5 cervejas feitas para o trabalhador

Cervejas feitas para o trabalhador: foto preto e branca antiga com três fazendeiros bebem suas cervejas no campo a frente de uma máquina colheitadeira antiga
Ao longo da história, a cerveja talvez tenha sido a bebida mais próxima do trabalhador. E muitos estilos foram desenvolvidos pensando especificamente nele

Dentre todas as bebidas, a cerveja talvez seja a que sempre esteve mais próxima da classe trabalhadora. Ela foi a grande companheira para festejar ou para o dia a dia em vários momentos ao longo da história. E foram muitas as cervejas feitas para o trabalhador.

A cerveja foi utilizada como parte do salário na Antiguidade, na Mesopotâmia e no Egito. Até na construção das pirâmides havia uma cota diária de cerveja para cada trabalhador.

Os romanos de nascença preferiam o vinho e podiam pagar por ele. Já os trabalhadores não tinham tanto dinheiro. Eles bebiam cerveja, algo aprendido com os povos conquistados pelo império. O exército também, principalmente nas fronteiras do norte da Europa. No auge, ele era composto por mais de 70% de não romanos.

E adivinha o que os trabalhadores bebiam nas fazendas belgas, francesas, nas minas ou durante a Revolução Industrial na Inglaterra?

Separei cinco estilos de cerveja com histórias diretamente ligadas à classe trabalhadora, com dicas de rótulos para experimentar.

Saison

Cervejas do estilo Saison foram desenvolvidas no século 19 para matar a sede dos “saisonieres”, trabalhadores de temporada que chegavam às fazendas do interior da Bélgica na primavera. Para dar conta dessa demanda, os fazendeiros produziam bastante cerveja no inverno e estocavam essas provisões. No interior da França, o mesmo acontecia, mas o perfil das cervejas feitas para o trabalhador era diferente, dando origem ao estilo é Bière de Garde, mais raro de encontrar aqui no Brasil.

Uma boa cerveja curitibana é a Bodebrown Saison de Curitiba, que ganhou medalha de prata este ano no Concurso Brasileiro da Cerveja em Blumenau. É clara, refrescante e fácil de beber. Tem aroma e sabor cítrico, lembrando laranja, e condimentado, como noz-moscada e pimenta-do-reino, com final seco.

Porter

Outro estilo com forte ligação com a classe trabalhadora é o Porter. Atingiu o ápice da popularidade na segunda metade do século 18, durante a Revolução Industrial na Inglaterra. Porter era o nome dado aos estivadores da região do porto de Londres e, gradualmente, começou a designar qualquer trabalhador braçal da cidade. Eles eram os principais consumidores dessas cervejas escuras.

Procure pela Leopoldina Porter, da cervejaria gaúcha de Bento Gonçalves. Ela recebeu a medalha de prata no Concurso Brasileiro da Cerveja 2023, a segunda seguida na categoria. De cor preta, tem sabor e aroma de café, cacau e chocolate, com amargor médio (como um café sem açúcar) e corpo médio-alto.

Ordinary Bitter

Outro estilo inglês de cervejas feitas para o trabalhador foi o Ordinary Bitter. Ele foi criado entre a Primeira e Segunda Guerra Mundial por conta de uma restrição. Para bancar os custos do conflito, o governo sobretaxou o malte e o lúpulo, tornando a cerveja mais cara. Então foram desenvolvidas cervejas com menos dessas matéria-primas, resultando em versões menos alcoólicas e mais leves para atender os trabalhadores que não podiam pagar muito pela bebida.

Uma boa Ordinary Bitter é leve, tem sabores tostados e amendoados dos maltes e leve presença de lúpulo inglês, normalmente herbáceo ou terroso. A Lucky Jack, da cervejaria gaúcha Babel, de Porto Alegre, é um ótimo exemplar desse estilo para você experimentar.

Belgian Pale Ale

O estilo Belgian Pale Ale começou a ser desenvolvido pelos cervejeiros belgas no século 18, inspirado nas Pale Ale inglesas. Ele utilizava os maltes âmbar e cobre, principal novidade da época, mas a fermentação permanecia sendo feita com a levedura tradicional belga — trazendo um aspecto muito mais frutado e condimentado que na versão britânica.

O principal alvo eram os trabalhadores das cidades belgas. A cerveja importada Kwak é um ótimo exemplo. Foi desenvolvida por Paul Kwak, que também desenvolveu a ideia do seu copo especial de fundo redondo e que não para em pé. Ele era usado para servir a cerveja aos cocheiros das carroças, que por força de lei não podiam abandonar seus postos enquanto os patrões bebiam nos bares. Foi feito para ser encaixado num suporte de madeira ao lado dos veículos.

Gose

Dentre os estilos de origem alemã, a cerveja Gose é uma das mais exóticas. É ácida e salgada. O estilo teria nascido para matar a sede dos trabalhadores das minas no século 15 (ou até antes) na cidade de Goslar. O território é cortado pelo rio Gose, que tem água salobra e deixava a cerveja salgada. Mas ele sumiu, sendo retomado em Leipzig no século 19, onde ficou muito mais popular. Mesmo assim, chegou a desaparecer completamente, sendo recuperado no final do século 20.

A versão tradicional é mais difícil de encontrar. É chamada de Leipzig Gose, sendo leve, ácida, suavemente salgada, com adição de sementes de coentro. Já a versão moderna, chamada de Contemporary Gose, pode levar frutas e outros condimentos. Ficou bastante popular recentemente por conta da criação das American Sours, cervejas ácidas modernas. Experimente a Suricato Goiabinha, uma Gose com goiaba.

Qual vai ser a sua escolha para brindar nesse feriadão?

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