O estranho dia em que os chiliques de um bolsonarista uniram a Assembleia do Paraná

O clima foi tão esquisito que ouviu-se Nelson Justus falar em ética e Denian Couto pedir sensatez

O tom cada vez mais agressivo dos discursos de alguns deputados estaduais levou a uma curiosa união da Assembleia Legislativa nesta quarta (18). Gente das mais diversas tendência subiu à tribuna e usou o microfone para dizer que ninguém aguenta mais ouvir todos os dias os mesmos discursos sobre lulismo, bolsonarismo e até sobre questões mais sérias, como a crise no Oriente Médio.

A história começou depois de mais uma longa ladainha do deputado Missionário Ricardo Arruda, um bolsonarista que todos os dias, sem falta, sobe à tribuna para falar do “ex-presidiário Lula” e comentar assuntos de Brasília sob uma ótica muito particular. Nesta semana, por exemplo, ele defendeu que “os patriotas” do 8 de janeiro deveriam estar soltos porque “há vídeos” deles limpando o Palácio do Planalto, atacado por “infiltrados da esquerda”.

Quando Arruda começou de novo a falar coisas sem sentido, Luiz Claudio Romanelli, líder do PSD, pediu uma questão de ordem e exigiu que se cumprisse o regimento da Assembleia, que não permite injúrias contra autoridades constituídas – no caso, o presidente Lula. Não adiantou nada. Arruda continuou mentindo, inclusive dizendo que Lula tinha sido condenado em terceira instância, algo que nunca aconteceu.

O clima mudou quando Romanelli subiu à tribuna e, ao invés de desancar, xingar, chamar Arruda de investigado por corrupção (algo que de fato ele é), preferiu dar uma de lorde inglês e pedir que se restabelecesse um padrão mínimo de comportamento. Pediu que a Assembleia voltasse a ser o que já foi – veja bem que o parâmetro não era alto, mas passou a gerar nostalgia.

A partir daí foi uma goleada. Um a um os deputados e deputadas elogiavam Romanelli e diziam que também não aguentavam mais os chiliques diários que vinham sempre dos mesmos poucos nomes na tribuna. A coisa foi andando de tal jeito que o pessoal se empolgou e logo se ouviu Nelson Justus defendendo a ética e Denian Couto pedindo sensatez.

Claro que dificilmente Arruda e seus congêneres se emendarão e já na segunda deveremos de novo ter mentiras e destemperos na sessão. Mas pelo menos o pessoal da lacração tomou uma discreta e dolorosa lambada nas costas.

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