Somente no ano seguinte à emancipação do Paraná é que Curitiba ganhou um espaço apropriado para enterrar os seus mortos. Nas vésperas do Dia dos Finados, vale a pena passear no passado e entender como se deu a construção do cemitério mais antigo da capital paranaense: o Cemitério Municipal São Francisco de Paula, inaugurado em dezembro de 1854 e que segue prestando serviços à comunidade.
Foram, pelo menos, 25 anos de debates, estudos e discussões para que Curitiba, enfim, tivesse um cemitério municipal. O assunto já era alvo de diálogos e cobranças desde a publicação de um decreto imperial que tratou do tema em outubro de 1828.
Mas a Câmara Municipal só tocou no assunto em 12 de setembro de 1829, quando durante uma sessão parlamentar debateu-se a necessidade de se implantar um campo santo para os finados curitibanos.
O vereador Miguel Marques dos Santos, com receio de uma epidemia de varíola que já tomava conta da cidade, apontou a necessidade de “semiterio afim de senão enterrarem corpos nos templos da mesma para se evitarem os males que disto resultão e que se convidasse ao Reverendo vigário para na seguinte sessão vir tratar deste objecto”, diz o texto, em português da época. A construção de um espaço adequado para os sepultamentos decorreu, portanto, de questões de saúde pública.
Até então, a maioria dos enterros acontecia em pátios das igrejas de Nossa Senhora do Rosário, Igreja da Ordem Terceira de São Francisco das Chagas, Igreja São Francisco de Paula e Matriz. Havia, também, desde 1815, um cemitério chamado de Sítio do Mato que foi aberto quando uma epidemia de varíola assolou o município. Além dele, existiram outros quatro espaços que também eram específicos para enterrar vítimas de epidemias de varíola, mas não se sabe os nomes e nem a localização exata desses cemitérios. Era uma forma de evitar que as miasmas (gases e líquidos gerados pelos corpos em decomposição) contaminassem os vivos.
Com a emancipação do Paraná, em 1853, o presidente da província, Zacarias de Góes e Vasconcellos, cobrou medidas para que uma política higienista fosse implantada na cidade. Não era mais viável, segundo ele, continuar enterrando os defuntos em terrenos de igrejas. Zacarias já tinha atuado em projetos de cemitérios municipais no Rio de Janeiro e questionou a autoridade municipal para resolver essa situação. Diante disso, ele assumiu a responsabilidade e nomeou o cidadão Benedito Enéas de Paula, em junho de 1854, para dar início às obras da construção do cemitério.
O terreno do cemitério foi doado pelo padre Agostinho Machado de Lima, que durante 56 anos foi vigário da Igreja Matriz e tinha uma chácara naquele local. A inauguração aconteceu em dezembro de 1854, com as obras inacabadas. O cemitério só foi concluído em 1866 com o término da construção dos muros. Apesar disso, o espaço já começou a funcionar no ano seguinte à inauguração. Em 1855, foram enterrados 11 mortos no cemitério. A primeira pessoa sepultada ali chamava-se Delphina Antonia de San Paio, que era viúva e morreu aos 86 anos. Hoje, 167 anos depois, são mais de 92 mil mortos que ocupam o espaço com mais de 5,7 mil túmulos.
Para ir além
GRASSI, Clarissa. Guia de Visitação ao Cemitério Municipal São Francisco de Paula – Arte e Memória no Espaço Urbano. Curitiba, 2014.
Sobre o/a autor/a
Diego Antonelli
jornalista formado pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e tem mestrado em Comunicação pela Universidade Federal do Paraná. Atuou nos jornais Diário da Manhã e Jornal da Manhã, ambos de Ponta Grossa. Em 2011, começou a escrever para o jornal Gazeta do Povo. Na Gazeta, Antonelli assumiu a página semanal que o veículo mantinha
sobre História. Em 2008, lançou seu primeiro livro – Em Domínio Russo. Em 2016, lançou a obra Paraná – Uma História. Participou, como coautor, do livro Vindas – Memórias de Imigração e escreveu ainda Jornal Voz do Paraná – Uma história de resistência. Publicou também a obra TJPR -130 anos de História.