O fascismo bolsonarista tenta sua Marcha sobre Brasília

As cenas de barbárie que vimos ontem são o termômetro do que o bolsonarismo está disposto a fazer para levar adiante seu projeto autoritário

O que esperam os terroristas bolsonaristas que, na tarde desse domingo (08), invadiram e depredaram, criminosamente, o Palácio do Planalto, o STF e o Congresso Nacional? A resposta é enganosamente simples: um golpe de Estado.

E digo “enganosamente simples”, porque o processo que nos trouxe até as cenas lamentáveis de ontem não pode ser compreendido como a irrupção “voluntária” de “patriotas” supostamente indignados com os resultados de uma eleição em que foram derrotados.

A invasão terrorista na Praça dos Três Poderes vem sendo anunciada, planejada e ensaiada há meses. É difícil estabelecer um marco zero, mas a tentativa de golpe começou a ser insuflada, pelo menos, desde quando Bolsonaro não descartou a repetição, no Brasil, da invasão ao Capitólio, há dois anos, caso as urnas consagrassem a vitória de Lula.

A tentativa de golpe começou a tomar forma à medida que, encerradas as votações do segundo turno, hordas de bolsonaristas passaram a invadir ruas e rodovias e a montar acampamento em frente aos quarteis, questionando a lisura e o resultado das eleições e pedindo “intervenção militar”.

É verdade que muitos de nós trataram essas manifestações como expressões de gente desequilibrada, sem contato com a realidade, “louca”. Não eram, nunca foram, apesar dos memes divertidíssimos que circularem pelas redes sociais. Tampouco habitavam uma realidade paralela contra a qual bastava uma “intervenção psiquiátrica”.

O que estava em curso era uma ação criminosa orquestrada que disputava, com a truculência característica dos fascistas, qual realidade prevaleceria: a nossa, democrática e civilizada, ou a barbárie dos que não toleram a democracia e a liberdade e não temem impor sua vontade pela força.

Ao silêncio de Bolsonaro, expressão da sua conivência com as manifestações antidemocráticas, somou-se a leniência das polícias militares estaduais e da Polícia Rodoviária Federal com o avanço do terrorismo, que dia após dia, com violência crescente, deixava cada vez mais transparente suas intenções.

Claro, é possível traçarmos uma genealogia do terror um pouco mais longa. Bolsonaro, afinal, passou todo o seu governo atacando as instituições, desacreditando a democracia, insuflando o ódio e a violência contra a oposição, notadamente a esquerda, e incentivando, inclusive durante a pandemia, manifestações antidemocráticas.

Não apenas. Foram quatro anos aparelhando as forças militares, transformando especialmente as polícias militares e a Polícia Rodoviária Federal – não coincidentemente, as que foram especialmente coniventes com o terrorismo fascista – em braços armados, verdadeiras milícias, do bolsonarismo.

As muitas responsabilidades desse domingo não se esgotam nos terroristas e nas autoridades mais obviamente envolvidas nos atos de vandalismo, caso do governador Ibaneis Rocha e de Anderson Torres, ex-Ministro da Justiça de Bolsonaro e, até ontem, secretário de Segurança Pública do Distrito Federal.

É preciso apurar e responsabilizar os policiais militares que escoltaram os grupos terroristas pelas ruas de Brasílias, despejados às centenas dos ônibus que chegaram, ao longo de vários dias, no Distrito Federal. É preciso investigar, desmascarar e punir os financiadores e mandantes daqueles atos, que nada têm de voluntários e espontâneos.

Não menos importante, fundamental, aliás, é apurar a participação e punir exemplarmente o genocida que desgovernou esse país até uma semana atrás. É dele, principalmente, a responsabilidade pela violência fascista, ainda que, como o grande covarde que é, esteja refugiado em um resort de luxo em Miami.

No pronunciamento em que anunciou Ricardo Capelli como interventor federal na segurança pública de Brasília, Lula prometeu que os envolvido nas manifestações, incluindo seus financiadores, serão identificados e punidos. Trata-se de medida, além de esperada, necessária.

Mas é preciso ir além. As cenas de barbárie que testemunhamos são, em alguma medida, o termômetro do que o bolsonarismo está disposto a fazer, e não apenas com o governo, para levar adiante seu projeto autoritário.

Eles não hesitarão em colocar o país de joelhos, caso acreditem que isso é necessário para concretizarem suas intenções fascistas. Se conseguirão, isso depende em larga medida, da disposição do governo em não conciliar com o terrorismo e os terroristas.

Não há anistia para o fascismo e os fascistas.

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