O jornalismo brasileiro finalmente é majoritariamente digital

Dados do Atlas da Notícia indicam que os jornais online passaram a ser maioria no país. No Paraná já há certa vantagem em relação aos demais meios. Desafio é qualificar as produções e a gestão do negócio

O consumo de notícias no Brasil parece ter atravessado um período de transição que agora começa a apontar tendências de consolidação de mercado. Há pouco mais de 10 anos, o debate a respeito do futuro dos negócios jornalísticos transitava em torno da crise financeira com impactos sobre a qualidade da produção.

Boa parte do problema estava relacionado a fatores que indicavam um encolhimento do jornalismo no país, perceptível no “enxugamento” das redações tradicionais, com demissão de profissionais renomados, fechamento de empresas, sobretudo as orientadas para a produção impressa, e a migração de jornalistas para assessorias de imprensa ou para o mercado informal.

As causas estariam associadas a uma incapacidade de adaptação do jornalismo aos novos tempos, marcados pelo “fim do monopólio da informação”, no qual alguns poucos jornais impressos, canais de TV e de rádio no país eram praticamente os únicos meios de comunicação de massa existentes. Para os mais conservadores, a internet, portanto, era a vilã da história, cujo ambiente era marcado pela desregulação do mercado informativo e pelas possibilidades abertas para iniciativas de baixo custo ou desenvolvidas por amadores.

O problema, no entanto, não estava relacionado diretamente à “explosão do jornalismo”, como cita o francês Ignácio Ramonet no título de seu livro, mas principalmente na migração das receitas publicitárias das empresas que passaram a investir em mídia própria na internet e não mais em comunicação mediada por meios tradicionais.

Os jornais menores, geralmente no interior do país, estariam mais suscetíveis a escassez financeira, tendo que recorrer à falência, venda para outros grupos ou “acordos” com políticos para garantir receita.

Os dados mais recentes não indicam ainda uma resolução do problema do financiamento dos jornais. Mas finalmente, as empresas jornalísticas parecem ter compreendido que o investimento no ambiente digital é uma questão de sobrevivência.

A pesquisa “Atlas da Notícia”, divulgada pelo Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo (Projor), no último dia 23, indica, pela primeira vez, que o jornais digitais tornaram-se maioria entre os negócios jornalísticos do país. O Brasil conta com 4.670 iniciativas jornalísticas na internet, um crescimento de 206% em relação a 2017, quando foram mapeadas 2.263 iniciativas em meio digital. O meio rádio, cuja programação inclui conteúdo jornalístico, segundo mais encontrado no país, conta com 4.597 iniciativas.

No Paraná, os jornais online são maioria com alguma vantagem em relação ao rádio, ao impresso e à TV. São 488 jornais online, contra 369 rádios. Boa parte das iniciativas digitais estão ligadas a jornais já existentes em meios tradicionais, mas também é possível perceber uma quantidade significativa de sites identificados com cidades do interior, reduzindo o chamado “deserto de notícias”.

Tendo o baixo custo tanto para produção como para circulação como o grande diferencial, a internet tem se tornado meio obrigatório para os jornais de modo geral. Há já muitas iniciativas chamadas nativas digitais no Paraná que indicam uma tendência importante para o negócio jornalístico.

O desafio, agora, é qualitativo

Dentre as questões atuais para empresas jornalísticas está o investimento em tecnologia e conhecimento que permitam aos jornais se integrarem ao ambiente digital, fazendo frente à desinformação ou conteúdos que competem pela atenção à informação qualificada. A gestão do negócio jornalístico precisa avançar para a realidade da internet e linguagens condizentes com o público no ambiente digital, cujas faixas etárias mais jovens são vorazes consumidores, porém, muito voltados para o entretenimento.

Por outro lado, a fórmula para o sucesso não é diferente do que já se conhece. É preciso apostar na cobertura dos acontecimentos locais, segmentados, diversificar as fontes de financiamento, baseadas principalmente em assinaturas, e investir na qualidade do trabalho jornalístico. Apesar do crescimento das iniciativas digitais, muitos pequenos negócios jornalísticos são marcados, infelizmente, pela pouca ou nenhuma participação de jornalistas formados, com linhas editoriais comprometidas com interesses particulares de políticos ou empresários.

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