O bolsonarismo virou caso de psiquiatra

É absolutamente impossível o diálogo. Agora, já com o governo eleito, diplomado, empossado e (vejam só) governando, eles decidem que é hora de invadir tudo e acham que estão "dentro das quatro linhas"

Tem uma cena famosa do Monty Python, uma luta entre dois cavaleiros medievais, que o Benett gosta de citar. Um deles decepa os braços do outro, depois as pernas, o sujeito fica só tronco e cabeça e, mesmo assim, não se rende. Diz que talvez possa aceitar que foi um empate. O bolsonarismo, como mostra a charge genial do Benett, está mais ou menos nessa situação.

A aflição que as pessoas mais ou menos sensatas sentem vem daí. Não interessa o quanto esteja clara a derrota deles. Esse pessoal parece que simplesmente se recusa a entender as coisas. Eles se recusam a fazer sentido. No mundo louco e paralelo deles, tudo é ao contrário.

O lula ganhou a eleição.
– Ah, não ganhou. A urna estava fraudada.

Não estava, o TSE validou.
– Mas o TSE é parte da conspiração.

O Lula foi diplomado e até tomou posse.
– Ah, mas você viu que a faixa é falsa? Essa posse é fake, moço.

Nem o Bolsonaro acredita mais, acho. O sujeito começou com esse mundo bizarro e incutiu boa parte das loucurinhas na cabeça do pessoal. Mas agora ele diz que perdeu a eleição e os caras não ouvem. Fala que não pode aplicar o tal 142 e ninguém escuta. Ah, claro que o presida não ia poder dizer o que vai fazer, perde o efeito surpresa.

– Ah, claro que o Mito não pode antecipar o que vai fazer.

Mas o STF já disse que o 142 não dá esse poder pro Exército.
– Moço, o STF é parte da Conspiração.

Ei, mas vocês destruíram o Congresso, o Planalto, o STF…
– Nada, foram uns esquerdistas infiltrados.

É absolutamente impossível o diálogo. Agora, já com o governo eleito, diplomado, empossado e (vejam só) governando, eles decidem que é hora de invadir tudo e acham que estão “dentro das quatro linhas”.

Um vídeo de um golpista dentro do plenário da Câmara neste domingo mostrava um policial que facilitou a entrada. E o sujeito, todo feliz, dizia que a polícia estava com eles, com “o povo” (o povo votou foi em Lula…). Para a câmera do celular, ele dizia, irônico: “Será que estamos certos?”

Não é que eles achem que vale a pena quebrar a lei. Eles acham que são a lei. Que a lei está sempre do ladinho deles porque eles são “cidadãos de bem”. E os outros que votaram em Lula (se é que não se trata de uma invenção das urnas eletrônicas), bom, não são cidadãos tão bons assim, então nem é o caso de levar em conta.

Olha, se esse pessoal não é doido, o fingimento é muito profissional. Porque realmente a doideira é maior do que a gente tinha imaginado.

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