O futebol sem bola – e longe dos gramados

Hoje, com o Coritiba perto de voltar à Série A e o rubro-negro arrasador contra o Mengão, há muitos episódios paralelos, como o do Atlético (então sem H) ir parar na Máquina do Tempo

Futebol é uma caixinha de surpresas – A frase é atribuída ao radialista Benjamin Wright, que cobriu as Copas de 1950 a 1970, e morreu no Rio, em 2009, aos 84 anos. De fato, uma caixinha (inesgotável) de surpresas. Nem sempre agradáveis, é verdade. Não foi o caso do incrível empate do Athletico diante do Flamengo, no dia 2, na Arena. Após Gabigol desencantar ao marcar duas vezes na primeira etapa para encerrar um jejum de 9 jogos, o Furacão buscou a igualdade na segunda etapa com Kayzer e Bissoli, que saiu do banco para empatar o confronto aos 49 do segundo tempo. Isso mesmo, 49. E Santos, o goleiro, recebeu do presidente Mario Celso Petraglia uma homenagem pelos 250 jogos com a camisa rubro-negra.  

Outros (e velhos) registros  

Voltando no tempo. Dia 5 de novembro de 1978. O então Atlético recebia na Baixada o também então Colorado. Por conta de Ziquita (Gilberto de Souza Costa), o jogo se transformou em um dos capítulos mais incríveis da história do futebol paranaense, e, sem clubismo, quiçá do futebol mundial: o centroavante fez quatro gols em 12 minutos.  

Na partida, válida pela segunda rodada do grupo F (um quadrangular semifinal), cerca de 8 mil torcedores acompanharam o clássico, que era tido como decisivo para a escolha de um dos finalistas do Estadual. Arrasador, o Colorado meteu 2 gols no primeiro tempo. No segundo, continuou o massacre. Em poucos minutos o Colorado vencia por 4 a 0. Parte da torcida atleticana começou a deixar o estádio, cabisbaixa.  

Mas, aos 30 minutos, o centroavante Ziquita usou a cabeça, nos dois sentidos, para diminuir a vantagem adversária. Aos 34, dominou a bola de costas para o gol e, de virada, balançou as redes coloradas pela segunda vez. Quem insistiu em ficar no estádio cruzava os dedos. Aos 36, Ziquita, novamente de cabeça, marcou seu terceiro gol. Com o ouvido colado nos radinhos de pilha (celular era algo inimaginável, coisa de ficção científica no cinema), alguns torcedores trataram de retornar ao estádio. Não deu tempo. O miraculoso rubro-negro fez seu quarto gol aos 43 minutos. Logo em seguida, ainda ele, mandou uma bola que carimbou o travessão colorado. O quinto gol não saiu, mas Ziquita acabara de colocar seu nome para sempre na história do (então) Atlético e da velha Baixada.  

Como registrou a imprensa, “um massacre anunciado acabou se transformando em um empate com sabor de goleada”. E houve quem abrisse manchete a “São Ziquita”. Do lado do time adversário, o técnico Avelino Mosquito não resistiu – pediu demissão.  

No Museu do Futebol  

Em outubro de 2008, o site furacao.com registrava que a torcida do Atlético Paranaense é nacionalmente conhecida por ser uma das mais vibrantes e fanáticas do país. “Tal feito foi reconhecido no Museu do Futebol, inaugurado há poucas semanas nas dependências do Estádio do Pacaembu, em São Paulo. No setor Exaltação é possível sentir a vibração dos gritos e comemorações das diversas torcidas no coração das arquibancadas do Pacaembu. São mais de 30 cantos e gritos de incentivo que se completam com imagens de cenas emocionantes das mais famosas torcidas de clubes de futebol do país”.  

Viajando no tempo  

No ano 3000, em Nova Iorque, será aberta a Cápsula do Tempo. Para quem chegou agora: em 2000, o jornal The New York Times recolheu pelo mundo objetos que representassem o que existia de mais simbólico no planeta.  

O acervo da humanidade foi reunido e permanece guardado, à espera do grande momento. Dele consta – suprema glória! – a camisa do (então) Clube Atlético Paranaense. É que o repórter do jornal que veio a Curitiba (uma das quatro cidades do mundo escolhidas para o trabalho de pesquisa e seleção), ao pegar um táxi aleatoriamente, falou sobre o projeto e perguntou ao motorista o que ele gostaria de colocar na cápsula.  

– A camisa do meu clube do coração – devolveu de pronto Clóvis Gonçalves, sem imaginar que ele também entraria para a história.  

Não deu outra: a camisa rubro-negra, única da cápsula, estará simbolizando o futebol para as novas e futuras gerações.  

PS: Ano 3000? O mundo conseguirá chegar lá derrotando a tal gripezinha?

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