Quando o Brasil Profundo ganha outro significado 

Há bueiros e bueiros, onde foram instalados e de que maneira utilizados e, assim, há casos que exigem providências: o de certos políticos é um deles

Publicação altamente respeitável, já que é do jornalismo plural, a revista Carta Capital desta semana estampa na capa apenas uma imagem: um bueiro com a tampa fora do lugar e o texto BRASIL PROFUNDO – O bueiro do golpismo, da prepotência e da ignorância continua aberto. E um leitor imaginou que, na verdade, o profundo era pra ser interpretado como O BRASIL INDO PRO FUNDO

Mas, certamente, os demais leitores partiram direto para o texto, que ocupa 4 páginas, a partir da décima, e que é assinado por Mino Carta. O título: QI EM BAIXA, isso mesmo, em CAIXA ALTA – e, sempre certeiro, Mino não deixa por menos: 

De súbito, o governo se dispõe a uma faxina profunda e um raio de Sol ilumina o cenário.  

E tem mais e não vai ser fácil: 

MEIO AMBIENTE: Apesar do recente cerco aos criminosos, o desmatamento segue em alta e desafia as autoridades. O apoio internacional é importante.  

INVESTIMENTOS: O capital estrangeiro, que debandou do Brasil nos quatro anos de Bolsonaro, volta a dar o ar de sua graça. A indústria automobilística puxa a fila. 

Já a foto do ex-presidente, o lamentável (também) da gripezinha e outros absurdos, ao sair da Polícia Federal, sorrindo e fazendo sinal de positivo depois de depoimento, teve um adendo na legenda: Bolsonaro mais uma vez engana seu povo

Hora de uma salutar faxina 

Ainda do texto de Mino: 

– Os poderes da República agem como engrenagens desencaixadas, cada uma por conta própria, enquanto a caserna ainda acredita na sua função “moderadora”. 

– Ao cabo sobra uma esperança: há sinais de que o governo se dispõe a uma salutar faxina, de sorte a pôr as coisas no lugar devido. 

A velha questão: bem contra o mal 

De fato, mas não vai ser fácil não. Basta recorrer às lições da filosofa Hannah Arendt, para quem “o mal é tão difícil de ser compreendido e explicado porque ele é superficial, pois a racionalidade trabalha com as dimensões de profundidade do ser humano. Somente o bem tem profundidade”. E ela cita o processo do nazista Otto Adolf Eichmann (1906-1962), “de que o mal não é radical, ele não tem raízes profundas. Ele é fruto da falta de exercício da faculdade de pensar”.  

Por isto, conclui que “a raiz do mal é a carência de consciência crítica. Ou melhor, o mal não tem raiz. É superficial. Somente o bem tem profundidade”.

PS: Pra nunca esquecer: Eichmann foi um dos principais organizadores do Holocausto.

Sobre o/a autor/a

Compartilhe:

Leia também

Há saída para a violência?

Há que se ter coragem para assumir, em espaços conservadores como o Poder Judiciário, posturas contramajoritárias como as que propõe a Justiça Restaurativa

Leia mais »

Melhor jornal de Curitiba

Assine e apoie

Assinantes recebem nossa newsletter exclusiva

Rolar para cima