo; não dá para parar e recomeçar dois dias depois. É livro para não largar até chegar na última página.

Como eu dizia, em “O Fotógrafo” o que Tezza escreve é tão real que, enquanto lia, decidi ir até a Praça do Expedicionário, mais precisamente até o avião, que é citado no livro. A praça do Expedicionário é cenário importante do romance. Acredite: às 22 horas de uma fria noite curitibana, este leitor maluco foi lá dizendo pra si mesmo “eu tenho que encontrar o Duarte, a Íris, o fotógrafo”. Infelizmente um romance é um romance. Não encontrei ninguém na praça… E comprovei que O Fotógrafo é um sonho dessa alma privilegiada que é o Tezza.

E o que dizer de “O Filho Eterno”? De novo, fiquei tão impressionado que, depois de ler as primeiras páginas, minha vontade era nunca mais ver o Tezza. Fiquei chocado com aquele personagem-pai em quem eu via o escritor-pai. Os primeiros capítulos de “O Filho Eterno” são como um soco no estômago, mas conforme ele avança vamos descobrindo um livro sobre um amor incondicional. Ainda me emociono ao pensar no amor desse pai pelo seu filho (e agora, sim, o pai e o filho são de verdade, é mesmo Tezza e Felipe).

Há uma cena que para mim é, ainda hoje quando a releio, de cair o queixo. É aquela em que Felipe passa pelo pai dentro de uma viatura da Polícia Militar… O resto deixo para você, leitor amigo, descobrir. Se ainda não leu “O Filho Eterno”, corra! Vá comprar o livro desse paranaense com certidão de nascimento de catarina.

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