Quatro anos de maldades

Aqui vai um pequeno lembrete destes quatro anos. Uma lista de ofensas e tristezas sofridas enquanto vivi sob o último governo

Aqui vai um pequeno lembrete destes quatro anos. Uma lista de ofensas e tristezas sofridas enquanto vivi sob o último governo. Não é bem uma lista, mas um exercício para lembrar da repressão, das ameaças e dos roubos, que não foram apenas materiais, mas também simbólicos:

Fui reduzido em meu modo de trabalhar, quando o bolso-fascismo destruiu o Ministério da Cultura e monopolizou o debate com grosserias. Poderia ter discutido a arte em seus desdobramentos na saúde mental pública, mas fui reduzido ao patético papel de tentar mostrar que nem tudo é beleza ou necessita ter a benção do mercado para existir.

Fui impedido de participar mais ativamente como curador de arte em um mercado que já injetou mais de 53 bilhões na economia só com a Lei Rouanet. Imagina onde poderíamos estar se conseguíssemos captar toda a energia de um país tão incrível para projetos de economia criativa?

Sob a alegação de que eu era um ‘mamador das tetas do governo’ fiquei concentrado em defender o já frágil sistema brasileiro de fomento à arte.

Fui diminuído enquanto pesquisador, quando o desgoverno cortou as verbas para a pesquisa dos meus colegas, enquanto servia picanha e viagra para os militares. Onde nossas conversas poderiam ter chegado? Que ideias poderíamos ter investigado juntos? Nunca saberemos.

Fui reprimido enquanto profissional da saúde, ao passo que o presidente e seus capangas sabotavam a máscara, a restrição social e as vacinas, mas não contentes, ainda debochavam de quem morreu. Tive que lidar com a dor de quem perdia entes queridos e adoecia, ao mesmo tempo que o maior cargo da república os chamava de histéricos.

Fui negado de ter mais amigos, já que alguns morreram de Covid e poderiam talvez estarem vivos se o presidente ao menos tivesse aberto a caixa de e-mail.

Fui cerceado de liberdade quando vi meus amigos homossexuais tendo que se esconder de homofóbicos que os ameaçavam gritando ‘aqui é Bolsonaro’!

Fui ameaçado quando bolsonazistas insinuaram que iriam invadir a minha galeria de arte, pelo simples motivo dela estar exibindo uma exposição de arte Queer.

Mas ainda estou sendo ameaçado.

Sendo ameaçado pelos milhares de malucos que armados até os dentes e que podem entrar na minha festa pra me matar só porque tem a foto do Lula no meu bolo. Ameaçado por andar de camiseta vermelha. Ameaçado por me declarar de esquerda.Estou sendo privado de ter uma discussão política normal e saudável dentro do espectro democrático, pois as pessoas ao meu redor começaram a apresentar comportamento de manada profundamente manipuladas por um sistema arquitetado de notícias falsas.

Mas tudo isso eles apenas tentaram.

Só tentaram.

Tentaram tirar minha liberdade de existir, dizendo que o Brasil é evangélico, enquanto eu defendo o Estado laico.

Tentaram tirar minha democracia, quando tentaram dar golpes consecutivos para enfraquecer as instituições democráticas.

Digo tentaram, pois o fascismo bolsonarista é composto de tiozões incompententes que fracassam em tudo que fazem na vida. Um bando de perdedores. Perderam e perderão sempre, pois a justiça e o amor ganharão no final.

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